O presidente
do conselho administrativo do Grupo Odebrecht,
Emílio Odebrecht (Leo Pinheiro/Valor RJ)
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Em depoimento vazado, delator diz
que Odebrecht fez doações não contabilizadas a campanhas políticas desde que
seu pai, Norberto, comandava o grupo
Em depoimento ao juiz federal
Sergio Moro, o presidente do conselho administrativo da empreiteira que leva o
nome da família, Emílio Odebrecht, disse que o caixa dois foi o “modelo
reinante” em campanhas eleitorais no país até pouco depois da deflagração da
Operação Lava Jato. O empresário depôs ao juiz federal como testemunha de
defesa de seu filho, Marcelo Odebrecht, na ação penal em que ele é réu ao lado
do ex-ministro Antonio Palocci e outros doze acusados. O processo apura o que o
Ministério Público Federal chama de “conta-corrente da propina” mantida por
Palocci, pelo PT e pela Odebrecht.
A pedido dos advogados do
empresário, um dos 77 executivos da Odebrecht a firmarem acordos de delação com
o Ministério Público Federal (MPF), o depoimento havia sido colocado em sigilo
por Moro, já que as delações ainda estão em sigilo no Supremo Tribunal Federal
(STF). Um erro técnico da Justiça Federal do Paraná, no entanto, acabou
disponibilizando os vídeos por algum tempo no sistema de consulta processual.
O advogado de Dilma Rousseff, José
Eduardo Cardozo, durante sessão de julgamento da presidente afastada no Senado
Federal - 31/08/2016
Em seu depoimento a Moro, que
durou 37 minutos e foi tomado na sede da Justiça Federal em São Paulo, Emílio
Odebrecht disse que a empreiteira pagava propina desde que seu pai, Norberto,
fundador do grupo Odebrecht, liderava a “organização” – termo recorrentemente
usado no depoimento para se referir ao conglomerado.
“Existia isso [caixa dois], e
sempre foi um modelo reinante no país, que veio até recentemente. Houve
impedimento a partir de 2014, 2015. Mas até então sempre existiu, desde a época
de meu pai, a minha época, e também de Marcelo, todos os que foram executivos
do grupo. Eu mesmo, na minha colocação, tive dois responsáveis”, lembrou.
Odebrecht relatou, no entanto,
que, enquanto comandou o grupo, os ramos em que a empresa atuava eram mais
restritos e, em razão disso, a distribuição de dinheiro “por fora” a campanhas
políticas não era tão complexa quanto a descoberta pela Lava Jato: um
departamento à parte, que contava com executivos para encaminhar o pagamento de
propinas e caixa dois, eufemisticamente batizado de Departamento de Operações
Estruturadas.
“Na minha época eram dois negócios
principais: a engenharia e a petroquímica. As coisas eram muito mais simples,
não tinha a complexidade que a organização passou a ter em determinado período
trabalhando em mais de vinte países, lidando com ‘n’ negócios”, afirmou Emílio
Odebrecht.
O empresário negou a Moro,
contudo, que houvesse um “departamento de propinas” na Odebrecht e disse não
saber se Marcelo Odebrecht, o “príncipe dos empreiteiros”, foi o responsável
pela sofisticação dos pagamentos irregulares.
“Não existe na organização
departamento. Não existiu nada disso de formalizar. Existia um responsável por
operacionalizar recursos não contabilizados. Foi dada essa nomenclatura não sei
nem como e a imprensa vem repetindo, repetindo, repetindo e está se tornando
uma verdade. E não é”, reclamou o empreiteiro.
A algumas campanhas eleitorais,
segundo Emílio Odebrecht, havia uma “mescla” entre recursos oficialmente doados
e dinheiro de caixa dois. O empresário ainda ressaltou que “todos os partidos
tiveram [caixa dois]”;
‘Palocci pode ter sido operador’
Questionado por Sergio Moro a
respeito de doações eleitorais irregulares ao Partido dos Trabalhadores
intermediadas pelo ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci,
Emílio Odebrecht respondeu ao magistrado que o petista pode ter atuado como
“operador” dos repasses. Preso em Curitiba desde setembro de 2016, Palocci é
réu pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo.
“Eu não tenho dúvida que teve
contribuição da organização ao partido [PT], não tenho dúvida. E não tenho
dúvida que pode ter sido também ele [Palocci] um dos operadores que recebeu
recursos para o partido. Agora, os detalhes disso, eu não saberia dizer”, disse
Odebrecht.
Em outro momento, o empresário
ressaltou que não tratava diretamente com Palocci. “Quando existia pedido de
ajuda à campanha, ele [Palocci] era, em determinado momento, quem tratava com a
área operacional. Foi aí que ele teve como demandante do partido”, relatou.
Segundo as investigações da Lava
Jato, Antonio Palocci teria acertado o pagamento ilegal de cerca de 200 milhões
de reais pela empreiteira, de 2008 a 2013. O dinheiro sujo teria como
destinatário final definido pelo PT o marqueteiro João Santana, também réu
nesta ação penal. De acordo com os investigadores, o valor foi retirado de
contratos da Braskem, braço petroquímico do grupo Odebrecht, com a Petrobras.
A força-tarefa da Lava Jato
atribui ao ex-ministro o apelido de “Italiano” nas planilhas da empreiteira e
anotações do celular de Marcelo Odebrecht apreendidas pela operação.
Emílio Odebrecht disse que “com
certeza” Palocci era identificado como italiano, mas ponderou que seria
“leviano e irresponsável” se afirmasse categoricamente que o codinome no
material recolhido se refere ao ex-ministro.
“[Italiano] pode ser também o
Palocci identificado. Todo mundo que tinha descendência italiana também poderia
estar. Eu mesmo tenho companheiros internos na organização que são de origem
italiana que eu chamava de ‘italiano’. Não saberia dizer efetivamente se o
italiano que se refere aí quer dizer o dr. Palocci, mas com certeza ele também
era identificado como italiano”, concluiu.
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