Novo adiamento poderia prejudicar séries de dados. Lucas Lacaz Ruiz/AE - 15.8.2010 |
O governo
desistiu de adiar o Censo Demográfico para 2022 e garantiu R$ 2 bilhões na
proposta de Orçamento de 2021 para a realização da pesquisa, a mais detalhada
sobre a realidade de cada pedaço do Brasil e considerada imprescindível para a
definição de políticas públicas.
O governo
cogitou adiar o levantamento para turbinar os recursos para o Ministério da
Defesa. A proposta foi fortemente criticada por economistas e especialistas em
políticas públicas.
O Censo seria
realizado neste ano, mas foi adiado devido à pandemia do novo
coronavírus, já que requer a ida dos entrevistadores a todos os
domicílios do País.
Um novo
adiamento poderia prejudicar as séries históricas de dados, algumas das quais
já estão defasadas porque o IBGE, responsável pelo Censo, não recebeu em 2015 o
dinheiro que bancaria a contagem populacional (uma pesquisa intermediária,
realizadas entre os censos).
O ex-presidente
do IBGE Roberto Olinto disse, há duas semanas, que seria um "escândalo
inaceitável" se o governo decidisse adiar o Censo para 2022 para irrigar
recursos ao Ministério da Defesa. Para ele, o risco de fazer a pesquisa em ano
de eleição é usá-la para fazer propaganda do governo.
"Ter o
Censo também é fazer a defesa do País", afirmou Olinto, que dedicou 39
anos de sua vida ao IBGE, onde foi coordenador das Contas Nacionais por 10
anos, diretor de Pesquisas de 2014 a 2017 e presidente entre 2017 e 2019. Agora
pesquisador associado da FGV (Fundação Getúlio Vargas), ele avisou que o
adiamento da pesquisa traria consequências gravíssimas para os municípios e o
planejamento do País.
Os dados da
população brasileira são atualizados a cada dez anos. Hoje, o que se sabe da
população é com base em estimativa do Censo de 2010. Quanto mais se afasta da
base do Censo, mais impreciso fica o dado para a definição de políticas
públicas, inclusive distribuição de recursos para Estados e Municípios.
Os pesquisados
do Censo visitam a casa de todos os brasileiros para traçar uma radiografia da
situação de vida da população nos municípios e seus recortes internos, como
distritos, bairros e outras realidades. Esse nível de minúcia não é alcançado
em outras pesquisas do IBGE feitas por amostragem, que entrevistam apenas
parcela da população.
A formulação do
Bolsa Família, por exemplo, é baseada em informações sobre as famílias que
estão em situação de pobreza, levantadas a partir de pesquisas como a Pnad, que
traz dados sobre emprego e renda no País. A definição da amostra populacional
que será ouvida na Pnad para fazer o retrato mais fiel possível do País é
guiada pelos dados disponíveis sobre o total da população - ou seja, pelo
Censo.
No caso de
divisão de recursos federais, há casos de municípios que recorreram à Justiça
para tentar ampliar os valores recebidos da União para políticas na área de
saúde, por exemplo. A justificativa é que os dados do IBGE, que só tem
conseguido fazer projeções da população, já não demonstram o real crescimento
do número de pessoas vivendo em determinadas cidades. A pesquisa também é
importante para que empresas possam tomar suas decisões de investimento.
Por Agência
Estado
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