© El País O
juiz Sergio Moro no Senado mexicano.
|
Convidado a
visitar o México pela associação civil Mexicanos contra a Corrupção, Moro se
reuniu na segunda-feira com estudantes de Direito de várias universidades.
Também se encontrou com ministros da Suprema Corte de Justiça e deu palestras
no Senado e no Colégio Nacional. Em um rápido encontro com jornalistas, no qual
esteve o EL PAÍS, o juiz detalhou os aspectos fundamentais que permitiram que
a Lava Jato se tornasse o caso judicial mais conhecido da América
Latina, rompendo o pacto de impunidade entre o poder político e as corporações.
“A colaboração de criminosos confessos foi muito importante. Um ex-diretor da
Petrobras revelou os crimes de outro. E isso possibilitou processar um caso
muito maior que revelou todo um sistema criminoso”, explicou. “É importante ter
provas. Não se podem obter sentenças apenas com depoimentos.”
A investigação
contou com a cooperação da Suíça, que forneceu provas aos tribunais
brasileiros. “Eles colocaram condições. Dariam informações sobre pagamentos de
subornos, mas exigiram não processar crimes fiscais com essas provas”, acrescenta
o juiz. O resultado é uma operação que revelou os tentáculos de uma trama que
alcançou políticos e empresários na Argentina, Chile, Colômbia, Equador,
México, Panamá, Peru, República Dominicana e Venezuela. Até hoje chegam aos
seus tribunais depoimentos de funcionários que afirmam ter pagado subornos a
funcionários de outros países para obter contratos e favores de diferentes
governos.
Moro nasceu na
cidade de Maringá (Paraná) em 1972. É casado e tem dois filhos. Estudou Direito
e depois fez concurso para entrar na magistratura em 1996. Sobre ele planou a
figura de Giovanni Falcone, um dos juízes italianos que conseguiu mais de 300
condenações de mafiosos sicilianos nos anos oitenta e noventa como parte da
operação Mani pulite (mãos limpas). “Foi um juiz que me
marcou”, disse. Moro era o mesmo depois de ter lido Excellent Cadavers,
livro sobre a investigação judicial orquestrada pelo magistrado de Palermo,
assassinado em um atentado em maio de 1992. Esse texto, lembrou Moro, foi
levado posteriormente ao cinema no filme Falcone, Um Juiz contra a
Máfia. O próprio Moro será um personagem de ficção. Em 23 de março o
Netflix vai estrear em todo o mundo O Mecanismo, uma série
brasileira inspirada na operação Lava Jato que detalha a investigação policial.
A corrupção não
é uma doença tropical... Não existe nenhum destino manifesto que condene os
países latino-americanos à corrupção”
Os
manifestantes que tomaram as ruas do Brasil em 2016 para mostrar seu cansaço em
relação à corrupção que havia contaminado as altas esferas da política usavam
máscaras e camisetas com seu rosto. Moro, no entanto, minimiza o protagonismo.
“Não foi minha ideia, não pedi”, ri. As sentenças do caso, diz, “não são o
trabalho de um só homem.”
As chaves do
sucesso da Lava Jato são muitas. “O Brasil desenvolveu uma democracia muito
exigente depois dos anos do Governo militar”, afirma. Isso fez com que várias
instituições do Estado tivessem suas bases reforçadas. Entre elas, o sistema de
justiça e a independência interna dos órgãos de investigação. “Tornamos tudo
público para que as pessoas soubessem o que estava acontecendo, que soubesse o
que estava se passando.” A operação foi apoiada pela opinião pública e pela
imprensa local. “Foram determinantes porque evitam a obstrução da justiça. Essa
gente é muito poderosa”, disse em referência aos políticos e empresários
corruptos. “Também foi importante ter um pouco de sorte”, brincou.
Moro retomou na
segunda-feira a mensagem otimista diante de um grupo de senadores mexicanos. “A
corrupção não é uma doença tropical... Não existe nenhum destino manifesto que
condene os países latino-americanos à corrupção.” A figura que ajudou a romper
a inércia da impunidade no Brasil esbanjou otimismo e chamou à ação. “O
presidente do Supremo Tribunal Federal disse que talvez os tempos dos barões da
corrupção no Brasil estejam chegando ao fim... Esse caso deu esperança aos
brasileiros de que as coisas podem mudar, que tudo pode ser alterado quando
existir vontade política.” Os senadores aplaudiram no fim da conferência. O som
dos aplausos não deixou claro se os legisladores estavam aceitando o desafio ou
simplesmente se despedindo de seu convidado.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!