Manifestante
participa de ato pelas vítimas de violência
durante
protestos contra o governo em Caracas, na
Venezuela, em 24 de julho (Foto:
Reuters/Ueslei Marcelino)
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Decisão foi tomada na quarta-feira
(9), último dia para fazer as inscrições. Objetivo é forçar Maduro a realizar
eleições em dezembro, como ele prometeu.
A oposição venezuelana decidiu
nesta quarta-feira (9) participar das eleições de governadores, em meio a
acusações de fraude na Constituinte do presidente Nicolás Maduro, que motivaram
novas sanções dos Estados Unidos.
A decisão foi tomada no último dia
para a inscrição na disputa por 23 cargos executivos estaduais e assembleias
regionais.
"Acordamos por consenso
pré-inscrever candidatos para as eleições regionais", afirmou em um
comunicado, divulgado na quarta, a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), que viu vários de seus dirigentes
inabilitados a se candidatar.
A aliança explicou que a sua
decisão tem a intenção de pressionar Maduro e o poder eleitoral para que
cumpram com a palavra de realizar as eleições em 10 de dezembro. Se não o
fizerem, "que paguem o preço", assinalou o dirigente Andrés
Velásquez, em coletiva.
Não foi uma decisão fácil para a
MUD, que reúne cerca de 30 partidos com diferentes tendências políticas e que
se juntaram em 2008 para enfrentar o chavismo, no poder desde 1999.
"É uma forma de luta e não
assumi-la é a melhor maneira de convalidar e fortalecer a ditadura",
justificou-se, advertindo que os protestos para exigir eleições gerais
continuarão.
Os quatro meses de manifestações
deixaram 125 mortos e nas últimas semanas notou-se uma diminuição na
participação.
As eleições regionais deveriam ter
acontecido no fim de 2016, mas o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) as adiou sem
motivos.
Acusado de servir ao governo, o
CNE também suspendeu em 2016 o trâmite para um referendo revogatório do mandato
de Maduro, por ordem dos tribunais regionais.
Mais sanções
O anúncio da Mesa da Unidade
Democrática coincidiu com as sanções do Departamento do Tesouro americano,
nesta quarta-feira, ao irmão mais velho do presidente falecido Hugo Chávez e a
outros sete políticos por sua relação com a polêmica Assembleia Constituinte,
em vigor desde a sexta-feira com poderes absolutos e que enfrenta um amplo
repúdio internacional.
As sanções contra Adán Chávez e
outros sete políticos chavistas implicam no congelamento dos bens que tenham
nos Estados Unidos, e na proibição a cidadãos americanos de fazer negócios com
eles.
Washington já sancionou Maduro, 13
funcionários e ex-colaboradores do presidente, acusados de quebrar a
democracia, corrupção e violação dos direitos humanos.
A lista aumentou depois que 12
governos da América condenaram Maduro, na terça-feira em Lima, por uma
"ruptura" da democracia e desconheceram a Constituinte, também
rechaçada pela União Europeia (UE).
No sábado passado, o Mercosul
suspendeu politicamente a Venezuela com o mesmo argumento.
Diante da crescente pressão
internacional, Maduro propôs uma cúpula da Comunidade de Estados
Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) para "restituir o diálogo"
regional e o "respeito à Venezuela".
Dilemas
Analistas como Benigno Alarcón
consideram que o governo não está em condições de vencer uma eleição por sua
responsabilidade na grave crise econômica, refletida na escassez de alimentos e
remédios e uma inflação que, segundo o FMI, ultrapassaria os 720% este ano.
Maduro enfrenta o repúdio de 80%
dos venezuelanos, de acordo com as pesquisas, que indicam que a MUD pode ganhar
até 18 governações. Seria um novo golpe ao chavismo, que encarou em 2015 a sua
maior derrota ao perder nas legislativas.
Devido a isso, segundo Alarcón,
Maduro apostou pela Constituinte como uma "salva-vidas", não para
reescrever a Carta Magna, mas evitar eleições e governar sem contrapesos como o
Parlamento, que já estava com as mãos atadas pela Suprema Corte.
Dirigentes opositores não
descartam que ao final a Constituinte, como um "suprapoder", cancele
as regionais.
Mas Maduro assegura que está
pronto para derrotar a MUD e comemorou nos últimos dias que alguns partidos
tenham decidido se inscrever.
A oposição também encara o risco
de perder o apoio popular, de acordo com analistas. Em seus protestos, exigem
eleições gerais para retirar Maduro, mas estaria se conformando com as
regionais.
Já assumiu um custo em 2016:
quando as manifestações contra Maduro alcançaram um novo pico, entrando em um
frustrado diálogo que enfraqueceu a sua popularidade.
No entanto, a oposição assegura
que o governo está encurralado pelos protestos e pela pressão internacional, e
que cada vez está mais perto de seu objetivo de "acabar com esta
ditadura".
France Espress
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