Disfarçada para enganar a fiscalização, droga é até 100
vezes mais potente que a maconha natural.
Parece uma erva comum, dessas que a gente usa na cozinha:
erva-doce, orégano, chá verde. Mas a mistura tem um ingrediente secreto:
maconha sintetizada em laboratório. Até 100 vezes mais potente que a maconha
natural.
Disfarçada para enganar a fiscalização, a droga tem entrado
no Brasil sem maiores problemas.
Parece maconha, tem os efeitos da maconha, mas não é. A
droga é um composto feito em laboratório para enganar autoridades em todo o
mundo. Uma substância química que tem os mesmos efeitos da maconha e que pode
ser misturada a qualquer outra erva. Mas não é ilegal.
“Essa tem o cheiro de chá verde. Essa outra de erva doce. E
esse de açafrão. Realmente, nenhuma dessas ervas tem aquele cheiro de maconha”,
explica o repórter.
A maconha de laboratório é vendida como fumo para ser usada
em cigarros.
No laboratório da Polícia Federal em Brasília, são
analisadas todas as drogas sintéticas que entram no país. Só este ano, eles
conseguiram identificar oito novas substâncias que eram totalmente
desconhecidas pelas autoridades brasileiras.
Fantástico: Onde elas são produzidas?
João Carlos Ambrósio, perito criminal federal: Principalmente na China e sudeste asiático. Elas são enviadas para a Europa e na Europa é que se produz o material que é colocado à venda, principalmente em sites de internet.
Os traficantes usam diversas substâncias que imitam a
maconha. Entre os pesquisadores, elas são conhecidas como 'canabinoides' - vem
do nome científico para a maconha: Cannabis Sativa.
A lista de compostos químicos é imensa: MAM-2201, JWH-210,
JWH-250, XLR-11, entre inúmeras outras.
Nas ruas e na rede, elas têm apelidos mais sedutores: 'Hi5',
'incenso do mal' e o mais comum, 'spice', pimenta em inglês.
“São compostos que simulam ou têm uma reação muito parecida
com o THC que é o princípio ativo da maconha”, explica João Carlos Ambrósio.
As drogas sintéticas agem nas mesmas áreas do cérebro
afetadas pelo THC.
“Provocam relaxamento, euforia e podem estar associados
também a alguns efeitos adversos, como o desenvolvimento de taquicardia,
hipertensão e eventualmente manifestações paranoides e até psicóticas em
algumas pessoas mais suscetíveis”, diz Rafael Linden, toxicologista.
Os riscos para a
saúde são grandes.
“Nós não sabemos exatamente a composição desses produtos,
que podem ser muito variados e mesmo a concentração presente pode ser muito
variável. Então os efeitos são quase imprevisíveis”, afirma Rafael Linden.
Mundialmente, já foram identificadas mais de 600 variações
desse tipo de maconha, sintetizada em laboratório.
Apenas uma delas é proibida no Brasil: a JWH-018.
A última atualização da lista de drogas proibidas no Brasil
aconteceu há pouco menos de um mês, depois de uma reportagem do Fantástico
sobre outras duas drogas sintéticas: a Metilona e a 25I-NBOMe.
As duas foram proibidas desde então, com outras 19 novas
substâncias.
Em nota, a Anvisa diz apenas que os canabinoibes proibidos
no Brasil são o próprio THC e o JWH-018.
Segundo a Polícia Federal, o consumo de drogas sintéticas
está aumentando no país.
“O nível de apreensão aumentou bastante, ano passado nós
tivemos ações contra maconha, por exemplo, que foram mais de 220 toneladas de
apreensão, e o mercado do tráfico ele é muito dinâmico, se você aperta de um
lado eles vão fugir para o outro e a droga sintética começa a ser uma opção”,
explica o chefe da Coordenação da Polícia de Combate às Drogas, César Luiz
Busto de Souza.
Para o delegado, a lei precisa ser mais flexível: “Ponto é
importante que a legislação seja mais flexível, que as autoridades policiais,
Ministério Público, Poder Judiciário possa agir de uma maneira que abranja
aquele efeito da droga e não somente uma formula química que pode ser mudada
num ato simples de um especialista que está produzindo aquela droga”, explica.
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