© Amanda
Perobello/Estadão O presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), em entrevista ao
'Estado', em 30 de janeiro
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BRASÍLIA -
Aliado histórico do PSDB e na base aliada do presidente Michel Temer, o DEM
decidiu se afastar do governo e dos tucanos numa tentativa de viabilizar a
candidatura do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao
Palácio do Planalto. O nome de Maia será lançado nesta quinta-feira, 8, na
disputa, durante convenção nacional do partido, em Brasília. Com menos de 1% nas
pesquisas de intenção de voto, a candidatura de Maia, porém, é vista com
desconfiança até por aliados, que a interpretam como uma tentativa de o partido
se cacifar nas negociações eleitorais.
O prazo dado
para que o presidente da Câmara consiga se tornar um candidato viável é junho,
quando os partidos têm de realizar as convenções para oficializar os nomes que
entrarão na corrida eleitoral.
Nesta
quarta-feira, 7, na véspera da convenção, Maia fez críticas ao PSDB e ao
pré-candidato tucano, Geraldo Alckmin. “Ele é um bom governador. Mas a rejeição
do PSDB é hoje maior que a do PT, e isso está contaminando a imagem dele”,
disse em entrevista à Rádio Eldorado.
Segundo um
interlocutor do presidente da Câmara, ele teve de aumentar o tom contra o PSDB
após seu pai, o vereador pelo Rio Cesar Maia, dizer publicamente que não
acreditava na candidatura dele à Presidência e que a sua aposta era Alckmin.
Entre os
tucanos, a ordem foi não aumentar a polêmica com Maia para não dificultar uma
reaproximação futura. O próprio Alckmin afirmou nesta quarta-feira, em
Washington (EUA), que respeitava a decisão do DEM de lançar candidato ao
Planalto e que era legítima a aspiração da legenda. Ele lembrou que o DEM é
velho aliado do PSDB e que as duas siglas podem se unir num eventual segundo
turno da disputa.
Nomes do PSDB,
no entanto, admitiram que o posicionamento do presidente da Câmara causou
desconforto. “Essas declarações podem dificultar a aproximação. São um impulso
dele para abrir espaço, mas tem muita gente no DEM com mais temperança. Não é
um bom caminho. É inócuo”, disse o presidente do Instituto Teotônio Vilela
(ITV), José Aníbal.
Já o
distanciamento do DEM em relação ao governo do presidente Michel Temer foi
explicitado pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, que assume nesta quinta-feira
a presidência nacional do partido. “Não vamos aceitar que a candidatura de
Rodrigo seja carimbada como candidatura de governo. Como o partido apoiou o
impeachment, sentiu-se comprometido com esse momento de transição, com essa
agenda que precisava ser colocada na pauta, sobretudo a agenda econômica”, disse
ao Estado.
Apesar das
declarações, integrantes do DEM reconhecem que o afastamento tanto do governo
quanto do PSDB é temporário. Uma eventual aliança no futuro, caso a candidatura
do presidente da Câmara não decole, está no radar da sigla.
Manifesto. Para
embalar a candidatura de Maia à Presidência, o DEM também vai divulgar nesta
quinta-feira um manifesto no qual lista suas prioridades na área econômica e
social para o País. A reforma da Previdência, uma das principais bandeiras de
Maia até aqui, ficou de fora do texto.
O documento,
intitulado “O Brasil que vai dar certo”, critica o PT, não faz nenhuma menção
ao governo Temer e classifica o partido como “centro democrático”, deixando
para trás a roupagem de direita que acompanhou o DEM desde que a legenda se
chamava PFL.
No texto, a
sigla afirma ainda que rejeita extremismos, radicalismos, demagogia e
populismo, “venham de onde vierem”, e que acredita num sistema “liberal e
humanista, baseado na igualdade de oportunidades”, cabendo ao Estado ter um
papel regulatório e incentivador, desde que não “sufoque” esforços individuais
e empresariais.
Recall. Para
o professor Rodrigo Augusto Prando, pesquisador do Centro de Ciências Sociais e
Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maia “busca, ainda que suas
intenções de voto sejam pífias, cacifar-se para a corrida eleitoral”. “Rodrigo
Maia almeja o Planalto, mas pode, no fundo, desejar o governo do Rio de Janeiro
ou uma reeleição para a Câmara bem expressiva, dando a ele um maior recall para
futuras disputas”, disse o professor.
Segundo Prando,
ao afirmar que a polarização entre PT e PSDB não pode continuar, Maia quer,
assim, apresentar-se como uma “terceira via”. “Mas essa imagem não colará,
ideologicamente, no candidato do DEM, que sempre esteve mais alinhado aos
postulados tucanos. Arrisco-me a crer que o DEM e Maia estarão, já no primeiro
turno, no palanque do candidato do PSDB, provavelmente de Alckmin”, disse o
professor. / COLABORARAM PEDRO VENCESLAU, ADRIANA FERRAZ e CLÁUDIA
TREVISAN
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