Mulheres tentam emplacar
candidatura no Senado, sempre comandada por homens; Eliziane Gama e Soraya
Thronicke montam plano
As senadoras Eliziane Gama (PSD-MA) e Soraya Thronicke (Podemos-MS) tentam emplacar
para a próxima eleição da Mesa Diretora do Senado uma mulher na cabeça da chapa que vai disputar
a Presidência da Casa. A coalizão estudada pelas senadoras tenta romper os 200
anos de comando exclusivo masculino no Senado.
“Temos 200 anos de Senado, e a gente nunca
conseguiu ter uma mulher brasileira presidindo a Casa”, lamentou Eliziane, em
entrevista ao R7. “Nós chegamos a ter uma mulher como presidente da
República, mas há 12 anos sequer temos uma mulher como titular da Mesa do
Senado. Então, esse é um cenário que vai ser mudado.”
Até o momento, o cargo mais alto
que uma mulher chegou na Casa foi o de primeira vice-presidente, em 2012, com a
então senadora Marta Suplicy (PT-SP). Antes disso, apenas duas mulheres
ocuparam espaços de poder na Mesa Diretora: Júnia Marise Azeredo Coutinho
(PRN-MG) e Serys Marly Slhessarenko (PT-MT).
Entre 1993 e 1994, Júnia foi a
terceira secretária da Casa. Três anos depois, ela ocupou o posto de terceira
vice-presidente da Mesa por uma legislatura.
Serys foi segunda vice-presidente
do Senado entre 2009 e 2010. Ela foi a primeira mulher a assumir provisoriamente
a presidência da Casa, em 2010, durante licença do então presidente José
Sarney.
As mulheres conquistaram o
direito ao voto no Brasil há menos de 100 anos, e há apenas 45 anos começaram a
ocupar cadeiras no Senado. Na história do país, apenas 30 mulheres foram
eleitas senadoras.
Eliziane e Soraya fizeram um
acordo para que, até fevereiro de 2025 — quando ocorre a eleição da Mesa —,
quem conseguir o maior apoio assuma a cabeça da chapa e tenha o aval da outra,
apesar de o Podemos já ter comunicado que Soraya será candidata. Partido de
Eliziane, o PSD é a maior bancada da Casa, com 15 senadores.
O PSD também é o partido do atual
presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O senador mineiro, contudo,
indica, nos bastidores, que deve apoiar o senador Davi Alcolumbre (União-AP)
para o posto. Alcolumbre comandou o Senado entre 2019 e 2021 e apoiou Pacheco
para sucedê-lo no início de 2021.
As questões partidárias ainda
estão indefinidas. Apesar do interesse do PSD em manter a presidência do
Congresso, o partido pode não necessariamente apoiar Eliziane. A articulação
política para os cargos da Mesa Diretora costuma priorizar candidatos com
maiores chances de sucesso, em vez de focar na representatividade feminina ou
de outras minorias.
Eliziane diz estar otimista
Segundo Eliziane, apenas uma
“ação bem planejada e muito bem discutida” pode mudar a realidade feminina na
Casa. A senadora, que está licenciada do mandato para comandar a Secretaria da
Juventude no Estado do Maranhão, disse que retornará ao posto nas próximas
semanas e que a proposta de uma candidatura feminina para a Presidência do
Senado “tem a simpatia da maioria das mulheres da Casa”.
“Estou muito otimista, eu acho
que a gente está mais próximo de ter uma mulher na presidência da Casa”, avaliou,
ressaltando também sentir uma “sensibilidade”, com relação ao tema, em partidos
como o PT e o MDB.
A ideia de Eliziane é, em um
primeiro momento, trabalhar com essas legendas e, depois, abrir o diálogo com
partidos considerados mais conservadores. A senadora disse já ter conversado,
também, com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que se comprometeu fazer uma
reunião para debater o tema com ela após as eleições municipais deste ano.
As parlamentares pretendem se
reunir com líderes partidários, em novembro, para construir uma pauta de
interesse da Casa como proposta da candidatura. “A pauta feminina vai estar na
ordem do dia”, afirmou Eliziane.
Em agosto deste ano, Eliziane e
Soraya se reuniram, fora da agenda, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
para apresentar a proposta da candidatura feminina. A senadora relatou que foi
um “gesto importante” e que o chefe do Executivo recebeu a proposta como “um
bom sinal” e “desejou sorte”.
Especialistas falam em reflexo
da sociedade
A cientista política e especialista
em relações institucionais Andresa Porto explicou que, diferentemente dos
senadores, as senadoras enfrentam diversos desafios estruturais e culturais que
dificultam a ascensão delas a posições de lideranças.
“Temos um cenário político ainda
em processo de transformação quanto à representação de gênero e raça”, disse.
“As senadoras enfrentam uma série de desafios estruturais e culturais que
dificultam sua ascensão a posições de liderança, graças, primeiramente, às
redes de poder masculinas. Temos no Brasil uma cultura partidária tradicional,
majoritariamente comandada por homens, e falta de representação de mulheres em
instâncias decisórias dos partidos.”
A doutora em ciência política
Marcela Machado reforçou que a ausência de uma mulher na presidência do Senado
não é por falta de articulação das senadoras, mas por uma cultura política
dominada por homens, que dificulta o acesso das mulheres aos espaços de poder.
“A questão é que a cultura
política predominante, dominada por homens, limita o acesso das mulheres às
redes de poder necessárias para alcançar cargos de liderança. Isso perpetua
estereótipos que subestimam as capacidades das mulheres, especialmente quando
ocupam posições de gestão e liderança”, opinou.
Embora a presença de uma mulher
na Presidência do Senado não garanta que as pautas femininas ganhem mais
destaque, as especialistas apontam que a liderança feminina é frequentemente
associada à redução de conflitos.
“A presença de uma mulher na
presidência do Senado certamente encorajaria outras mulheres a buscar posições
de liderança, desafiando normas culturais e estereótipos de gênero e promovendo
uma sociedade mais igualitária”, concluiu Andresa Porto.
Hellen Leite e Rute Moraes, do
R7, em Brasília
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