Maximiliano
Ruiz durante entrevista à agência France Presse
em Buenos
Aires, na terça (18) (Foto: Eitan Abramovich/AFP)
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Maximiliano Ruiz nem sabia ser
adotado, mas se diz feliz com descoberta. Verdade veio à tona após prisão de
parteira que entregou certidões falsas.
Maximiliano Ruiz sente-se
agradecido e feliz por ter descoberto, há alguns meses, sua verdadeira origem e
conhecido a família que o procurava desde 1976, quando desapareceram seus pais,
militantes de esquerda na Argentina.
No último 3 de outubro, este homem
de 40 anos, que nem mesmo sabia que era adotado, recebeu um telefonema das Avós
da Praça de Maio para anunciar que é filho de Ana María Lanzillotto e Domingo
Menna, comandante do Exército Revolucionário do Povo (ERP, guerrilha marxista).
Ele foi identificado apenas como o
Neto 121 recuperado. Quinhentos bebês foram roubados ao nascer com suas mães em
cativeiro, durante a ditadura (1976-83).
"Estou vivendo isto com
felicidade", disse à AFP, refletindo imediatamente sobre o que chama de
"resignificados": estudou medicina, assim como seu pai biológico
(embora ele não tenha terminado a carreira) e descobriu poemas da mãe que ele
poderia ter escrito.
Conta que teve o apoio total de
Maria, sua esposa advogada, e que precisou contar sua história real para os
filhos, Mauricio, de 6 anos, e Carmela, de 4.
"Disse-lhes que tinha uma
notícia muito feliz para dar, que eu não saí da barriga da avó Monica, como
pensava", contou, lembrando ter dito que sua mãe verdadeira morreu e que
ninguém nunca lhe contou para que não ficasse triste. Mas adiantou que talvez
precisem mudar de sobrenome.
Rastreamento de DNA
Sua vida mudou completamente em
maio, quando foi contatado pela Comissão Nacional pelo Direito à Identidade
(CONADI). Em uma investigação de uma parteira condenada por entregar certidões
de nascimento falsas em uma clínica do sul de Buenos Aires, encontraram e dele
com elementos suspeitos.
"Fiquei surpreso com a
ligação, mas estava certo de que não era eu", contou.
Comentou com aquela a quem sempre
considerou sua mãe e ela assegurou que não podia ser verdade.
"A vi tão segura, tão
tranquila, que me pareceu ter me preocupado em vão", relatou. Acabou
aceitando fazer o exame genético pela admiração que sente pelo trabalho das
Avós da Praça de Maio.
Meses depois, quando "o tinha
bastante descartado", recebeu uma ligação na qual pediram que se
apresentasse com urgência à CONADI.
"Aí intuí tudo",
lembrou.
Até aquele mês, tinha sido filho
de um casal separado a quem ama muito. Era o irmão mais velho de Marina e
comemorava seu aniversário todo 24 de agosto.
"Fiquei cerca de meia hora
dentro do carro sem poder acelerar, com uma revolução interna",
acrescentou.
"Minha família aumentou"
Agora "de repente tenho um
irmão dois anos mais velho", disse Maximiliano sobre Ramiro Menna, com
quem tem uma semelhança extraordinária.
Ramiro, professor em La Rioja
(noroeste da Argentina), militante de esquerda e ex-missionário salesiano na
Etiópia, nunca parou de procurar o bebê que sua mãe levava no ventre quando foi
sequestrada.
"Quando me encontrei com
Ramiro, foi uma corrente de afeto imediata e era como se nos conhecêssemos por
toda a vida", contou Maximiliano, seguidor da Logosofia, uma doutrina
ético-filosófica que investiga o destino do homem.
A mesma conexão sentiu com o clã
Menna-Lanzillotto. "Uma alegria, um amor impressionante".
Maximiliano se surpreende ao saber
que seu pai biológico estudava medicina quando começou na militância política.
"Em casa não havia médicos,
eu me interessei desde o segundo grau, mas também tive minha curiosidade com a
política e as Humanas. Na universidade, participei de uma cátedra sobre o Che
Guevara", comentou. Define-se como uma pessoa de centro.
Além de médico da família, tem um
consultório de homeopatia e é professor universitário.
Cresceu em um lar com liberdade de
pensamento, apoia a defesa dos direitos humanos e considera a ditadura o pior.
Mas também põe em dúvida a liberdade da luta armada da guerrilha. "Tenho
muito o que ler agora", diz, referindo-se aos arquivos dos pais.
Sem críticas
O sentimento que predomina é de
"gratidão". "Por ter a família que me criou e depois por
conhecer esta família que esteve me procurando", afirmou.
"Não é que substitua uma
família por outra, mas sinto que a família aumentou", acrescentou.
"Contaram que minha mãe (de
criação) procurou ter filhos por muitos anos, não engravidou e passaram-lhe o
dado desta clínica. Em 24 de agosto de 1976, ligam para ela e dizem que tem um
bebê que uma jovem de 15 anos abandonou", revelou.
"Ainda tinha o cordão
umbilical", contou.
Mas Maximiliano compreende o que
eles podem ter vivido e os temores que podem ter sentido.
Após saber de sua história,
Maximiliano imediatamente se preocupou com os pais adotivos.
"O que ia acontecer com eles
do ponto de vista legal e como eles iam sentir tudo isto", explicou.
"Eu os amo muito, tenho uma
boa relação com eles", prosseguiu.
Da France Presse
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