O presidente
da Venezuela, Nicolás Maduro, apresenta
o programa semanal 'Los domingos com Maduro',
em
Caracas (Foto: Miraflores Palace/Handout via
Reuters)
|
No próximo domingo, ocorre a
eleição da Assembleia Nacional Constituinte sob fortes protestos da oposição.
A Venezuela entra em uma semana
decisiva. No próximo domingo (30), será realizada a eleição para escolher os
responsáveis por elaborar a nova Constituição do país. A oposição é contra o
processo e acredita que se trata de uma estratégia do presidente Nicolás Maduro
para se perpetuar no poder. Uma greve geral de 48 horas foi convocada para esta
semana para tentar pressionar o governo.
"Não é o momento de se render
nem de se assustar. Estamos nas horas decisivas e de definição para o futuro do
país", disse hoje o deputado opositor Freddy Guevara, em entrevista como
representante da coalizão Mesa de la Unidad Democrática (MUD).
A nova parasalição convocada pela
oposição deve acontecer entre quarta e quinta-feira. Na semana passada, uma
greve geral de 24 horas teve adesão parcial dos venezuelanos. Houve confrontos
nas ruas e dezenas de presos. Guevara explicou que a ação será uma "greve
geral" apoiada pela principais organizações sindicais do país.
A MUD convocou também uma marcha
em Caracas na sexta, na última tentativa de fazer com que Maduro desista de
realizar a eleição dos 545 membros da Assembleia Constituinte.
"Que fique claro para Maduro
e as Forças Armadas que não vamos nos calar, que não vamos permitir que se
imponha uma fraude constituinte contra o povo", afirmou Guevara.
Ele advertiu, ainda, que se a
eleição acontecer, a oposição se preparará para um "boicote cívico, sem
armas, sem violência, mas com determinação. Não vamos nos deixar escravizar,
vamos brigar". "Que prendam todos nós, a luta deve avançar",
acrescentou.
Esta é "uma semana decisiva
e, aconteça o que acontecer, que toda a Venezuela se levante e não se deixe de
levantar até que a democracia volte para cá. Greve geral e rua sem
volta!", disse Guevara.
Maduro criticou a postura da
oposição. "Seremos implacáveis se pretendem gerar um processo de violência
para tentar impedir o impossível de se impedir."
"Exijo que a oposição tenha
um pouco de honra e que respeite o direito do povo a votar livremente (...) sem
violência", disse Maduro neste domingo em seu programa semanal.
Maduro enfrenta uma crescente
pressão internacional, que inclui ameaças de sanções econômicas do presidente
americano, Donald Trump, e chamados de governos da América Latina e Europa para
que desista da Constituinte.
Mas o presidente está decidido a
levar adiante seu projeto. "Do exterior, a direita imperial acredita que pode
dar ordens na Venezuela, e na Venezuela o único que dá ordens é o povo",
assegurou este domingo, ao iniciar seu programa dominical.
Maduro advertiu os líderes dos
protestos que irão para a prisão uma vez que se instale a Constituinte, em 2 de
agosto, que regerá o país como um suprapoder por tempo indefinido.
A MUD rejeitou participar da
Constituinte, argumentando que esta não foi convocada em referendo e que o
sistema eleitoral é uma "fraude" com a que Maduro busca se aferrar ao
poder, após duas décadas de governo chavista.
Comparecer à eleição seria
legitimar um processo que busca "impor um comunismo na Venezuela",
acrescentou Guevara.
Futuro incerto
O desafio da oposição faz parte de
uma estratégia lançada após o plebiscito simbólico que realizou no último
domingo, em que assegura ter arrecadado 7,6 milhões de votos contra a
Constituinte.
Maduro, de 54 anos e cujo mandato
termina em janeiro de 2019, não reconheceu essa consulta e acusa seus
adversários de promoverem a violência para dar um golpe de Estado com o apoio
dos Estados Unidos.
Segundo o presidente, existem
negociações com a oposição para buscar uma saída para a crise, o que foi negado
neste domingo por Guevara.
Em sua estratégia contra a
Constituinte, o Parlamento juramentou 33 novos juízes do Tribunal Supremo de
Justiça (TSJ), mas o governo não reconhece as nomeações, assim como a própria
corte suprema, que apontou que esse ato constituiu os delitos de "usurpação
de funções" e "traição à pátria".
No sábado, um dos juízes
juramentados pela Assembleia Nacional, Ángel Zerpa, foi preso pelo serviço de
inteligência, o que Guevara qualificou de "terrorismo de Estado".
No sábado foram registrados fortes
distúrbios em uma marcha da oposição, e se teme novos surtos de violência esta
semana. Só na greve de 24 horas da semana passada morreram cinco pessoas.
As Forças Armadas, às que Maduro
deu enorme poder político e econômico, serão mobilizadas em todo o país para
proteger a eleição.
Por France Presse
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