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por El Pais Brasil Protesto em Brasília em 2016.
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Apenas 2,2% dos
brasileiros confiam no Governo Federal. Quando se trata do Congresso Nacional e
dos partidos políticos, o percentual é ainda menor: 0,6% e 0,2%,
respectivamente, segundo a última pesquisa CNT/MDA, divulgada em maio. Essa
desconfiança com o mundo político se manifesta também nas pesquisas de intenção
de voto para a presidência da República, que alcança índices recordes nos
levantamentos de todos os institutos. Segundo o Datafolha,
por exemplo, os votos brancos e nulos lideram a corrida presidencial e 33% do
eleitorado não tem candidato nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT), o pré-candidato com mais intenções de voto (30%) — e também a
maior rejeição (46%) —, mas cuja candidatura mal pode ser vista no
horizonte, por conta de sua condenação à prisão em segunda instância.
Nesse contexto, em que os principais candidatos partem de uma rejeição de pelo
menos 40%, o espaço para ampliar o eleitorado se torna mais restrito. E fica
mais fácil machucar as candidaturas dos adversários.
Para o diretor
do Datafolha, Mauro Paulino, a impressão é de que os eleitores mais convictos
são aqueles que não querem votar em ninguém. A esta altura, a persistência de
um terço do eleitorado sem candidato nas pesquisas estimuladas é inédita, o que
pode ser explicado em parte pela ausência de uma candidatura governista forte.
"Quem não tem candidato está buscando algo que passe pela conciliação,
pela clareza na definição e na exposição das propostas, e está cansado dos embates
mais virulentos e que não levam à solução dos problemas urgentes", opina o
pesquisador. Segundo os levantamentos do DataPoder360, o deputado federal Jair Bolsonaro
(PSL-RJ), que lidera as pesquisas presidenciais nos cenários sem Lula, também
se destaca entre os concorrentes pela convicção de seu eleitorado: 77% de seus
eleitores dizem que não trocam mais de candidato.
Assim como o
ex-presidente petista, contudo, Bolsonaro também se destaca nos números de
rejeição (19% no Datafolha). Enquanto favorito no primeiro turno, o capitão da
reserva deve virar alvo de concorrentes diretos, como o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o
ex-ministro Henrique Meirelles (MDB), caso este último de fato siga na
campanha. "Campanha de TV serve para três coisas: preservar a própria
imagem, mudar essa imagem ou derrubar um adversário", resume Marcello
Faulhaber, estrategista da vitoriosa campanha de Marcelo Crivella à prefeitura
do Rio de Janeiro em 2016. Ele lembra que, em 2002, o marqueteiro de José
Serra, Nizan Guanaes, conseguiu tirar o ex-governador Ciro Gomes (PDT) do
segundo turno com uma campanha negativa. Em 2014, foi a vez de João Santana,
marqueteiro de Dilma Rousseff, tirar a ex-ministra Marina Silva (Rede) do
páreo.
"Acho que
Alckmin e Meirelles — se permanecer candidato — vão bater muito em
Bolsonaro, achando que, ao bater, vão ficar com os votos que ele perder",
diz o estrategista. Faulhaber imagina que os atuais 19% de intenção de voto de
Bolsonaro possam cair para 12% ou 13% por conta dos ataques adversários, mas
isso não quer dizer que seriam Alckmin ou Meirelles a colher os votos. Marina
Silva, um candidato indicado pelo PT para representar Lula, Ciro Gomes ou o
senador Alvaro Dias (Podemos-PR) poderiam acabar beneficiados. No caso
específico do PT, a ausência de Lula claramente prejudicaria o partido no
primeiro turno, por conta de sua alta intenção de votos, mas poderia ajudar o
partido em um segundo turno, já que o ex-presidente tem a maior rejeição (46%
além dos 28% que hoje não votariam em ninguém, segundo o Datafolha) e
precisaria de mais da metade dos votos para vencer.
Os partidários
de Lula podem buscar esperança em outra pesquisa, do instituto Ipsos. O
levantamento não afere exatamente intenção de votos, mas a avaliação da conduta
dos presidenciáveis. Na última pesquisa, Lula era desaprovado por 54% dos
brasileiros. É muito, mas é menos do que os 70% que desaprovavam Alckmin ou os
que não aprovavam as condutas de Ciro Gomes (65%), Bolsonaro (64%), Marina
Silva (63%) e Henrique Meirelles (59%). Nessa aferição, é difícil encontrar um
nome que vá bem. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa é
desaprovado por 47%, e o juiz Sérgio Moro, que decide sobre a Lava Jato na
primeira instância em Curitiba, por 55%.
Antipolítica
O cientista
político Antônio Lavareda destaca que o repúdio à política não é um fenômeno
brasileiro — na última eleição norte-americana, tanto Hillary Clinton quanto
Donald Trump tinham rejeições superiores a 50%. "Cresceu o escrutínio, o
exame e a análise dos candidatos pelo eleitorado", avalia. Mas, segundo
Lavareda, à medida que a campanha ocorrer no Brasil, a rejeição deve ceder. "Quando
a campanha começa, a vida pregressa dos candidatos, suas realizações, o que
fizeram de bom ou de mau, tudo passa a ser indicador de caráter dos candidatos
mais importantes, mais que do que sua própria retórica".
O discurso
do outsider, de alguém que não participa do jogo político, parece
desfrutar de uma adesão maior na sociedade, diz Lavareda, que ressalva: isso
não foi o bastante para sustentar na corrida presidencial nomes como o apresentador
Luciano Huck e Joaquim Barbosa. Bolsonaro se vale do discurso, mas tem
décadas de Congresso Nacional. "Em uma eleição geral como a brasileira,
com 20.000 candidatos, fica difícil a emergência de nomes realmente
novos", diz o cientista político, para quem as análises anteriores à
campanha oficial têm sido bem mais dinâmicas do que as variações dos cenários
eleitorais. "Essa articulação política não tem repercussão propriamente
eleitoral. É a propaganda que sistematiza os programas dos candidatos. É a
propaganda que atinge o eleitor".
Rodolfo
Borges
El País
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