Marcelo
Odebrecht diz que ‘inventou’ campanha de Dilma
em 2014©
ENRIQUE CASTRO-MENDIVIL / REUTERS
|
O ex-presidente da construtora
Odebrecht, Marcelo Odebrecht, afirmou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que
“inventou” a campanha de reeleição da presidente cassada Dilma Rousseff, em
2014. As declarações constam do depoimento prestado pelo executivo, no dia 1.º
deste mês, na ação que pede a cassação da chapa de Dilma e de seu vice à época,
o presidente Michel Temer, por suposto abuso de poder político e econômico.
Nesta quinta-feira, 23, o ministro Herman Benjamin, responsável pelo processo,
entregou um relatório parcial do processo aos integrantes da corte.
O conteúdo do documento foi
relevado nesta quinta pelo blog O Antagonista. O juiz-auxiliar da Corregedoria
Geral da Justiça Eleitoral Bruno César Lorencini mandou instaurar procedimento
interno para investigar o vazamento dos depoimentos sigilosos de Marcelo
Odebrecht e Alexandrino Alencar. Ele atendeu a pedido da presidente cassada.
Dilma chamou as acusações de
“levianas”. No depoimento, Marcelo disse também que a presidente cassada tinha
conhecimento do pagamento de despesas de campanha com recursos de caixa 2,
conforme o Estado antecipou na edição do dia 2 de março.
“A campanha presidencial de 2014,
ela foi inventada primeiro por mim, tá?”, disse Marcelo ao ser questionado
sobre sua relação com a campanha de reeleição de Dilma. “Eu não me envolvi na
maior parte das demais campanhas, mas a eleição presidencial foi (atuante). Os
valores (de doações) foram definidos por mim”, afirmou o empresário, preso em
Curitiba desde junho de 2015, em razão das investigações da Operação Lava Jato.
De acordo com o delator, o
ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi o responsável por solicitar os
repasses da construtora. Em maio de 2014, o empresário se encontrou com o
“Pós-Italiano”, como era identificado o ex-ministro nas planilhas do Setor de
Operações Estruturadas, o departamento da propina. Na ocasião, ele foi
informado de que os repasses prioritários deveriam ser para Dilma.
“Marcelo, a orientação dela
(Dilma) agora é que todos os recursos de vocês vão para a campanha dela. Você
não vai mais doar para o PT, você só vai doar para a campanha dela, basicamente
as necessidades da campanha dela: João Santana, Edinho Silva ou esses partidos
da coligação”, relatou o empreiteiro. “Dilma sabia da dimensão da nossa doação,
e sabia que nós éramos quem doá(vamos)... Quem fazia grande parte dos
pagamentos via caixa 2 para João Santana. Isso ela sabia”, disse.
O empreiteiro afirmou que a
presidente cassada nunca lhe pediu nada diretamente, mas ela tinha conhecimento
dos pagamentos via caixa 2. “Mas isso sempre ficou evidente, é que ela sabia
dos nossos pagamentos para João Santana. Isso eu não tenho a menor dúvida”,
relatou. Santana foi o marqueteiro das campanhas de 2010 e 2014. Edinho foi o
tesoureiro da última campanha.
O empreiteiro afirmou que parte
dos débitos feitos a Santana se referia ainda às dívidas de campanha de 2010. A
Lava Jato revelou que os pagamentos eram feitos em offshores no exterior por
meio do departamento da propina da Odebrecht.
Medida Provisória. Marcelo
afirmou também que manteve a movimentação na conta Italiano, codinome atribuído
ao ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, até 2011. A partir de então,
passou a discutir os valores com Mantega. Ao todo foram doados R$ 150 milhões,
segundo o delator, para a campanha de 2014. Segundo o delator, parte do
dinheiro foi destinado como verba uma revista “boa pro governo”, a pedido de
Mantega.
Parte do valor total doado – R$ 50
milhões – era ainda uma contrapartida pela aprovação da Medida Provisória 470
(Refis). “Era o Refis da Crise, de 2009. Houve uma negociação do governo com
diversas empresas, tá?”, disse Marcelo, sem revelar outras companhias
envolvidas na suposta compra da medida para reduzir a zero a alíquota de
renegociação de dívidas. Esse valor deveria ter sido quitado em 2010.
Defesas. A assessoria
de imprensa da presidente cassada afirmou, em nota, que ela “não tem e nunca
teve qualquer relação próxima com o empresário Marcelo Odebrecht, mesmo nos
tempos em que ela ocupou a Casa Civil no governo Lula”. O texto afirmou ainda
que Dilma “sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha
desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio”.
A presidente cassada disse que
Marcelo “precisa incluir provas e documentos das acusações”. “Não basta acusar
de maneira leviana”. Dilma criticou também que, “mais uma vez, delações sejam
vazadas seletivamente, de maneira torpe, suspeita e inusual”.
Procurada, a assessoria de impensa
do PT informou que não comentaria vazamento de conteúdo de delações de
investigados na Operação Lava Jato.
A Odebrecht, por meio de nota,
informou que “não se manifesta sobre o teor de eventuais depoimentos de pessoas
físicas”. A empresa disse que “reafirma seu compromisso de colaborar com a
Justiça”.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!