O presidente da República, Jair Bolsonaro. GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO |
Presidente não apresentou
levantamentos estatísticos que comprovam o encolhimento no mercado de trabalho
formal no país nessa magnitude
O presidente
Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira (7) que o Brasil "se aproxima de
10 milhões de pessoas que perderam emprego de carteira assinada", mas não
apresentou os levantamentos estatísticos que comprovam o encolhimento no
mercado de trabalho formal no país nessa magnitude.
"Se
aproxima 10 milhões de pessoas que perderam emprego de carteira assinada",
disse o presidente ao chegar ao Palácio da Alvorada no início da noite. Segundo
ele, dos 38 milhões de autônomos, 80% pederam poder aquisitivo.
Uma demissão de
10 milhões, como citou o presidente, mostraria que a pandemia do novo
coronavírus foi capaz de, sozinha, dizimar praticamente um terço do mercado de
trabalho formal no Brasil. O país tem hoje cerca de 33 milhões de trabalhadores
com carteira assinada.
Ao ser
confrontado pelos jornalistas sobre a origem do número, Bolsonaro disse que ele
foi repassado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e que ele mesmo, o
presidente, tinha se surpreendido. Mas afirmou que tem visto que num pequeno
comércio de cinco empregados, a prática mostra que três têm sido demitidos.
Sobre o dado dos autônomos, Bolsonaro afirmou que era da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), sem entrar em detalhes.
Questionado
sobre a origem do dado e sobre como a equipe econômica avalia tamanho impacto
no mercado de trabalho apesar das medidas adotadas, com recursos públicos, para
manter os empregos, o Ministério da Economia informou que "não irá se
manifestar".
O Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que reúne essas informações e é
mantido pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, está com a
divulgação suspensa porque as empresas estão com dificuldades para enviar os
dados em meio à pandemia e uma mudança nos sistemas da pasta. O último número,
divulgado em janeiro, foi referente ao fechamento do ano de 2019.
O termômetro
mais próximo seria o número de pedidos de seguro-desemprego, que somaram
804.538 entre o começo de março e a primeira quinzena de abril de 2020. Outros
200 mil pedidos devem estar represados devido ao fechamento de agências do
Sine, segundo os próprios técnicos da área econômica anunciaram na semana
passada. Ou seja, pelas números oficiais do Ministério da Economia, o
desemprego como consequência da pandemia teria atingido 1 milhão de pessoas,
aumento de 150 mil em relação ao mesmo período do ano passado.
Já a Pnad Contínua,
pesquisa sobre o mercado de trabalho do IBGE, mostra uma melhora no mercado de
trabalho formal no primeiro trimestre deste ano ante igual período de 2019 - o
dado mais recente divulgado pelo órgão. O número de trabalhadores do setor
privado com carteira aumentou em 178 mil nessa comparação. Na comparação com o
último trimestre de 2019, houve demissão líquida de 572 mil, um movimento
sazonal típico de início de ano após o término das contratações temporárias
feitas no período das festas de fim de ano.
O discurso da
equipe econômica tem ido na direção contrária. Hoje mesmo, o secretário
especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, divulgou vídeo nas redes
sociais comemorando a manutenção de 6 milhões de empregos formais a partir das
negociações para reduzir jornada e salário ou suspender contratos.
O governo prevê
gastar R$ 51,2 bilhões para pagar benefícios aos trabalhadores, numa
compensação pela perda temporária no salário. Com isso, espera que a crise
resulte num número bem menor de demissões, por volta de 3,2 milhões.
A declaração do
presidente foi dada no mesmo dia em que Bolsonaro foi pressionado por setores
da indústria a adotar medidas de retomada da atividade econômica. Ele recebeu
os empresários acompanhado do ministro da Economia, Paulo Guedes. O grupo
seguiu depois a pé para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde se reuniu com o
presidente da Corte, ministro Dias Toffoli.
O presidente
assinou e publicou hoje um decreto que inclui o setor de construção civil e as
atividades industriais no rol de atividades essenciais, que podem funcionar
durante a pandemia da covid-19, desde que "obedecidas as determinações do
Ministério da Saúde". A norma vem num momento em que um número cada vez
maior de municípios tem adotado ou falado em adotar medidas de
"lockdown" (confinamento obrigatório) na tentativa de conter o avanço
da doença.
"Vamos
colocar novas categorias com responsabilidade e observando as normas do
Ministério da Saúde. Porque senão, depois da UTI, é o cemitério, e não queremos
isso para o Brasil", disse hoje o presidente Bolsonaro ao falar do
decreto.
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