A campanha
eleitoral que reelegeu Dilma Rousseff, o empresário
afirma que,
"para ela, a maior parte, talvez quatro-quintos, foi caixa dois".
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Ex-presidente da construtora e
outros ex-executivos da empreiteira prestaram depoimentos ao tribunal na ação
que apura se chapa Dilma-Temer cometeu abuso de poder político e econômico.
Marcelo Odebrecht, ex-presidente
da construtora, e os outros ex-executivos da empresa foram ouvidos em
depoimento a pedido do ministro Herman Benjamim, do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer. A suspeita é
de abuso de poder político e econômico.
O depoimento do empresário Marcelo
Odebrecht foi revelado pelo site "Antagonista" nesta quinta (23). A
TV Globo também obteve o documento.
A uma pergunta sobre a relação da
Odebrecht com a campanha eleitoral que reelegeu Dilma Rousseff, o empresário
afirma que, "para ela, a maior parte, talvez quatro-quintos, foi caixa
dois".
Marcelo também afirmou ao TSE que
"a campanha presidencial de 2014 foi inventada", primeiro, por ele
mesmo, Marcelo, que não se envolveu na maior parte das demais campanhas, mas a
eleição presidencial ele conhecia, e que, de maneira geral, os valores foram
definidos por ele.
Segundo Marcelo Odebrecht, R$ 150
milhões foram colocados à disposição para a campanha de Dilma.
Marcelo explicou que a empresa
tinha "relação intensa" com o governo Dilma, que essa relação intensa
gerava a expectativa de que a Odebrecht fosse um grande doador. Dos R$ 150
milhões, R$ 50 milhões vieram a partir de um pedido, uma contrapartida
específica, a edição da Medida Provisória 470, um "refis" na crise de
2009, que beneficiou a Odebrecht.
Marcelo
Odebrecht diz que Lula e Dilma sabiam
de
pagamentos de propinas
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Marcelo disse que, em uma reunião
com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, ele disse: "Olha, Marcelo,
eu tenho a expectativa de que você contribua para a campanha de 2010 com R$ 50
milhões". Mas, segundo Marcelo, Mantega acabou não se envolvendo na
campanha de 2010, a primeira de Dilma, e esses R$ 50 milhões ficaram para a
campanha de 2014.
Marcelo Odebrecht disse que, na
prática, Guido Mantega só começou a pedir dinheiro para o PT a partir de 2011,
quando era ministro de Dilma e Antonio Palocci já tinha saído da Casa Civil.
Até aquele momento, segundo o depoimento, era Palocci que fazia a maior parte
dos pedidos do PT.
Ainda sobre a campanha de 2010,
Marcelo Odebrecht disse que todos os pedidos de doação foram feitos por Lula e
Palocci e que Dilma nem se envolvia em 2010.
Campanha de 2014
Na campanha seguinte, em 2014,
Marcelo Odebrecht disse que doou dinheiro para outros partidos da coligação que
apoiou Dilma, a pedido de Guido Mantega, e que uma parte do dinheiro foi de
caixa dois.
Ao todo, Marcelo Odebrecht disse
que acertou com Guido Mantega R$ 170 milhões e, somado ao que acertou com
Antonio Palocci, entre
2008 e 2014, o valor chega a R$ 300 milhões.
Questionado se a conta
administrada primeiro por Antonio Palocci e depois por Guido Mantega era para o
PT, Marcelo disse que era para a Presidência.
De acordo com as investigações,
esse dinheiro fazia parte de uma espécie de conta corrente, criada pela construtora
Odebrecht para atender ao PT, mas era também uma maneira de a Odebrecht
estabelecer um limite para os pedidos de dinheiro.
Segundo o site
"Antagonista", a empresa apresentou uma planilha ao TSE com um
controle de saldo da conta-corrente da empresa com Lula, Palocci e Guido
Mantega. Em 22/10/2013, o "amigo", como era chamado Lula, tinha saldo
a receber de R$ 15 milhões. Em 31/03/2014, o saldo era de R$ 10 milhões.
Marcelo Odebrecht contou também
que, numa conversa em 2014, Guido Mantega se referiu à presidente Dilma ao
fazer um pedido.
Segundo o empresário, Mantega
teria dito: "Marcelo, a orientação dela agora é que todos os recursos de
vocês vão para a campanha dela. Você não vai mais doar para o PT, você só vai
doar para a campanha dela, basicamente as necessidades da campanha dela: João
Santana, Edinho Silva, e esses partidos da coligação."
Marcelo disse que sempre ficou
evidente que Dilma sabia dos pagamentos da Odebrecht para João Santana e que
ele não tem a menor dúvida.
Marcelo Odebrecht garantiu que
Dilma também sabia da dimensão da doação da empresa, sabia que eles doavam,
quem fazia grande parte dos pagamentos via caixa dois para João Santana.
