A prisão do senador Delcídio do
Amaral sob a acusação de atrapalhar o andamento da Justiça (tudo gravado em
áudio) é o desfecho de uma maré de más notícias que cercaram o senador nos
últimos meses. Primeiro foi ver seu nome ligado à Operação Lava Jato (depois a
investigação foi arquivada), na sequência foi filmado por socialites cariocas
na ilha espanhola de Ibiza em meio à crise política brasileira e, por último,
teve de explicar a ação de um motorista seu, que trocou sopapos com um deputado
na entrada do Congresso Nacional.
Se de todas essas ele conseguiu se
safar sem nenhuma mácula, dificilmente sairá completamente limpo da última.
Ainda mais depois que o presidente do PT, Rui Falcão, emitir uma dura nota
sobre a sua prisão. Eis um trecho do documento petista: "Nenhuma das
tratativas atribuídas ao senador tem qualquer relação com sua atividade
partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado. Por isso mesmo, o PT
não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade".
Delcídio nunca teve vida fácil
dentro do PT. Diretor da Petrobras durante os anos Fernando Henrique Cardoso,
foi alçado como candidato ao Senado pelo Mato Grosso do Sul em 2002 a
contragosto de boa parte do partido, que o via como um representante do PSDB.
Pesou a seu favor, seus bons contatos na área financeira e com fortes doadores
de campanha, entre eles o ex-bilionário Eike Batista, empresário que atuava na
área de mineração.
Neófito na política, Delcídio
conseguiu pegar duas ondas vermelhas em seu Estado. A primeira era do até
então, bem avaliado Governo de José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT –
que foi reeleito naquele ano— e a de Luiz Inácio Lula da Silva, que venceria
naquela ocasião José Serra (PSDB) na eleição presidencial. Acabou eleito mesmo
com menos apoio interno do que qualquer vereador já tivera. A boa aparência com
suas bem-tratadas madeixas grisalhas (hoje já são em sua maioria brancas), a
facilidade em discursar e ter o dono do maior jornal sul-mato-grossense
(Antonio João, do Correio do Estado) como seu primeiro suplente também o
ajudaram.
Logo após chegar ao Senado, foi
“premiado” com o cargo de presidente da CPI dos Correios, aquela comissão que
investigou o escândalo do mensalão petista. A escolha dele levou em conta a
razão de que o PT precisava ter um representante no comando do grupo, mas não
poderia colocar uma “raposa velha” da política. Internamente foi bem avaliado e
saiu com a pecha de que era uma pessoa que prezava pela ética no Congresso
Nacional.
Enquanto ganhava os holofotes no
cenário nacional, em seu Estado sofria duas fortes derrotas políticas. Perdeu
as eleições para governador em 2006 e em 2014. Na última vez, quando era
favoritíssimo, escondeu o vermelho do PT para fugir do escândalo da Lava Jato
e, mesmo assim, foi derrotado pelo seu antigo aliado, o PSDB. Um dos motivos
para as derrotas, mais uma vez, foi a falta de apoio de sua legenda. O
ex-governador e hoje deputado federal Zeca do PT, por exemplo, rompeu com ele
em mais de uma ocasião. No meio dessas duas derrotas, Delcídio conseguiu se
reeleger senador e, neste ano, foi escolhido o líder do Governo Dilma Rousseff
no Senado.
Quando Dilma Rousseff o escolheu
como seu representante no Senado, Delcídio decidiu assumir um cargo que poucos
queriam. Dizia à época que pegou uma “bucha” e, em alguns momentos, pensou em
recusá-la. Aliados de Rousseff diziam que ele era a pessoa mais adequada para a
função pelas mesmas razões que o elevaram a presidente da CPI dos Correios, era
petista, pero no mucho. Seu bom trânsito entre as bancadas dos opositores e do
PMDB, principalmente, também ajudaram na sua assunção ao cargo.
O agravamento da crise política
petista e a demora da presidenta a fazer uma reforma ministerial o forçavam a
reavaliar sua decisão. Pensou em deixar o cargo e sua insatisfação era muito
comum nas conversas com jornalistas. Nos últimos meses pouco participava das
reuniões de coordenação política do Governo Rousseff por entender que
audiências com mais do que três pessoas pouco funcionavam. “Quem quer ouvir 15
pessoas não ouve ninguém”, costumava dizer. Seus colegas do Legislativo, porém,
raramente faltavam aos encontros. O senador José Pimentel e o deputado José
Guimarães são figuras frequentes nas audiências.
Sempre falou palavrão
escancaradamente, quando não estava em público. Não poupava quase nenhum
ministro. Nos últimos tempos, os diálogos eram marcados mais por xingamentos a
colegas de partidos do que qualquer outra coisa. Agora lê, na prisão, parte do
troco, nas palavras do PT.
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