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ARBEX/ESTADÃO João Doria
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A pressão desencadeada pelo
prefeito João Doria pela saída definitiva e imediata do senador Aécio Neves
(MG) da presidência do PSDB agravou ainda mais a crise no partido, que está
dividido entre permanecer ou deixar o governo Michel Temer. Os tucanos
enfrentam agora outro racha, desta vez envolvendo a realização de uma convenção
nacional tucana e a mudança da configuração de sua Executiva.
Parte da cúpula partidária avalia
que Doria se excedeu ao defender publicamente, neste sábado (15), durante
um evento na capital, a saída de Aécio “desde já” da presidência do PSDB. O
prefeito também pediu mudanças na Executiva da legenda para acomodar um
representante dos prefeitos eleitos em 2016 e indicou para a vaga o prefeito de
São Bernardo do Campo, Orlando Morando.
Até aliados de Aécio reconhecem
que o senador deve renunciar à presidência da legenda, mas esperam uma “saída
honrosa”. Por isso, dizem acreditar que as declarações do prefeito dificultam o
diálogo interno.
“João Doria é um prefeito
desfocado. A cidade está piorando, os buracos aumentando, os faróis estão
quebrados, o capim aumentando e ele desconhece isso. Fica brigando com o Lula e
nomeando gente na Executiva. Esse cara está delirando. Precisa focar na
Prefeitura e mostrar resultado. Tem gente tão ou mais competente do que ele
pensando no Brasil”, disse o ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto
Teotônio Vilela.
Aníbal é um dos mais próximos
interlocutores de Aécio na cúpula tucana. O senador mineiro se licenciou da
presidência do PSDB após a divulgação de um áudio no qual foi flagrado pedindo
R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da JBS, para pagar custos de
sua defesa na Operação Lava Jato.
O conteúdo da gravação está nas
delações do Grupo J&F, que controla a JBS. O senador também foi afastado,
por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, das funções
parlamentares, retomadas após decisão do ministro Marco Aurélio Mello. Aécio
manteve, entretanto, o cargo de “presidente licenciado”.
A resposta do prefeito a Aníbal
veio por meio do secretário adjunto das Prefeituras Regionais, Fábio Lepique.
“Nunca convivi com alguém tão focado na cidade como o João. Mas, como líder
político que é, sei que pensa um partido acima de interesses menores ou
pessoais. Para ele, o Brasil está acima das boquinhas, sejam de governo, sejam
de partido”, afirmou.
Configuração. Idealizada
pelo deputado Silvio Torres (SP), secretário-geral do PSDB e aliado do
governador Geraldo Alckmin, a proposta de mudar a estrutura da Executiva em uma
convenção nacional, marcada para agosto, tem o apoio de parte dos prefeitos
tucanos, entre eles Nelson Marchezan, de Porto Alegre, e Morando.
O senador tucano Tasso Jereissati
(CE), que simpatiza com a tese, tentou duas vezes convocar a Executiva do PSDB
em Brasília para formatar a convenção, mas esbarrou na relutância de parte da
legenda.
O grupo de Aécio resiste à ideia
de uma mudança total do comando partidário, que viria acompanhada de uma
“autocrítica” e “atualização do programa” da legenda. O meio-termo encontrado
foi a realização, em agosto, de uma reunião ampliada com todos os membros do
Diretório Nacional do PSDB. Nesse encontro, Tasso seria efetivado presidente do
partido, e Aécio se afastaria.
Em seguida, o partido começaria um
processo de convenções municipais e estaduais que elegeriam os delegados da
reunião nacional. Só então, provavelmente entre outubro e novembro, é que
haveria mudanças mais amplas no partido. “Não é o momento agora de se discutir
espaços para cargos. Isso só vai acontecer após a posse do novo presidente do
partido”, disse Torres.
O pano de fundo da disputa interna
na legenda é a vaga de candidato do PSDB à Presidência da República em 2018. A
atual Executiva do partido foi composta por Aécio em maio de 2013, quando ele
foi eleito presidente do PSDB e já era pré-candidato ao Palácio do Planalto
para a disputa de 2014.
Mesmo após a derrota para Dilma
Rousseff no ano seguinte, o senador mineiro continuou comandando a máquina
partidária. Em dezembro de 2016, renovou o próprio mandato e de toda a
Executiva até maio de 2018, o que irritou aliados de Alckmin. Procurado por
meio de sua assessoria, Aécio não quis se manifestar.
O acirramento da disputa interna
ocorre no momento em que a maioria dos deputados tucanos e o próprio presidente
Tasso Jereissati pressionam a sigla a entregar os cargos no governo Temer. “O
PSDB está se suicidando, como o antigo PFL. Está entregando o futuro do País
nas mãos da Procuradoria-Geral da República”, avaliou o professor da USP José
Augusto Guilhon-Albuquerque.
Já o cientista político Rafael
Cortez, analista da Tendências Consultoria, disse que a saída seria inócua.
“Sair neste momento não significa para o PSDB o descolamento da imagem de
Temer. A associação com o governo já está consumada.” / COLABOROU
ALBERTO BOMBIG
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