(Reprodução/Reprodução)
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Se Joesley, o MP e a PF estiverem
falando a verdade, a gravação é ilegal; se os três estiverem mentindo, a
operação é ilegal. E obviamente criminosa.
Os absurdos cometidos contra o
presidente Michel Temer podem colaborar para que a Lava Jato volte aos eixos à
medida que será preciso reconhecer erros grotescos de procedimento, que não
podem se repetir. Do contrário, a operação estará, ela mesma, correndo riscos.
Está claro, a esta altura, que a turma não tem limites.
Nota: o braço da Lava Jato que
atinge o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) recebeu o
sugestivo nome de “Operação Patmos”. É a ilha grega onde São João recebeu as
revelações do Apocalipse. Se alguém ainda duvidava do caráter messiânico da
turma…
É um absurdo que tantos advogados
silenciem a respeito da barbaridade que se urdiu contra Temer. Aquilo nada tem
de “ação controlada”, prevista no Artigo 9º da Lei
12.850. Retardar um flagrante em benefício da prova é diferente de
preparar, de forma deliberada, as circunstâncias para o cometimento de um
crime.
Precisamos, isto sim, é saber se
não estamos diante daquilo que, nos EUA, é chamado de “entrapment”, que é uma
cilada legal. Usa-se o aparato de Estado para induzir um flagrante. Por lá, é
um procedimento ilegal. Por aqui, também. Assim é em todo o mundo democrático.
Só as ditaduras consagram tal meio.
Caso se investigasse a
investigação, chegar-se-ia ao óbvio.
Segundo a versão da Carochinha,
espalhada por Joesley Batista com a ajuda do MP e da PF — e na qual a maior
parte da imprensa cai por uma série de motivos, que merecerão post exclusivo —,
o empresário decidiu ele próprio fazer a gravação. Não teria acertado isso nem
com Ministério Público nem com Polícia Federal, que só teriam entrado em cena
depois.
É mesmo?
Bem, então, de saída, registre-se
que tal gravação não pode ser usada nem em juízo nem pelo juiz. Com base nela,
no entanto, Edson Fachin, relator do petrolão no Supremo, decidiu abrir
investigação contra o presidente. Gravações clandestinas são aceitas como prova
em tribunal apenas quando resguardam um direito ou quando evidenciam que uma
pessoa está sendo vítima de uma pressão ilegal. Exemplifico: uma gravação pode
ser a prova de que um acusado é inocente ou de que alguém está sofrendo uma
extorsão. Mas para produzir provas contra terceiros??? Sem autorização judicial
prévia, nem pensar.
Segundo a versão que me parece
valer uma nota de R$ 3, de posse da gravação, Joesley resolveu procurar o
Ministério Público Federal… Ah, não me digam! Qual teria sido o diálogo
inicial? “Eu gravei clandestinamente o presidente da República, e fica claro
que ele incentiva a compra de silêncio de um preso. Quero fazer delação
premiada; quero colaborar”.
Tenham a santa paciência!
“Entrapment”
Atenção! Para gravar legalmente o presidente da República, se isso fosse possível, a ordem judicial teria de partir do Supremo. Que se saiba, não aconteceu. Logo, a ação foi clandestina e ilegal.
Atenção! Para gravar legalmente o presidente da República, se isso fosse possível, a ordem judicial teria de partir do Supremo. Que se saiba, não aconteceu. Logo, a ação foi clandestina e ilegal.
E é preciso ser de uma ingenuidade
estúpida para acreditar na versão de Joesley. Ora, como já escrevi aqui,
repetiu-se o procedimento adotado com Sérgio Machado. Também este criou a
versão de que teria feito gravações clandestinas por conta própria e só depois
procurado a força-tarefa…
Nos dois casos, o que se tem é uma
armadilha. Trata-se de flagrantes armados.
Se surgir uma evidência de que os
contatos de Joesley com o MPF e com PF antecederam a gravação, estaremos diante
da nulidade da operação. É simples assim. Mais: autoridades teriam participado
de uma conspiração — esse é o nome — para gravar o presidente de forma ilegal.
Edson Fachin, no entanto, não quis
nem saber. Já homologou a delação de Joesley, que está curtindo a vida em Nova
York, e autorizou a abertura de inquérito contra Michel Temer. Não é fabuloso.,
Diga-se de novo:
a: se Joesley, o MP e a PF
estiverem falando a verdade, a gravação é ilegal; b: se os três estiverem
mentindo, como acho que estão, a operação é ilegal. E obviamente criminosa.
Por Reginaldo Azevedo
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