© REUTERS O
presidente Michel Temer no dia 23.
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Um partido que
parece em vias de implosão. O PMDB que na véspera do impeachment
de Dilma Rousseffsimulava estar unido, certo de que teria um candidato à
presidência em 2018, agora mal consegue reunir sua diretoria para um encontro
anual da legenda. Por duas ocasiões alterou a data dessa reunião. Está marcada
para 19 de dezembro, um período em que Brasília provavelmente terá pouco
movimento de políticos por causa do recesso de fim de ano. Oficialmente, o
encontro tem na pauta alguns pontos significativos. O primeiro deles visa
definir a mudança do nome da legenda – retomando o antigo MDB dos fins da
ditadura militar, quando havia apenas o bipartidarismo. O MDB representava os
anseios do povo, contra a Arena, que somava apoiadores do governo militar. “Se
o MDB antigo fez a redemocratização do país, o MDB novo pode fazer a
reconstrução social e econômica do país”, disse neste sábado o senador Romero
Jucá, em Porto Alegre. “Queremos deixar de ser partido para ser um
movimento, algo mais forte, mais permanente”, disse ainda Jucá,
conforme o jornal Folha de S. Paulo.
O encontro de
dezembro prevê, também, a alteração no estatuto para decidir como será a
distribuição dos recursos para as campanhas eleitorais, além da contratação de
uma empresa de auditoria para criar novas regras que possam combater a
corrupção no partido, acusado de compor um "quadrilhão no
Congresso". Nos bastidores, contudo, o que se fala é que a direção,
alinhada com o governo de Michel Temer, pretende concentrar toda a arrecadação
de recursos na campanha para distribuí-la da maneira que bem entender para os
diretórios estaduais. Dessa maneira, os peemedebistas que estiverem mais
afinados com o discurso governista tendem a receber mais recursos. Pelo atual
estatuto do PMDB, são os diretórios estaduais que decidem a destinação dos
valores arrecadados. “Me parece que há uma tentativa de concentrar o dinheiro
do fundo partidário na executiva nacional. E essa conversa de mudar de nome é o
mesmo que mudar o nome de Jucá para Caju. Não adianta nada”, afirmou em
tom irônico o senador Roberto Requião, em referência ao presidente interno da
legenda, Romero Jucá. Requião é um dos integrante da legenda que compõe o grupo
de oposição a Temer e seus aliados.
Essas
contradições internas e um crescente movimento opositor podem resultar em um
efeito de esvaziamento da reunião nacional da legenda. Diretórios como do
Paraná, Pernambuco e Santa Catarina, por exemplo, ameaçam não comparecer ao
encontro. Se forem seguidos por outros, corre-se o risco de não haver quórum
mínimo para deliberações. Quatro dirigentes opositores a Temer consultados pela
reportagem disseram que ainda vão pensar se estarão na reunião. Tentarão
conciliar com suas agendas locais. É um claro discurso de inconformismo com os rumos
do partido.
Um exemplo
dessa insatisfação ficou expresso no diretório de Pernambuco. Comandado pelo
vice-governador Raul Henry, que é do grupo político do deputado federal e
ex-presidente do PMDB Jarbas Vasconcelos, o diretório pernambucano quase sofreu
uma intervenção nacional nas últimas semanas. O objetivo do presidente em
exercício da executiva nacional, o senador Romero Jucá, era entregar a direção
estadual para o senador Fernando Bezerra Coelho. A razão é porque Jarbas
Vasconcelos tornou-se uma pessoa mal quista pelo Governo após votar duas vezes
a favor da abertura de investigações contra Temer. Recém-filiado ao PMDB,
Coelho deixou o PSB visando tomar a direção estadual. Até agora, não obteve
êxito porque duas decisões judiciais impediram a intervenção.
Se já não
bastasse a tentativa de tomada de poder em esfera estadual, o PMDB contraria o
seu discurso de implantar uma política de “compliance” e ainda mantém em seus
quadros políticos que foram condenados por crimes como corrupção e lavagem de
dinheiro. Por outro lado, expulsa ou ameaça de punição filiados que contrariam
o Governo Michel Temer. Nesta semana, a senadora tocantinense Kátia Abreu foi
expulsa da legenda sob a acusação de ter violado o Código de Ética e Fidelidade
Partidária e o Estatuto do PMDB.
