Dois laudos periciais da Polícia
Federal, um de engenharia e outro contábil, listaram 292,5 milhões de reais em
doações eleitorais e partidárias do grupo entre 2008 e 2014, pagamentos
suspeitos feitos a empresas usadas para lavar dinheiro de operadores de
propinas e repasses para offshores (empresas com sede fora do país) e os
potenciais danos financeiros causados aos cofres públicos. Os documentos foram
anexados nesta semana aos autos da Operação Lava Jato que apuram o envolvimento
da empreiteira Andrade Gutierrez no esquema de cartel e corrupção na Petrobras.
"Tendo em vista que as
investigações realizadas no âmbito da Operação Lava Jato indicam que foram
utilizadas empresas de prestação de serviços (consultoria, advocacia,
engenharia e correlatas) para viabilizar pagamentos indevidos a funcionários da
Petrobras e a agentes públicos, e considerando que pagamentos realizados pela
Construtora Andrade Gutierrez a empresas investigadas por lavagem de capitais
ou a partidos políticos e a agentes públicos foram contabilizados,
primordialmente, em contas contáveis de 'doações', 'aluguéis' e 'prestação de serviços
por pessoa jurídica', 'procedeu-se à compilação dos principais pagamentos
realizados através dessas rubricas contábeis", informa o laudo da PF, em
Curitiba.
Executivos da Andrade Gutierrez fecharam acordo de delação premiada com o
Ministério Público Federal em que decidiram contar o envolvimento no cartel,
pagamentos de propina e ocultação de valores por meio de doações eleitorais e
partidárias oficiais. Além de Petrobras, se comprometerem a fornecer detalhes
sobre obras do setor energético, como a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e
construções de estádios para a Copa. A empresa negocia também acordo de
leniência com o Ministério Público Federal.
Em apenas quatro maiores obras da
estatal petrolífera em que participou, a PF apontou um prejuízo de pelo menos
1,9 bilhão de reais para os cofres públicos, por conta da majoração de preços e
do cartel montado pelo chamado "Clube dos 16" - composto pelas
maiores empreiteiras do país.
No quesito doações, o PT é o
partido que aparece com maior volume de recursos recebidos, 91 milhões de reais
- equivalente a 31%. O PSDB é o segundo, com 72 milhões de reais (24%), seguido
do PMDB, com 63 milhões de reais (21%), de acordo com dados lançados
oficialmente pela Andrade Gutierrez.
O laudo que lista as doações é de
25 de fevereiro e foi elaborado pelos peritos criminais federais Daniel Paiva
Scarparo, Audrey Jones de Souza e Ivan Roberto Ferreira Pinto. Ele toma como
base os dados oficiais lançados na contabilidade da empresa, a partir da quebra
do sigilo feita pela Receita Federal. Dos 292,5 milhões de reais doados pela
Andrade Gutierrez, 104 milhões de reais circularam pela conta contábil
"Overhead", que é considerada um caminho para pagamentos de valores
para empresas usadas para lavagem de dinheiro da Petrobras.
Pagamentos para empresas fora do
país, as offshores, também são listadas no documento. Constituídas legalmente,
o interesse da Lava Jato são nas que possam ter sido usadas para ocultar
propina e outros pagamentos irregulares.
O laudo foi produzido com base em
quebras de sigilos bancários de empresas que são investigadas "no âmbito
da Operação Lava Jato pela prática de lavagem de capitais e/ou pelo recebimento
dissimulado de recursos". Foram identificadas movimentações de doze delas.
A Legend Engenheiros Associados, do operador de propinas Adir Assad, recebeu
125 milhões de reais, em 174 operações entre 2006 e 2012. Outra empresa ligada
a ele, a S.P Terraplanagem Ltda recebeu outros 7,3 milhões de reais.
Outro operador de propinas que
recebeu valores da Andrade Gutierrez por empresas usadas para lavagem de
dinheiro foi Fernando Antonio Soares, o Fernando Baiano, que virou delator da
Lava Jato. A Technis Planejamento e Gestão em Negócios Ltda movimentou 2,96
milhões de reais em cinco transações entre 2007 e 2008. A empresa de outro
operador de propinas que se tornou delator aparece na lista, a Riomarine Oil e
Gás Engenharia e Empreendimentos Ltda, de Mário Góes, que recebeu 4,96 milhões
de reais, em trinta operações entre 2007 e 2009.
Procurada, a empreiteira Andrade
Gutierrez, informou por meio de sua assessoria de imprensa que não iria
comentar o caso.
(Com Estadão Conteúdo)
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