Göring, o
superministro de Hitler, aparece com o Fuhrer
em foto de 1934 (Foto: Getty)
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O maior líder nazista de todos os
tempos pode ser uma referência útil para compreender fenômenos de nosso tempo,
como a ascensão da extrema direita, o nacionalismo russo e Donald Trump.
Agora, o governo austríaco afirma
que destruirá ou alterará por completo a construção do século 17 para impedir
que neonazistas a transformem em um santuário. Mas talvez seja tarde demais.
Hitler não pode ser esquecido, mas
o que importa é como ele é lembrado.
Há uma placa do lado de fora do
prédio com a frase: "Pela paz, democracia e liberdade. Milhões de mortos
nos lembram: fascismo nunca mais".
Deveríamos nos esquivar da
história de Hitler ou notar que esse monstro ainda nos assombra? E se for uma
luz, em vez de uma sombra, que tem o potencial de lançar um novo olhar sobre
nosso tempo?
É útil ou desprositado que sua
memória seja usada para informar opiniões a respeito da ascensão da extrema
direita, o crescimento do nacionalismo russo, de figuras como o político
holandês Geert Wilders e do sucesso de Donald Trump?
Pode ser preocupante ignorar a
história em vez de ouvir o que ela tem a nos dizer. E a enorme fascinação e a
tremenda repulsa que Hitler ainda gera em nós escondem valiosas lições.
"Nazista!" tornou-se uma
espécie de insulto barato, destituído de valor e significado como qualquer
outro palavrão. Mas isso não pode nos impedir de ver além.
Este ícone do mal foi um político
de muito sucesso. Seus feitos foram tão monstruosos que outros assassinatos em
massa cometidos por políticos ficaram ofuscados.
É verdade que o todo debate se
transformou em uma espécie de máquina de comparações com os crimes de Mao Tse
ou Stalin, questionando porque o líder do Socialismo Nacional alemão evoca mais
horror e pavor.
Autoridades austríacas parecem se
preocupar com o mais óbvio e menos importante legado de Hitler: seu fã-clube.
Há vários pequenos grupos na
Europa - da Suécia ao Reino Unido - que reverenciam Hitler, mas, em geral, há
pouco apetite no continente para uniformes e homens em marcha ou entusiasmo
pela guerra.
Os ecos são mais sutis do que
isso. Há uma evidente e crescente atração por soluções não tradicionais,
particularmente aquelas propostas pela direita nacionalista e anti-imigração,
muitas com um forte senso de identidade étnica e cultural.
A maioria dos países europeus
estão observando um crescimento rápido desses partidos - diferentes entre si,
mas unidos em seu populismo.
Hitler não foi o primeiro
populista, mas ele foi um dos grandes expoentes deste estilo político.
Na sua essência, o populismo ataca
os grupos "de fora" - "os outros" - por meio de uma crítica
às elites, que são acusadas de mimar ou proteger esses grupos e trair "o
povo".
Hitler dizia ter uma visão quase
mística sobre o desejo do povo alemão, ou German Volk, e os líderes dos
movimentos atuais de extrema direita fazem interpretações pessoais muito
similares a essa com relação aos desejos de seus eleitores.
A extensa sombra de Hitler também
tem alguns ecos verbais, até mesmo não intencionais.
É por isso que o discurso sobre a
"lista de inimigos estrangeiros" feito na conferência do Partido
Conservador britânico nos faz pensar sobre as Leis de Nuremberg, um marco da
política antisemita de Hitler.
É também por isso que, quando a
premiê britânica Theresa May diz que "se você acredita ser um cidadão do
mundo, você é um cidadão de lugar nenhum", alguns lembram dos
antipatriotas "cosmopolitas sem raízes" ridicularizados por Hitler (e
Stalin) como a antítese do nacionalismo de puro sangue.
Também transforma em um pesadelo
simbólico a proposta feita pelos conservadores do Reino Unido de checar os
dentes de crianças imigrantes para comprovar que são menores de idade antes de
serem admitidas no país, apesar da rejeição do governo à medida.
Mas é preciso olhar além das
fronteiras da União Europeia para encontrar os políticos que mais se comparam a
Hitler, como, por exemplo, o presidente russo Vladimir Putin. Não por seu
nacionalismo do "super macho alfa", mas por sua política externa.
Hillary Clinton, David Cameron e o
Príncipe Charles já argumentaram que Hitler ocupou a Tchecoslováquia usando
como desculpa o tratamento aos alemães étnicos, enquanto Putin citou o destino
dos russos étnicos da Ucrânia e da Criméia para justificar seu envolvimento
militar nestes conflitos.
Aqui, Hitler lança uma sombra intrigante.
A lição mais simples pode ser que apenas uma ação militar é capaz de deter um
agressor como esse. Mas isso não aconteceu.
É interessante que os defensores
de Putin tirem conclusões diferentes: para eles, isso é o que acontece quando
um grande império está ferido e é tratado como um pária.
Talvez seja uma falácia, mas é
interessante que para os políticos ocidentais que fazem a comparação com
Hitler, assim como seus antecessores da década de 1930, considerem a
perspectiva de um conflito algo ruim demais para assumirem o risco de agirem.
Então, a sombra de Hitler leva a uma sensação de impotência.
E há mais uma coisa sobre o Grande
Ditador. O homem que quase comandou o mundo foi por algum tempo motivo de
piada.
Então, quando nos voltamos para o
candidato republicano à Presidência americana Donald Trump em busca de lições
sobre essa grande sombra, não tem nada a ver com imigração e nacionalismo ou o
tratá-lo como uma pessoa horrosa, mas sobre subestimar ou superstimar algúem.
Em cada estágio da ascensão de
Hitler ao poder, sábios comentáristas declararam que sua jornada havia chegado
ao fim - o carismático arrivista havia dado um passo maior que a perna.
Mesmo pouco antes de sua nomeação
como chanceler alemão, Hitler era caçoado como pouco sofisticado, um demagogo
sem habilidades que havia chegado o mais longe que podia.
Nacionalistas (não nazistas) e o
establishment diziam que, uma vez no poder, ele seria imobilizado pelos
burocratas. Ele até poderia incendiar as massas, mas os adultos o controlariam.
Um desdém similar da mídia e os
principais políticos americanos os levou a calcular mal o apelo de Trump, seu
poder persistente e sua crua habilidade.
O Partido Republicano está
obviamente dividido. Há muitos que pensam serem capazes de amordaçar Trump se
ele triunfar, o que não quer dizer que ele seria como Hitler no poder.
Mas os republicanos e
representantes do establishment que pensam que ele será um animal de carga
dócil que levará à frente suas políticas precisam rever sua opinião.
O que me leva a uma segunda
comparação. Hitler era um político determinado, que assumia compromissos
grandiosos e políticas pouco detalhadas. Sua essência era o compromisso em
tornar a Alemanha grande de novo ou, em termos atuais, "tomar de volta seu
país". Como isso seria feito raramente foi explicitado por ele.
E o ponto é justamente esse - a
natureza transformadora de sua própria figura garantiria que a missão fosse
cumprida. De forma similar, Trump depende de propagandear Trump. Seus negócios
e acordos e sua história de sucesso multimilionário são a garantia e a
promessa.
Depois de todas as revelações
recentes de abuso cometidos contra mulheres, pode parecer estranho que Trump
dependa de sua própria personalidade para convencer os eleitores, mas ele de
fato precisa disso. Ele próprio é a pedra filosofal de carisma que pode
transformar um metal comum em ouro.
Da BBC
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