"Isso ela sabia", segundo Marcelo.
Marcelo Odebrecht disse que, assim
que estourou a Lava Jato, ele alertou Dilma. "Olha, presidente, eu quero
informar para a senhora o seguinte: eu tenho medo de que, vi a questão da Lava
Jato, exista uma contaminação nas contas do exterior que foram usadas para
pagamento para João Santana, então quero alertar a senhora disso."
Caixa 2
Marcelo também falou o que acha
sobre caixa dois, e o comparou a outros crimes. O empresário disse que
reconhece que:
"Quando você vai para o caixa
2, mesmo que o caixa 2 não tenha origem numa propina, ele carrega uma
ilicitude, ele desiguala o processo eleitoral e, ademais, é aquele processo de
contrabando. Quer dizer, na hora que a gente está aceitando filme
contrabandeado, nós estamos dando dinheiro para um setor. Então, na hora que é
caixa 2, a partir daí eu não posso mais assegurar se aquele dinheiro foi de
fato para a campanha".
Em seu depoimento, Marcelo
Odebrecht disse ainda que, em 2014, Guido pediu mais dinheiro via caixa um,
oficial, para a campanha da Dilma, mas Marcelo respondeu que não tinha como
doar mais do que já havia doado, por causa do limite imposto pela legislação
eleitoral. Mantega, de acordo com Marcelo, então, "veio com uma equação de
bancar o apoio a outros partidos da coligação, compromissos que o PT tinha com
outras legendas".
Doações para outros partidos
A divisão deste dinheiro foi explicada
por outro depoente: Alexandrino de Alencar, ex-diretor da Odebrecht, em
depoimento ao TSE na mesma ação e obtido pela TV Globo.
Ele afirmou que essa divisão foi
definida pelo tesoureiro da campanha, Edinho Silva: que queria que fossem R$ 7
milhões para cada partido.
Alexandrino disse que ouviu de
Edinho que esse dinheiro era para comprar tempo de TV, ou seja, comprar o apoio
de partidos da base aliada. E Alexandrino ficou com a missão de fazer o
pagamento a três partidos: PCdoB, PROS e PRB. O PDT e o PP receberam por meio
de outros operadores. Segundo Marcelo Odebrecht, o total pago aos cinco
partidos chegou a R$ 27 milhões.
Tarjas
Trechos de alguns depoimentos têm tarjas
pretas cobrindo as citações ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). O
TSE aceitou o pedido feito pelo advogado do PSDB, alegando que a candidatura de
Aécio em 2014 não era objeto da ação.
Mesmo assim, em alguns pontos, é
possível ler o que diz o documento. Em deles, Benedicto Junior, ex-executivo da
Odebrecht que fazia a ponte entre políticos e a empresa, detalha o pagamento de
R$ 9 milhões para três candidatos do PSDB, a pedido do presidente do partido,
Aécio Neves: o senador Antonio Anastasia, Dimas Fabiano Toledo, candidato a
deputado federal pelo PP, e Pimenta da Veiga, que concorreu ao governo de Minas
Gerais em 2014.
Segundo Benedicto, o pagamento –
em caixa dois - também incluiu a empresa publicitária PVR, que trabalhou na
campanha de Aécio Neves para a Presidência da República.
Versões
Todos os citados negaram
envolvimento com irregularidades.
A ex-presidente Dilma
Rousseff disse que nunca teve proximidade com o empresário Marcelo
Odebrecht e que jamais pediu a ele doações para a campanha dela ou para o
Partido dos Trabalhadores.
O advogado dos ex-ministros Guido
Mantega e Antônio Palocci disse que não conhece o
depoimento na íntegra.
O PT não quis
comentar.
O tesoureiro da campanha de 2014, Edinho
Silva, disse que todas as doações da Odebrecht foram feitas de forma ética,
dentro da legalidade e que as contas foram aprovadas por unanimidade pelo
Tribunal Superior Eleitoral.
A assessoria do Instituto Lula
disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais
solicitou recursos indevidos para a Odebrecht ou qualquer outra empresa e que
isso será provado pela Justiça.
A defesa do marqueteiro João
Santana não quis comentar.
Aécio Neves tem dito
que solicitou, como dirigente partidário, apoio para candidatos de Minas Gerais
e de todo o Brasil a diversos empresários, sempre de acordo com a lei.
Dimas Toledo informou
que não conhece o delator e negou ter recebido doações da Odebrecht.
Pimenta da Veiga não
quis comentar.
A assessoria de Antonio
Anastasia disse que o parlamentar nunca tratou na trajetória pessoal
ou política com qualquer pessoa ou empresa sobre qualquer assunto ilítico.
Por Jornal da Globo
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