Departamento jurídico foi acionado
para verificar se há meios de driblar a estabilidade de até 25 mil servidores.
De Brasília Com prejuízo de quase
R$ 500 milhões nos dois primeiros meses do ano e depois de frustrar-se com o
baixo número de adesões ao plano de desligamentos voluntários aberto em
janeiro, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) avalia uma medida
radical para fechar o rombo em seus
Sob o argumento de que a situação
financeira é extremamente grave, o departamento jurídico da estatal foi
acionado para verificar se há meios de driblar a estabilidade dos empregados e fazer
"demissões motivadas", com o objetivo de reduzir o quadro de pessoal.
Estimativas preliminares indicam a necessidade de enxugamento de 20 mil a 25
mil funcionários.
Segundo dados da vice-presidência
de finanças e controle interno, a folha de pagamento da estatal aumentou de R$
3 bilhões para R$ 7,5 bilhões entre 2006 e 2015. Com isso, os custos
trabalhistas subiram de 49% para 62% dos gastos totais. No mesmo período, o
"tráfego de objetos" caiu de 8,6 bilhões para 8,2 bilhões por ano e o
nível de produtividade diminuiu de 80 para cerca de 70 objetos por cada
trabalhador.
Com pouco mais de 117 mil
empregados atualmente, os Correios abriram um PDV em janeiro. A expectativa era
atrair em torno de 8 mil funcionários com mais de 55 anos e tempo de casa
suficiente para requerer aposentadoria, mas houve 5,5 mil adesões. O prejuízo
acumulado nos últimos dois anos chega a R$ 4 bilhões e não dá sinais de
reversão.
O presidente da ECT, Guilherme
Campos, confirmou ao Valor a existência das discussões, mas disse que nenhuma
decisão foi tomada até agora. "Não estamos fazendo isso com nenhum
requinte de sadismo. O que não dá é para manter uma situação em que dois terços
dos custos totais são de pessoal", afirmou o executivo. Ele se recusa, no
entanto, a falar sobre o número de desligamentos supostamente necessários para
estancar a sangria. "Seria leviano expressar isso agora."
Os trabalhadores prometem reagir.
A Fentect, principal federação de empregados dos Correios, convocou todos os
sindicatos da categoria para uma reunião de emergência na terça-feira. O
encontro, em Brasília, debaterá a possibilidade de greve na estatal.
"A empresa está se
aproveitando do argumento de crise financeira para impor uma estratégia de
sucateamento", afirma Suzy Cristiny da Costa, diretora da Fentect. Para
ela, o mecanismo das demissões motivadas está em linha com outro medida tomada
recentemente: o fechamento de 250 agências próprias em todo o país. Suzy
acredita que isso afetará a qualidade na prestação dos serviços e
sobrecarregará os trabalhadores. "Estão se mexendo para fazer a abertura
de capital."
Na avaliação de Marcos César Alves
Silva, representante dos empregados no conselho de administração, não há amparo
legal nas demissões planejadas e a crise da estatal tem causas mais profundas:
"Os resultados negativos não são decorrentes de problemas do mercado e nem
do inchaço nos quadros de pessoal".
Silva aponta pelo menos três
razões para o agravamento da situação financeira dos Correios: o recolhimento
exagerado de dividendos (foram transferidos R$ 6 bilhões ao Tesouro Nacional),
represamento de tarifas postais em anos eleitorais e excesso de indicações
políticas no comando da estatal.
Reduto do PMDB no governo Luiz
Inácio Lula da Silva, a diretoria dos Correios foi loteada entre dirigentes
petistas durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Seis meses
antes do impeachment, ela entregou os cargos para o PDT. Michel Temer colocou o
PSD na empresa.
Antes mesmo de anunciar as
demissões motivadas, a atual cúpula da ECT precisa lidar com outro desgaste. Há
poucos dias, os empregados foram avisados de que só poderão tirar férias ao fim
do segundo período aquisitivo. Trata-se de uma forma de economizar, no curto
prazo, com o adicional de 70% de férias garantido pelo acordo coletivo da
categoria (normalmente é um terço).
Para os sindicatos, a medida
alivia artificialmente o caixa e desorganiza a alocação de recursos humanos nos
próximos anos.
Valor Econômico
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