Ex-ministra de
Dilma Rousseff (PT), Abreu votou contra a reforma trabalhista de Temer e
anunciou que será contrária à reforma da Previdência. "A Comissão de
'Ética' do PMDB decidiu pela minha expulsão do partido de Ulisses Guimarães e
Tancredo Neves. Fui expulsa exatamente por não ter feito concessão à ética na
política. Fui expulsa por defender posições que desagradam ao governo. Fui
expulsa pois ousei dizer não a cargos, privilégios ou regalias do poder",
disse Abreu, em nota à imprensa. Ela ainda ironizou o fato de a Comissão de
Ética do partido não ter aberto processo contra membros da legenda que estão
presos por corrupção numa clara alusão a Geddel Vieira Lima.
Mais um
senador, o paranaense Roberto Requião, e outros cinco deputados federais podem
ter o mesmo rumo, já que ou foram contrários às reformas do Governo ou votaram
pela abertura de processos criminais contra o presidente. Enquanto isso,
figuras como os ex-deputados Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures, Geddel e
Henrique Eduardo Alves, todos presos pela operação Lava Jato e intimamente
ligados a Temer, seguem filiados ao partido. Destes quatro, apenas Geddel
sofreu alguma punição, está afastado cautelarmente por 60 dias.
Urnas de 2018
Entre os
peemedebistas não há um consenso sobre qual será o destino do partido. Os
escândalos de corrupção envolvendo a cúpula do PMDB do Rio de Janeiro serviram
para reforçar o desgaste que o partido tem sofrido. Em quase todos os Estados
em que ocupa o cargo de governador ou em que o partido já teve papel de destaque
há algum entrevero que pode refletir nas eleições do ano que vem. Nesse
cenário, surge uma dúvida entre os dirigentes peemedebistas: quem será o
defensor do legado de Temer no próximo pleito?
Romero Jucá,
presidente em exercício do diretório nacional do PMDB, já avisou que, se nenhum
partido aliado se comprometer em defender Temer (que afirma que não disputará a
reeleição) os peemedebistas lançarão um nome, ainda que sem chances de vitória.
Procurado, ele não atendeu a reportagem do EL PAÍS.
Com sete governadores
eleitos em 2014, quatro já foram citados em casos de corrupção. No Rio, as
gestões Sergio Cabral e Luiz Fernando Pezão, somadas à máfia implantada na
Assembleia Legislativa pelo deputado Jorge Picciani, praticamente sepultaram o
partido. Em Mato Grosso, o ex-governador Silval Barbosa tornou-se um réu
confesso de corrupção e delator da Justiça após ficar quase dois anos preso. No
Mato Grosso do Sul, o ex-governador André Puccinelli foi preso no início de
novembro, quatro dias antes de ele assumir o diretório regional do partido.
Contra Puccinelli, pesa a suspeita de que comandava um esquema de desvio de
recursos. Em Rondônia, Confúcio Moura é investigado por participar de uma
organização que desviou 57 milhões dos cofres públicos. No Tocantins, Marcelo
Miranda é suspeito de compor uma quadrilha que lavou mais de 200 milhões de
reais.
A situação é
complicada ao ponto de até mesmo em Estados em que não apareceram graves
desvios de conduta os peemedebistas deixam claro essa insatisfação. No Espírito
Santo, o governador Paulo Hartung já anunciou que deixará a legenda por
entender que o PMDB agora é apenas uma “confederação de interesses regionais” –
ele aparece como receptor de 1 milhão de reais da Odebrecht em anos que não
disputou eleições. No Rio Grande do Sul, outro peemedebista, o governador José
Ivo Sartori, foi eleito escondendo o nome de seu partido em 2014. Mas era o
anti-PT. Hoje, evita falar de candidatura à reeleição, principalmente porque
sua administração é rejeitada por 50,5% da população. Ainda assim, é líder em
um cenário e vice-líder em outro pesquisado.
Com a falta de
união, em algumas regiões do país, o PMDB acaba sendo empurrado a se
reaproximar do PT. Principalmente na região Nordeste, peemedebistas têm
defendido a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência. Isso ocorre
claramente no Ceará, em Sergipe e em Alagoas. Presidente do Senado, o cearense
Eunício Oliveira, disse que poderia votar em Lula, caso não haja um consenso na
legenda. O governador sergipano Jackson Barreto segue o mesmo discurso e já
ameaça sair do partido por entender que “o PMDB nacional que tem hoje o governo
do país não está correspondendo à história do governador do PMDB”. Enquanto que
o senador alagoano Renan Calheiros, que já foi aliado de Temer, tem defendido
Lula com unhas e dentes em seu Estado, e se contrapõe reiteradamente contra os
planos do presidente. No caso de Calheiros, seu objetivo é buscar a sua
reeleição e a de seu herdeiro, Renan Filho, que governa Alagoas. Assim, mesmo
com o sonho de querer unir a legenda rebatizando-a de MDB (Movimento
Democrático Brasileiro), o grupo continuará partido, rachado, dividido.
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