© MARCOS
ARCOVERDE/ESTADÃO Cenas foram
filmadas no
Complexo da Maré
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A cena assusta: traficantes sobem
escadarias de uma favela, fortemente armados. De uma janela, um morador faz
imagens pelo celular, e o vídeo viraliza. Nas redes sociais, uma das
publicações chama a atenção para os criminosos que treinam para "ocupação
e resistência nos morros cariocas". "Acha que esses se
entregam?", diz a legenda. O problema é que não são bandidos, mas atores
do longa metragem independente "Rio em Fúria", em fase de produção.
"Colocar a gente como
traficante é um perigo. Essas imagens já estão no exterior. Um amigo recebeu
como 'exemplo do tráfico pesado do Rio de Janeiro'. Meu medo é que traficantes
de facções rivais reconheçam a gente e resolvam se vingar, ou que algum
policial nos reconheça das imagens e tenha alguma reação", afirma o ator
Rafael Loureiro Motta, de 32 anos. Ele aparece no vídeo como um traficante de
cabelos longos e camisa social.
A sequência foi filmada no
Complexo da Maré, em outubro passado. A produção do filme enviou ofício à
polícia, informando sobre a gravação. Também avisou aos traficantes do local.
Mas um morador filmou as cenas e mandou o vídeo para alguns amigos.
O jornalista Fabio Barretto chegou
a postar uma foto da cena e está sendo processado por Motta por danos morais.
"Só a postagem dele teve 2
mil compartilhamentos. Me impressionou ele compartilhar sem apurar, logo um
jornalista. As imagens só não foram parar na tevê porque um produtor do filme
entrou em contato com todas as emissoras e explicou que se tratava de uma cena
para o cinema", afirmou Motta.
O advogado de Barretto, Marcelo
Campello, informou que o jornalista recebeu a imagem de uma fonte e o post foi
apagado assim que foi avisado pela produção do longa de que se tratava de um
filme. Para o advogado, há uma tentativa de tirar proveito de seu cliente.
Motta, que já participou de
produções da TV Record, contou que chegou a ser abordado por um policial
militar. O PM o reconheceu no vídeo.
"Ele não acreditou quando eu
disse que era ator. Outros moradores da Maré confirmaram que eu estava falando
a verdade". Depois disso, ele decidiu registrar boletim de ocorrência.
Também foi reconhecido pelo inspetor que registrou a ocorrência.
Nos últimos dias, as imagens
voltaram a ser compartilhadas. "Tem gente dizendo que o Bope tem que
invadir a favela, que a gente está treinando para invadir a Cidade Alta. Tudo
isso coloca nossas vidas em risco. Eu e mais dois atores moramos na comunidade.
As pessoas deviam ter mais cuidado com o que compartilham", afirmou Motta.
O produtor e diretor André Misse
disse que o filme ainda está em fase de captação de recursos. As imagens
gravadas em outubro eram para um teaser, pequeno trailer, usado para apresentar
a obra para possíveis patrocinadores. "Outros jornalistas voltaram a
compartilhar as imagens. Ainda estamos estudando que medidas tomar",
afirmou.
Para o diretor, o episódio serve
de alerta para aqueles que compartilham histórias sem checar. "Estamos
vivendo a era da pós-verdade. Vale o que está postado nas redes. Só que isso
tem consequências graves sobre a vida das pessoas".
No ano passado, assim que o vídeo
viralizou, moradores de Vitória-ES chegaram a compartilhá-lo, atribuindo a
traficantes locais.
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