RJTV visitou área de Itaboraí
onde valão continua a pôr população em risco, apesar de projeto ter sido
prometido. Menos da metade das casas do município tem saneamento básico.
O delator Renato Medeiros, que foi
diretor regional da Odebrecht, declarou que a empresa deu dinheiro para
campanhas eleitorais no interior do estado do Rio de Janeiro. Em troca, a
Odebrecht recebeu apoio para a privatização do sistema de saneamento de alguns
municípios. Muitas dessas obras, no entanto, nunca saíram do papel.
Em Itaboraí, segundo o delator, a
tentativa de concessão do serviço não deu certo, mas a empresa chegou a dar dinheiro
ao deputado federal Eduardo Cunha em busca de uma negociação. A
repórter Lília Teles, do RJTV, esteve nesta segunda-feira (16) na cidade, onde
menos da metade das casas está conectada à rede de esgoto.
Nos 92 municípios do estado do Rio
de Janeiro, a rede de saneamento básico alcança uma média de 78,6% dos
domicílios urbanos, segundo o IBGE. Mas, entre as cidades que ficam abaixo da
média, estão Rio das Ostras, com 29,4%; Macaé, com 69%; e Itaboraí, com 40,9%
dos domicílios com esgoto.
Os ex-prefeitos dessas cidades
foram citados na delação de dois ex-executivos da Odebretch. Eles contaram, em
depoimento, que Alcebíades Sabino dos Santos, que era prefeito de Rio das
Ostras, Aluízio dos Santos Junior, de Macaé, e Helil Cardozo, de Itaboraí,
receberam vantagens indevidas diretamente ou através de seus partidos, pagas
pela empreiteira, em troca de obras de saneamento básico que seriam feitas nos
municípios.
O RJTV visitou áreas onde projetos
não saíram do papel. Em Itaboraí, um valão corta uma boa parte da cidade. Há
cerca de cinco anos, o então prefeito, Helil Cardozo, reuniu os moradores do
bairro de Ampliação para apresentar um projeto que ia acabar com o valão, com o
esgoto que cai e com o lixo acumulado. Mas a equipe de reportagem diz que
absolutamente nada foi feito.
'Afilhado' de Cunha
Delator declara que Odebrecht
recebeu apoio para privatização de serviço de saneamento
Helil era um afilhado político de
Eduardo Cunha, como mostrou o RJTV.
"Nesse período em que estive
como diretor regional, Eduardo Cunha procurou Fernando Cunha Reis, que era meu
superior hierárquico, porque tinha relações políticas com ele e reportou ao
Fernando que o prefeito de Itaboraí tinha interesse de privatizar o saneamento
no município (...) No final de junho, recebi uma orientação do meu superior
hierárquico, Fernando Reis, que ele havia recebido uma solicitação de doação de
campanha, para campanha de deputado do Eduardo Cunha, de R$ 300 mil. Esse
pagamento seria feito via caixa 2 (...) Encontrei esse pagamento, ele aparece
com o codinome Calota e teria sido feito no final de julho", diz o
delator, em depoimento.
Rio das Ostras
Em Rio das Ostras, o delator
Renato Medeiros disse que a empreiteira conseguiu fechar um contrato depois de
dar dinheiro ao partido do prefeito, o PSC.
"A PPP [parceria
público-privada] de Rio das Ostras é um contrato antigo da Odebrecht, se
iniciou em 2007, 2006 foi licitação, 2007 comecou o contrato. Essa licitação primeiro
tinha uma fase de construção de 2 anos, depois 15 anos de operação. Em abril de
2013, o prefeito era o Alcebíades Sabino dos Santos, do PSC. Ele tinha um
discurso contrário à PPP e tinha antes da minha chegada feito algumas ações
despropositadas com a intenção de ser contra a PPP. Levei esse tema a Fernando
Cunha Reis, meu superior hierárquico, que identificou na presidência do PSC uma
liderança que pudesse influenciar positivamente. Fernando definiu e determinou
que fariamos contribuições de campanha ao PSC do Rio de Janeiro e com propósito
de evitar essas ações despropositadas do prefeito Sabino pra que ele pudesse
influenciar essa questão.Fernando determinou que fizesse pagamento ao PSC e que
seriam feitos via caixa dois. Foram realizados pagamentos que totalizaram R$
2.750.000 ao PSC que se iniciaram em agosto setembro de 2013 ate junho de
2014."
Macaé
Em macaé, Renato Medeiros afirmou
que a Odebrecht pagou propina ao grupo político do prefeito, Aluízio dos Santos
Júnior, o Dr. Aluízio, em troca da exploração do serviço de saneamento.
"No caso da PPP de esgoto de
Macaé, é um contrato que começou em 2012 e que desde então vem sendo operado
pela Odebrecht, é um contrato de 30 anos que prevê investimento e operação do
sistema de esgoto de Macaé. Na época, o município era governado pelo prefeito
Aluísio dos Santos Júnior. Messa época, a Odebrecht recebeu demanda de
contribuição dos senhores Marcos André Riscado de Brito, que na época ocupava a
função de controlador do município e de Jean Vieira de Lima, que era um dos
procuradores também do município. Essas pessoas se identificaram como
representantes do grupo político do prefeito Aluízio e solicitaram
contribuições. Não falaram especificamente em valores, levei ao Fernando Cunha
Reis e como havia interesse em apoiar o Aluízio nas campanhas, Fernando
determinou que estaria disposto a contribuir com valor em torno de R$ 500 mil
para o grupo político do prefeito. Esses pagamentos foram identificados pelo
codinome Baleia e foram feitos cinco pagamentos. Quatro pagamentos de R$ 90 mil
um de R$ 180 mil."
O que dizem os citados?
A defesa de Eduardo Cunha afirmou
que as alegações feitas pelos ex-executivos da Odebrecht são falsas e
totalmente desprovidas de provas.
Em nota, a assessoria de
Alcebíades Sabino dos Santos nega as acusações e informa que, "caso se
instaure eventual investigação, será confirmada a lisura de sua conduta".
Ainda de acordo com a nota: "... o ex-prefeito Sabino sempre teve as suas
contas aprovadas pela Justiça Eleitoral, não tendo sido atribuído a ele
diretamente a percepção de qualquer vantagem. Por fim, é público e notório o
rigor e a ética que caracterizaram sua relação com a empreiteira e suas
subsidiárias em obras e empreendimentos instalados em Rio das Ostras".
Aluizio Júnior postou um vídeo em
sua página no Facebook em que diz que não recebeu dinheiro “de ninguém”, nem da
Odebrecht. Ele também pede para que todos vejam o vídeo da delação e
"tirem suas conclusões". “Você vai ver alguém que nunca esteve
comigo, alías, numa reunião técnica, que nunca fez trato comigo e que
teoricamente teria dado dinheiro pra uma pessoa cujo codinome é 'Baleia'. Bom,
dá uma olhada nesse vídeo, faça o seu juízo”, diz.
A equipe de reportagem não
encontrou as outras pessoas citadas na reportagem.
Por RJTV
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