© BBC Professora
aposentada apresentou sintomas de reação
à vacina no dia seguinte à visita ao posto de
saúde em Ibiúna
| Foto: Arquivo Pessoal
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Mônika começou
a sentir-se mal no dia seguinte à visita ao posto de saúde Dr. Darcy Bandeira.
Com muito cansaço, febre, fraqueza e falta de apetite, ela foi levada a um
pronto-socorro, onde familiares afirmam que ela apenas recebeu soro.
Seu quadro não
melhorou, e ela foi para a cidade de São Paulo, a 75 km de Ibiúna, para ser
examinada no Hospital do Servidor.
"No
hospital, remontaram seu histórico clínico, pediram exames e diagnosticaram uma
reação muito forte à vacina, dizendo que o corpo dela estava manifestando
sintomas da doença", diz sua sobrinha-neta, Bianca Wiederin, de 28 anos,
que acompanhou Mônika em sua internação em São Paulo.
"Como o
funcionamento do fígado e dos rins foi comprometido, ela foi para a UTI, onde
uma equipe de infectologistas assumiu e fez o mesmo diagnóstico."
Internada no dia 14, Mônika teve de ser entubada no dia seguinte e morreu no
dia 16.
No documento do
hospital que acompanhou o corpo, enviado ao Serviço de Verificação de Óbito,
está escrito na última linha: causa possível - febre amarela, reação vacinal.
O laudo da
morte da aposentada lista, entre os diagnósticos, hemorragia pulmonar, hepatite
aguda, icterícia febril e febre hemorrágica, sintomas da doença viscerotrópica
aguda (DVA), uma reação à vacina em que o paciente desenvolve um quadro
semelhante ao da doença até dez dias após ser imunizado. Além disso, ela sofria
de obesidade, arteriosclerose, diabetes e hipertensão.
Estima-se que
ocorra um caso de DVA para cada 400 mil doses aplicadas, segundo a Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Segurança e
recomendações
A vacina contra
febre amarela é considerada altamente segura e, atualmente, é recomendada para
quem tem entre nove meses - ou seis, em áreas consideradas de alto risco - e 59
anos de idade. Acima dessa faixa etária, o paciente deve se consultar com um
médico para avaliar o estado do sistema imunológico e se o risco de contágio é
alto ou não antes de se vacinar.
© BBC Documento
do hospital aponta como
causa possível
da morte:
febre amarela, reação vacinal
| Foto: Arquivo Pessoal
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Segundo a
Fiocruz, o risco de reação adversa é ainda maior para quem tem acima de 70
anos, como era o caso de Mônika. Diabéticos e hipertensos como a aposentada não
têm contraindicação para a vacina desde que estejam com os níveis de glicemia e
pressão controlados.
"Para mim,
por questões de saúde e da idade, está claro que era contraindicado ela se
vacinar", diz Bianca. "Mas uma senhora, longe da família, foi tomar.
O posto não deveria ter vacinado sem entender o histórico dela."
À BBC Brasil, a
coordenadora de vigilância epidemiológica de Ibiúna, Elisângela Cardoso Pires,
explicou ser "impossível" que a aposentada não tenha passado por uma
avaliação ou triagem no posto de saúde.
"Fazemos
uma reunião uma vez por semana com enfermeiros e auxiliares de enfermagem, que
prestam o atendimento nos locais de vacinação, para reforçar os
critérios", afirmou Pires.
A coordenadora
disse ainda que Ibiúna foi considerada uma área de risco pelo Grupo de
Vigilância Epidemiológica de Sorocaba [ligado à Secretaria Estadual de Saúde de
São Paulo]. "A região é cercada por mata e tem muitos cursos d'água. Além
disso, tivemos cinco casos confirmados de macacos mortos com febre amarela em
locais distantes entre si."
Segundo Pires,
isso significa que a aplicação da vacina em idosos dispensa a apresentação de
uma carta de avaliação médica atestando o bom estado de saúde do paciente,
informação confirmada pelo governo estadual. Logo, bastaria uma avaliação de
saúde no momento da imunização e no próprio local de vacinação por um
enfermeiro.
A Secretaria
Estadual de Saúde de São Paulo disse à BBC Brasil desconhecer o caso e informou
que cabe aos municípios investigarem os casos de morte pela doença.
"De 2017
até o momento, houve 40 casos autóctones de febre amarela silvestre confirmados
no Estado. Vinte e um deles evoluíram para óbitos. Não há casos de febre
amarela urbana no Brasil desde 1942", disse em um comunicado enviado à BBC
Brasil.
Custo-benefício
Em pacientes
com um sistema imunológico sadio, a vacina estimula o corpo a produzir
anticorpos, para que, se houver um contágio, seu organismo seja capaz de
combater a doença.
Mas, por ser
feita a partir de vírus vivos atenuados, em determinados grupos de pacientes,
como quem está com a imunidade debilitada ou tem alergias a elementos do ovo de
galinha, usado em sua produção, a vacina pode causar problemas graves, como a
DVA.
"É algo
muito raro, mas pode ocorrer. São pouquíssimos casos em que essa reação leva ao
óbito", diz Akira Homma, consultor científico sênior da
Bio-Manguinhos/Fiocruz, ressaltando que "o custo-beneficio da vacinação é
absurdamente claro". "É muito melhor se vacinar do que ter a
doença."
De acordo com
os índices oficiais de incidência do governo, em um universo de 20,6 milhões de
pessoas imunizadas - a meta estabelecida pela campanha do Ministério da Saúde
para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia -, 51 poderão ter esta
reação grave, ou 0,00025% dos pacientes.
Por sua vez, o
grau de letalidade da febre amarela silvestre foi de 51% entre 1980 e 2004, de
acordo com dados do governo. Isso significa que cerca de 10 milhões de pessoas
correriam risco de morte em um cenário de epidemia em que todas as 20,6 milhões
de pessoas fossem contaminadas.
Desde o início
do surto, em 1º de dezembro de 2016, até 1º de agosto de 2017, foram
confirmados 777 casos e 261 óbitos por febre amarela. Do meio do ano passado
até o último dia 14, foram 35 casos - os números podem crescer, já que vários
casos suspeitos estão em investigação.
O governo ainda
analisa se classifica o quadro atual como um surto. Oficialmente, trata como um
aumento atípico de casos, uma situação que gerou alarme e fez muitas pessoas,
como Mônika, procurarem os serviços de saúde para se proteger.
"Minha
mensagem é para tomarem cuidado com os idosos", diz a sobrinha-neta da
aposentada.
"Uma
senhora deveria ser aconselhada a procurar seu médico para ver se poderia tomar
a vacina. Quero mais pessoas informadas, porque as pessoas no próprio posto às
vezes não estão preparadas."
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