Festival de
comida venezuelana em Lima, onde refugiados
da crise
apresentaram comidas típicas (Foto: DM/E. Vannes)
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Em poucos meses, Lima emitiu 11
mil vistos de trabalho para cidadãos do país vizinho que fugiram da crise
econômica e política. Muitos imigrantes se tornaram empreendedores em solo
peruano.
Max Coloma, de 33 anos, divide um
pequeno apartamento no distrito de San Martín de Porres, um dos bairros mais
pobres da capital peruana, Lima. Ali, a criminalidade prospera especialmente
após o anoitecer. Mas para o ex-advogado, não importa: em comparação à sua
Venezuela de origem, onde a fome e a violência empurraram o país para a beira
do colapso, as ruas de Lima são o paraíso. Ao menos, é possível caminhar no
Peru sem temer pela própria vida.
Quando chegou ao Peru, há dois
anos, Coloma começou a fazer arepas para vender – uma espécie de pão de farinha
de milho, vendido na Venezuela em toda parte. Esperando em pontos de ônibus e
outros lugares movimentados, Coloma começou a vender a tradicional iguaria
venezuelana a transeuntes.
Seu empreendimento evoluiu para um
serviço de entregas. Simples sanduíches se transformaram num tipo único de
comida fusion, mesclando a cozinha peruana com receitas de seu país de origem.
"No começo, os peruanos
desconfiaram um pouco da minha comida. Acho que eles são um pouco esnobes,
muito orgulhosos de seus pratos tradicionais", ri Coloma. "Mas uma
vez que eles experimentaram, começaram a gostar de verdade. Agora, minhas
entregas são divulgadas principalmente por propaganda boca a boca", disse
o venezuelano à reportagem da DW.
A história de Coloma é apenas um
de vários exemplos das habilidades empreendedoras dos milhares de venezuelanos
que recentemente chegaram ao Peru, onde tentam ganhar a vida. Fugindo da
repressão a opositores e das dificuldades no país de origem, os venezuelanos
são bem-vindos no país andino.
Max Coloma
prepara arepas (pão de farinha de milho) em
sua cozinha em Lima (Foto: DM/E. Vannes)
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Em fevereiro deste ano, o Peru
emitiu uma primeira série de permissões temporárias de trabalho para todos os
venezuelanos residentes no país naquele momento – assim, deu aos imigrantes a
oportunidade de criar uma empresa ou conseguir um trabalho. Esses Permisos
Temporales de Permanencia (PTP) fizeram com que os venezuelanos tivessem a
possibilidade de trabalhar legalmente no Peru por um ano, após o término do
qual eles podem pedir uma extensão.
Venezuelanos sem fichas criminais
e que entraram no país legalmente são os que podem pedir as autorizações para
trabalhar. Inicialmente, o Peru planejava emitir 5 mil vistos, mas segundo
estatísticas do governo, mais de 11 mil venezuelanos já receberam o visto de
trabalho após a primeira extensão.
Preferência política não
importa
"É interessante perceber que
vários venezuelanos que agora vêm ao Peru têm antepassados peruanos que fugiram
da guerra civil nos anos 1980", diz Oscar Pérez Torres, um ex-político que
vive exilado no Peru desde 2009 [ele não tem relação com Oscar Pérez, policial que roubou um helicóptero e atirou
no Supremo Tribunal de Caracas, em junho deste ano].
Pérez, que se tornou um porta-voz
para a diáspora venezuelana no Peru, tem contato direto com o presidente Pedro
Pablo Kuczynski para defender seus conterrâneos junto ao governo em Lima.
Num domingo recente, Pérez foi a
um festival de comida venezuelano em Lima, onde cerca de 20 empreendedores como
Coloma compartilharam sua comida, bebidas e artefatos venezuelanos com os
visitantes. Um exemplo do reinício da vida no novo país.
"As preferências políticas
não importam na diáspora venezuelana no Peru", diz Pérez, fazendo alusão à
forte divisão, na Venezuela, entre um grupo de chavistas pró-governo, que vem
diminuindo, e manifestantes antigoverno nas ruas. "No final, todo mundo
concorda que é importante ganhar a vida normalmente, e isso não é mais possível
na Venezuela."
Oscar Pérez
(centro) é líder da diáspora venezuelana
no Peru
(Foto: DW/E. Vannes)
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Vontade de recomeço
Segundo Pérez, existe uma grande
necessidade para vistos de trabalho adicionais por causa do número crescente de
venezuelanos que chegaram ao Peru nas últimas semanas, e por causa da
expectativa de mais refugiados devido ao aumento da violência na Venezuela.
Para Pérez, "o bom é que o Peru realmente tem a capacidade de acolhê-los,
e também há vontade para fazê-lo".
Coloma diz que ficará no Peru,
tentando mudar dos serviços de entrega de comida para a abertura de um
restaurante de comida fusion, que combina ingredientes e receitas de várias
tradições culinárias do mundo. Mesmo que o governo do presidente Nicolás Maduro
caia e que a Venezuela volte à estabilidade política, Coloma acredita que houve
tantos danos à sociedade que o país levará pelo
menos dez anos para se
recuperar.
"Tenho que ser
realista", diz. "Esses são os anos mais produtivos da minha vida.
Agora, estou construindo algo aqui em Lima e se eu tivesse que deixar tudo isso
para trás para começar tudo de novo, do zero, seria um problema."
Por Deutsche
Welle
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