© Dida
Sampaio/Estadão Presidente se reuniu com Maia, Eunício,
Henrique Meirelles, Antonio Imbassahy e Moreira Franco
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BRASÍLIA - Após a denúncia por
corrupção passiva ser rejeitada por 263 deputados na semana passada,
o presidente Michel Temer fez ontem um afago ao presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), e aceitou suas sugestões para não ceder antes da hora na
negociação da reforma da Previdência.
Em reunião no Palácio do Planalto,
da qual também participaram ministros, Temer concordou com as observações de
Maia e deu sinais de que vai transformá-lo numa espécie de articulador da
reforma, curando feridas deixadas no relacionamento dos dois no processo de
votação da denúncia.
O presidente disse em entrevista ao Estado,
publicada no sábado, que as mudanças na Previdência poderiam se resumir à
fixação da idade mínima para aposentadoria (65 anos para homens e 62 para
mulheres) e ao corte dos privilégios do funcionalismo. Na reunião de ontem,
porém, ouviu de Maia que é preciso discutir também um modelo de transição para
os que ingressaram no serviço público antes de 2003. O deputado defendeu uma
campanha publicitária para mostrar, em termos didáticos, que os aposentados
podem ficar sem receber, como no Rio, se nada for feito agora.
“Queremos uma reforma, não uma
meia-sola”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira
Franco, que também participou da reunião. “O presidente pediu trabalho e
empenho para que possamos cumprir a agenda econômica. São medidas que podem dar
tranquilidade fiscal, como a Previdência, a simplificação tributária e o
Refis.” Além do Programa de Recuperação Fiscal, há mais de 20 Medidas
Provisórias na pauta do Congresso.
Convocada de última hora por
Temer, a reunião ocorreu no Planalto, o que não é usual no fim de semana, e
durou quatro horas. Além de Maia e Moreira, contou com o presidente do Senado,
Eunício Oliveira (PMDB-CE), e dos ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e
Antônio Imbassahy (Governo).
Gravação. Antes de o
plenário da Câmara derrubar a denúncia contra Temer, na quarta-feira, Maia
chegou a ser olhado com desconfiança por auxiliares do presidente. Primeiro
nome na linha sucessória da Presidência da República, o deputado foi acusado de
se movimentar para ocupar a cadeira do peemedebista e não escondeu a mágoa.
O encontro de ontem serviu para
serenar os ânimos. A convite de Temer, Maia também gravou um vídeo no Planalto,
que foi divulgado na rede social do governo. Falou sobre a segunda fase das
ações do Executivo no Rio, seu reduto eleitoral, no combate ao crime
organizado.
A portas fechadas, Meirelles disse
que o mercado estava “ansioso” por um prazo para a reforma da Previdência. A
ideia do Planalto é aprová-la na Câmara até setembro, mas Eunício afirmou que o
Congresso não pode fixar um prazo definitivo. “Eu tenho que pensar no
consumidor, e não no mercado”, reagiu o presidente do Senado. “Se aprovar a
idade mínima, 50% está resolvido. Já é metade da reforma”, completou.
Por se tratar de Proposta de
Emenda à Constituição (PEC), o governo precisa de 308 votos na Câmara e 49 no
Senado, em duas votações, para mudar as regras da aposentadoria. A base aliada
está dividida e Temer quer uma radiografia dos partidos para saber com quem pode
contar nos próximos embates. A maior divisão ocorre no PSDB, que constantemente
ameaça abandonar o governo.
O discurso oficial é o de que não
haverá retaliação aos infiéis, mas Temer disse ao Estado que
quem estiver “sentindo-se mal” no governo deve deixar a equipe. Na votação da
denúncia, 22 deputados tucanos se posicionaram a favor do presidente, 21 contra
e 4 se abstiveram. “Estamos entrosados, motivados e temos o compromisso de
fazer o máximo para que a pauta de modernização do País avance”, amenizou Imbassahy,
um dos quatro ministros do PSDB.
Ao Estado, Temer
elogiou a atuação de Maia nos últimos dias. “O presidente Rodrigo Maia se
comporta como estadista porque cumpre rigorosamente o regimento interno da
Câmara e a Constituição. O exemplo dele deve servir para vários outros
militantes da área jurídica, que muitas vezes ultrapassam os limites da lei”,
argumentou o presidente em um recado indireto ao procurador-geral da República,
Rodrigo Janot.
Pela contabilidade do Planalto,
muitos dos aliados que votaram contra Temer na quarta vão aprovar a reforma da Previdência.
Questionado se confiava no apoio do PSDB, o presidente respondeu: “Não acredito
que eles votem contra o Brasil".
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