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© Sergio Ambar/TV Brasil
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Ipanguaçu, no
semiárido nordestino, é uma dessas cidades em que os sepultamentos são
anunciados com carro de som na principal via da cidade, dando o nome da pessoa
que morreu, o apelido carinhoso com que era conhecido e o horário
exato em que o corpo será enterrado no cemitério municipal.

Na simpática
cidade da região do Vale do Assú, no Rio Grande do Norte, sob sol escaldante e
temperatura acima de 35 graus Celsius (°C), muitos agricultores vão para o
centrinho vender sua produção. É o caso de Gideão Bezerra, que vende coentro.
“Aqui é agricultura familiar. Lá na propriedade de meu pai se produz coentro,
feijão, milho e manga”.
Mesmo assim,
Gideão não esconde que os grãos, frutas e hortaliças são apenas um complemento.
Neste momento, o que está trazendo recursos para a família é o auxílio
emergencial do governo. “Muita gente daqui tirou, inclusive eu, minha mulher,
minha mãe. Foi muito bom”, afirma.
Ipanguaçu receberá
hoje (21) a visita do presidente Jair Bolsonaro. A cidade tem 15.464
habitantes, sendo que 5.631 recebem o auxílio emergencial - ou seja, 40%
da população. Só neste pequeno município, o governo federal já injetou R$ 10,84
milhões em auxílio, ajudando a economia local. “Ajuda muito, as pessoas
precisam. Foi abençoado”, diz a auxiliar de serviços gerais Damiana Oliveira,
que trabalha no Mercado Municipal.
Andando pela
Avenida Luiz Gonzaga, a principal da cidade, percebe-se que ninguém mais usa
máscaras contra a covid-19. Na última terça-feira (18), a prefeitura
liberou os números da doença em Ipanguaçu. Desde março, foram 280 casos, com 12
óbitos. Entre as pessoas que se contaminaram estava a comerciante Ana Lúcia
Arruda, mas seu relato só ajuda a aumentar ainda mais o descrédito do potiguar
com o vírus. "Eu fui vítima da covid. Eles fizeram o teste e o meu deu
positivo, mas não senti nada. Meu esposo teve só uma dor de garganta. Eu fiquei
isolada e meu filho veio trabalhar no meu lugar.
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| Sergio Ambar/TV Brasil |
Ainda assim, as
2.200 crianças matriculadas nas 11 escolas da rede municipal de ensino estão
sem aulas há cinco meses. A alimentação, porém, é garantida com a doação
de kits de frutas da agricultura familiar. "Fazemos essa
entrega de kits, com mamão, banana, melão, macaxeira. Os
professores mandam atividades impressas para eles e nós mandamos os kits para
prestar assistência”, explicou a coordenadora administrativa da Secretaria
Municipal de Educação, Odailma Siqueira.
Conhecida com a
Capital Nacional da Banana, a produção de frutas é o carro-forte de Ipanguaçu.
No entanto, muitas famílias do semiárido convivem com a falta de água para
manter suas roças e os animais. Uma notícia, porém, vem chamando a atenção dos
moradores: o projeto que fizeram de um poço profundo. "Eu vi nas
redes sociais, conta “Galego”, conhecido vendedor de frangos da Avenida Luiz
Gonzaga.
Na área rural
do município, depois de passar pelas comunidades de Capivara e Língua da Vaca,
a pequena Comunidade de Angélica, com 231 habitantes, viu um poço ser perfurado
pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgão do
Ministério do Desenvolvimento Regional.
Com 143 metros
de profundidade, ele atinge o lençol freático e consegue dar vazão de 30 a 40
mil litros de água por hora. Isso é 30 vezes mais do que a população da
localidade precisa.
“Primeiro
fizemos a limpeza do poço, depois fizemos a análise da qualidade da água, se é
para uso doméstico, para os animais ou se é potável. Fizemos cinco poços
nesta cidade. Esse foi o que teve melhor vazão”, diz o coordenador regional do
Dnocs, José Eduardo Vanderlei.
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| Feira em Ipanguaçu - Sergio Ambar/TV Brasil |
Há várias
cisternas nas comunidades rurais. De 15 em 15 dias, um carro-pipa vem
enchê-las. Fora isso, só a água da chuva, mas no semiárido as águas pluviais
não são tão frequentes assim.
“O poço que
existia estava desmantelado, aí era só carro-pipa. Agora não! Vão instalar
o encanamento. Temos que agradecer a Deus por ter chegado esse poço.
É o que a gente queria muito”, conta o agricultor Francisco de Castro, que
planta feijão, melancia e jerimum, e tem oito crianças em casa.
Sua vizinha, Joana
Darc, está confiante. Ela cria ovelhas, cabras e, “às vezes, cria galinha
também”. Sua preocupação era com os animais. “Seis meses sem água! Os bichos
querendo água e não tinha”, lembra.
Feliz porque
“vai acabar o sufoco” com o poço perfurado bem em frente à sua casa de
pau-a-pique, dona Joana também conseguiu o auxílio emergencial do governo
federal. “Ajudou muito. Resolveu muita coisa”, afirmou.
Nesta sexta-feira
(21), o poço vai jorrar pela primeira vez. Pergunto se posso beber um copo
d´água na casa de adobe. “Amanhã tem água, tem almoço, o que você
precisar", prometeu a esperançosa Joana.
No semiárido
nordestino, longe da correria das grandes capitais, ter direito ao
auxílio emergencial e acesso à água já são motivos suficientes para que o ano
de 2020 – marcado pela pandemia do novo coronavírus – seja um dos melhores dos
últimos tempos.
Por Carlos Molinari
Repórter da TV Brasil
Ipanguaçu (RN)



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