O juiz
Sergio Moro durante o discurso aos formandos de 2018
da Universidade de Notre Dame (Foto:
Reprodução)
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Juiz falou a
formandos da Universidade de Notre Dame, onde já discursaram Obama e George W.
Bush.
O juiz Sergio
Moro afirmou neste domingo (20) na cerimônia de formatura da Universidade de
Norte Dame, nos Estados Unidos, "que ninguém está acima da lei" e que
esta é uma lição não só para o Brasil, "mas até para democracias
maduras".
"Nunca se
esqueçam da pedra angular das nações democráticas, que é o estado de direito.
Isso significa que todos têm igual proteção da lei. Isso significa que é
preciso proteger os mais vulneráveis. Mas também significa que ninguém está
acima da lei", disse. "Essa é uma lição não só para o Brasil, mas até
para democracias maduras", emendou.
Moro foi o
principal orador da cerimônia. Antes dele, a função foi exercida pelos então
presidentes dos EUA George W. Bush (2001) e Barack Obama (2009) e pelo então
secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan (2000),
entre outros. Em 2017, o convidado foi o vice-presidente americano, Mike Pence.
Ao apresentar o
juiz brasileiro, o presidente da Universidade, reverendo John I. Jenkins,
lembrou que, no mês passado, o escritor peruano e prêmio Nobel da Paz Mario
Vargas Llosa afirmou que escolheria Moro "sem vacilar um segundo" se
precisasse eleger um brasileiro como exemplo para o mundo.
No discurso,
pelo qual foi aplaudido de pé ao final, Sergio Moro falou sobre o trabalho na
Operação Lava Jato, que disse "não tem sido fácil".
Ele citou o
número de condenados por lavagem de dinheiro e corrupção na Operação Lava Jato
– 157, no total –, e lembrou, sem citar nomes, que entre eles há empresários
das maiores construtoras brasileiras, além de políticos de alto escalão como um
ex-governador (Sergio Cabral, do Rio de Janeiro), um ex-ministro da Fazenda
(Antonio Palocci), um ex-presidente da Câmara (Eduardo Cunha) e "até mesmo
um ex-presidente (Lula)".
"Não tem sido
um trabalho fácil. Velhos hábitos de corrupção sistência e impunidade são
difíceis de derrotar", disse, emendando há "ameaças, riscos e
tentativas de difamação", mas que apesar disso as investigações e
julgamentos continuam.
Moro ainda
classificou a corrupção no país como "vergonhosa", mas destacou como
positivo o endurecimento da lei sobre esses crimes.
"Eu não
sei o que vai acontecer com o futuro do Brasil. Nós podemos sofrer revéses. Mas
eu acredito que nós demos a nós mesmos ao menos uma chance de ter um país
melhor", afirmou.
Moro disse que
o Brasil falhou em "impedir o abuso do poder público para ganhos
privados" e que então a corrupção cresceu e se tornou "disseminada,
endêmica ou mesmo sistêmica".
O juiz diz ter
sido influenciado por outros juízes, como o italiano Givoanni Falcone que
condenou 344 membros da máfia da Scicília, organização criminosa que parecia
"invencível", nas palavras do juiz.
Disse também
ter se inspirado na lei de combate à corrupção americana, elaborada por um
ex-aluno da Universidade de Notre Dame, uma coincidência que chamou de
"mundo pequeno".
Moro citou
semelhanças entre as histórias do Brasil e dos Estados Unidos, como o
sofrimento com a escravidão no século 19 e o fato de ambos os países terem
recebidos milhões de imigrantes de todo o mundo. E elencou diferenças, como a
força economômica e a maturidade da democracia.
Ele destacou
que a última ditadura no Brasil terminou em 1985 e que, "desde então, é
possível dizer que, como vocês aqui, temos os mesmos sonhos de liberdade e
equalidade".
Honoris
causa
Em outubro de
2017, Sergio
Moro havia recebido o Notre Dame Awards, uma honraria concedida pela
universidade a pessoas que são "pilares de consciência e integridade,
cujas ações beneficiaram seus compatriotas", segundo a instituição.
O prêmio existe
desde 1992 e já foi entregue a pessoas como Madre Teresa de Calcutá, o
ex-presidente norte-americano Jimmy Carter e o irlândes John Hume, agraciado
com o Nobel da Paz em 1998.
Na ocasião, o
presidente da Universidade de Notre Dame disse que o juiz está "engajado
em nada menos que na preservação da integridade da nação com sua aplicação
firme e não enviesada da lei".
Neste domingo,
o juiz recebeu da universidade o título de doutor honoris causa, como um
"líder no movimento anticorrupção de seu país".
Por G1
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