Policiais
atiram gás lacrimogêneo contra manifestantes durante
protesto contra o governo em Caracas, na
Venezuela, na quinta
(20) (Foto:
Reuters/Carlos Garcia Rawlins)
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Veículos blindados e caminhões
atiraram jatos d'água e Guarda Nacional lançou gás contra manifestantes, que
jogaram pedras e atearam fogo em barricadas de lixo. Dois jovens e um militar
morreram em protestos na véspera.
Agentes anti-distúrbios e
manifestantes se enfrentaram nesta quinta-feira (20) em um forte cruzamento de
bombas de gás lacrimogêneo, pedras e coquetéis molotov em Caracas, onde
marcharam milhares de opositores contra o presidente Nicolás Maduro, depois de três
semanas de violentos protestos que já deixaram oito mortos.
Um caminhão da militarizada Guarda
Nacional lançou bombas de gás lacrimogêneo nos manifestantes em Chacaíto e em
El Rosal, nas vias de acesso à estratégica estrada Francisco Fajardo, após a chegada
do reforço da polícia, que os conteve, apoiados por veículos blindados e
caminhões que atiravam jatos d'água.
"Não me importa engolir gás,
não me importa morrer, mas temos que sair desta merda de governo assassino e
repressor", disse à AFP Natasha Borges, de 17 anos, em meio ao caos.
Um manifestante atira de volta
lata de gás lacrimogêneo durante protesto contra o governo em Caracas, na
Venezuela, na quinta (20) (Foto: Reuters/Marco Bello)
Grande parte da manifestação se
encaminhou para a parte leste da cidade, mas um grupo de jovens, com os rostos
cobertos com panos e capuzes, lançava coquetéis molotov e pedras, constataram
jornalistas da AFP.
Um helicóptero da polícia
sobrevoava a área. Barricadas de lixo eram queimadas em diferentes pontos e
algumas pessoas destruíram um outdoor para usar os restos de trincheira.
Gritavam palavras como
"liberdade", mas também insultos, como "malditos" e
"covardes" aos policiais, protegidos com coletes, capacetes e escudos
anti-distúrbios.
Desde o início da manhã, com
tanques e barreiras de metal, contingentes policiais e militares foram enviados
para as vias importantes de Caracas e de outras cidades, onde houve tumulto na
quarta-feira.
Nesta jornada morreram um
adolescente de 17 anos em Caracas, uma jovem de 23 anos em San Cristóbal e um
militar nos arredores da capital.
Temos que ter coragem!
Os manifestantes opositores, que
exigem eleições gerais, não conseguiram chegar ao centro de Caracas, reduto do
chavismo, onde Maduro liderou na quarta-feira uma concentração em massa de seus
seguidores.
Apesar da violência e para não
diminuir a pressão, os opositores voltaram às ruas. Mais cedo, a oeste da
capital, em Santa Mônica e em El Paraíso, as forças de segurança dispersaram em
ações rápidas pequenas concentrações de manifestantes, mas não conseguiram
conter a marcha.
"Há cansaço, mas temos que
ter coragem. Eu estou disposto a sair às ruas todos os dias se for
necessário", declarou à AFP Aquiles Aldazoro, um universitário de 22 anos,
que levava um cartaz escrito: "aquele que não se move não escuta o barulho
de suas correntes".
Manifestantes
em oposição ao governo participam de protesto
em Caracas,
na Venezuela, na quinta (20)
(Foto: Reuters/Christian Veron)
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Segundo a ONG Foro Penal, além das
vítimas fatais, dezenas ficaram feridos e, contando com os protestos
anteriores, há mais de 500 presos.
"Quanto mais fortes forem os
protestos, mais forte será a repressão", declarou o analista Diego
Moya-Ocampos, do centro IHS Markit Country Risk, em Londres.
A União Europeia condenou
nesta quinta-feira os atos de violência e pediu uma
"diminuição" do conflito. A Anistia Internacional alertou para a
"repressão" e o presidente argentino Mauricio Macri lamentou
"que não tenham atendido o pedido da região de garantir uma jornada
pacífica".
"Pedimos gestos concretos de
todas as partes para reduzir a polarização e criar as condições necessárias
para abordar os desafios do país em benefício do povo venezuelano",
afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
Eleições na mira
A onda de protestos começou em 1º
de abril, após as sentenças do máximo tribunal eleitoral, que retiraram a
imunidade do Parlamento, único poder público controlado pela oposição.
Maduro, a quem a oposição acusa de
afundar o país em uma das piores crises econômica e política de sua história,
assegura que os protestos buscam derrubá-lo com o apoio dos Estados Unidos e
realizar uma intervenção militar na Venezuela.
Seu aliado, o presidente boliviano
Evo Morales, acusou Washington de planejar a derrubada de Maduro, cujo mandato
termina em 2019.
Maduro diz querer logo a chegada
das eleições para derrotar a oposição. As de governadores deveriam ter sido
realizadas em 2016, mas foram suspensas e ainda não têm data. As de prefeito
estão marcadas para este ano e as presidenciais para dezembro de 2018.
Segundo as pesquisas, sete em cada
dez venezuelanos reprovam o governo, sufocados pela crise econômica, com uma
severa escassez de alimentos e remédios, e uma inflação - a mais alta do mundo
- que o FMI estima em 720,5% para este ano.
"A estratégia do governo
parece ser se manter no poder a qualquer custo e evitar que haja eleições,
porque a crise o tornou bastante impopular", opinou Moya-Ocampos.
A oposição afirma que a Maduro
resta o apoio da cúpula da Força
Armada, a quem deu enorme poder econômico e militar e que recebeu em
troca "lealdade incondicional".
Por France Presse
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