© Wilton Júnior/Estadão Refinaria Abreu e Lima, em
Suape,
na região metropolitana de Recife (PE)
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Segundo ele, as maiores
empreiteiras do País se reuniram previamente para combinar a forma de atuação
na licitação. As obras ficaram com a Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Queiroz
Galvão. Dois contratos foram assinados em dezembro de 2009 – um no valor de R$
1,485 bilhão e outro, de R$ 3,19 bilhões.
Na refinaria, a Odebrecht optou
por atuar em consórcio com a OAS. Logo que o contrato foi assinado, de acordo
com Faria da Silva, a Odebrecht foi procurada pelo empresário Aldo Guedes, que
seria emissário do então governador Eduardo Campos, do PSB (morto em 2014).
Em um encontro realizado em São
Paulo, segundo o delator, Guedes teria dito ser “o único representante do
governador Eduardo Campos” e, em nome dele, pediu uma contribuição de 2% do
valor global dos dois contratos, correspondente a R$ 90 milhões.
Embora o governo de Pernambuco não
tivesse nenhuma relação direta com a refinaria, Faria da Silva, para “manter
uma boa relação”, aceitou pagar R$ 15 milhões a Guedes – metade seria paga pela
Odebrecht, metade pela OAS. “É o que nós temos”, disse.
Embora insatisfeito, o empresário
aceitou o valor menor que o solicitado. “Ele (Aldo Guedes) disse que o
governo de Pernambuco iria dar apoio incondicional a nós na condução do
contrato, com ênfase muito forte nas relações sindicais, uma vez que iríamos
ter 50 mil pessoas de todas as contratistas lá na obra”, afirmou Faria da
Silva.
O dinheiro foi pago a Guedes, de
acordo com o ex-executivo, por meio da agência de turismo Mônaco, que recebeu
os valores em reais e repassou ao empresário. Segundo o delator, o empresário
teria inicialmente indicado uma conta bancária em Hong Kong, mas não foi
possível efetuar a transferência, provavelmente por dados equivocados.
O delator mencionou que os
ex-diretores da Petrobrás Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco também receberam
propina pelas obras na refinaria, além de Glauco Lagatti, gerente das obras na
refinaria, e do ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010.
Costa teria pedido 1% do valor da
obra, o que chegaria a R$ 45 milhões. A Odebrecht disse que o consórcio
pagaria, no máximo, R$ 30 milhões ao PP. P ex-diretor, no entanto, combinou com
Faria da Silva que a Odebrecht pagaria, no máximo, R$ 15 milhões a Janene. Os
outros R$ 15 milhões ficariam com Costa.
“Primeiro vieram falar em 1%, R$ 45 milhões,
totalmente fora de propósito. Eu falei que não ia ser isso, não 1%, mas sim um
valor fixo, de R$ 30 milhões. E dos R$ 30 milhões, eu iria dizer que seriam só
R$ 15 milhões, porque o Paulo também queria R$ 15 milhões para ele”, afirmou.
Na reunião, conforme combinado com
Costa, Faria da Silva disse que o pagamento ao PP seria de R$ 15 milhões.
“Janene, uma pessoa muito difícil, arrogante mesmo, fez um carnaval, disse que
não iria assinar o contrato. Paulo, muito político, entrou na conversa, botou
panos quentes, disse que iria ter mais contratos. Muito contrariado, ficaram
acertados os R$ 15 milhões para Janene”, disse.
“A exemplo dos outros contratos,
Paulo trabalhava com propina só para ele”, afirmou o ex-executivo da Odebrecht.
Questionado sobre se Janene soube que Costa teria embolsado R$ 15 milhões, ele
respondeu: “Não, Paulo pediu para esconder”. Nesse caso, a Odebrecht ficou
responsável por pagar Costa. A OAS pagou Janene.
Outros R$ 30 milhões foram pagos
ao ex-executivo da Petrobrás Pedro Barusco, subordinado ao ex-diretor Renato
Duque, uma indicação política do PT. “Não sei quem pagou quem (Odebrecht ou
OAS), mas com certeza foi dividido. Pedro Barusco foi o intermediário.”
Gerente das obras na refinaria pela
Petrobrás, Glauco Legatti recebeu R$ 15 milhões. “Glauco era gerente de
implantação, talvez a figura mais importante dentro do projeto. Prometeu ajuda,
rapidez, celeridade nas aprovações dos nossos direitos, o que infelizmente não
ocorreu. Eventuais aditivos contratuais seriam encaminhados por ele, o que não
aconteceu.”
Com custo inicial de R$ 7,5
bilhões, a refinaria Abreu e Lima ainda não foram totalmente concluídas. Suas
obras já consumiram R$ 58,6 bilhões.
O Estado não conseguiu contato com Aldo Guedes para tratar do
assunto.
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