São Paulo e Brasília - O
ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin intimou o
ex-funcionário da Odebrecht José de Carvalho Filho, a ex-secretária Maria Lúcia
Tavares e o ex-executivo Fernando Miggliaccio a prestarem depoimento nesta
quinta-feira, 9, na ação que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel
Temer por abuso do poder econômico e político. Além disso, o ministro, que é
relator da ação, decidiu incluir o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura
Benedicto Júnior, o BJ, em acareação que será realizada também nesta quinta.
Carvalho foi citado no depoimento
do ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho como
o responsável por viabilizar o repasse de R$ 4 milhões ao ministro da Casa
Civil, Eliseu Padilha. A remessa teria sido acertada durante jantar no Palácio
do Jaburu, em 2014, do qual também participou o então vice-presidente Michel
Temer.
Citado 34 vezes na delação de Melo
Filho à Lava Jato, Carvalho também seria o responsável pelo envio de valores ao
ex-assessor da Presidência José Yunes, por meio do operador financeiro Lúcio
Funaro. Yunes disse ter servido de “mula involuntária” de Padilha ao receber um
pacote de Funaro que deveria ser entregue ao ministro.
Segundo pessoas que tiveram acesso
ao depoimento de Melo Filho ao TSE, o ex-diretor de Relações Institucionais da
Odebrecht disse que Carvalho recebeu um telefonema em tom ríspido do então
presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – atualmente preso na Lava Jato –,
cobrando R$ 1 milhão dos R$ 4 milhões destinados a Padilha. Melo Filho afirmou
ainda, no depoimento ao TSE, ter avisado Padilha sobre o telefonema e, segundo
o ex-diretor da empreiteira, o ministro disse que resolveria a questão
pessoalmente com Cunha.
Procurado pelo Estado,
Padilha não se manifestou.
Delatora. Maria Lúcia
atuou no Setor de Operações Estruturadas, o chamado “departamento de propina”
da Odebrecht, onde foi responsável pelos pagamentos e pela contabilidade.
Alvo da Operação Acarajé, 23.ª
fase da Lava Jato, em fevereiro de 2016, Maria Lúcia fez acordo com o
Ministério Público Federal. Em troca da liberdade e de um possível perdão
judicial, relatou aos investigadores como funcionava o “departamento de
propina”. Ela é considerada a testemunha-chave que levou o alto escalão da
Odebrecht a buscar delação.
Miggliaccio é considerado um dos
responsáveis pelo “departamento da propina” da empreiteira baiana. Era ele que
administrava a conta no exterior por meio da qual eram feitos pagamentos de
propina.
Também amanhã o TSE fará uma
acareação entre três delatores: Melo Filho, o ex-presidente da empreiteira
Marcelo Odebrecht e Hilberto Mascarenhas, ex-funcionário da Odebrecht e ligado
ao “departamento de propina”. Um dos objetivos é esclarecer versões
conflitantes sobre o jantar no Jaburu. Marcelo Odebrecht disse ao TSE que Temer
deixou o jantar antes que fosse acertado o repasse de R$ 10 milhões ao PMDB,
por meio de Padilha. Já Melo Filho reafirmou à Justiça Eleitoral o teor de sua
delação, na qual afirmou que Temer “solicitou direta e pessoalmente” a Marcelo
Odebrecht apoio financeiro às campanhas do PMDB.
Mascarenhas e Benedicto Júnior
devem esclarecer outro ponto do depoimento de Marcelo Odebrecht. O
ex-presidente da empreiteira disse ter reservado R$ 150 milhões para o PT em
2014, dos quais 4/5 foram repassados via caixa 2.
Já os outros dois depoentes
relataram ter participado de reunião com o herdeiro do grupo em março de 2014
na qual o então presidente da empreiteira teria dito que o valor global das
doações naquele ano seria de R$ 200 milhões, a todos os partidos – R$ 120
milhões seriam doados oficialmente, R$ 40 milhões por meio da cervejaria
Itaipava e outros R$ 40 milhões via caixa 2.
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