Autoridades locais acreditam que as chamas se propagaram
rapidamente pelas redes de plástico que cobriam os andaimes de bambu instalados
para as obras e que não atendiam às normas de resistência ao fogo
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee,
anunciou nesta terça-feira (2) a criação de um “comitê independente” liderado
por um juiz para investigar o incêndio da semana passada que matou 151 pessoas
em um complexo de arranha-céus residenciais em reforma.
As autoridades afirmam que o incêndio, o mais grave
registrado na cidade semiautônoma chinesa em décadas, se propagou rapidamente
através das redes de plástico que cobriam os andaimes de bambu instalados para
as obras e que não cumpriam as normas de resistência ao fogo.
“Estabelecerei um comitê independente para fazer uma revisão
ampla e profunda, reformar o sistema de obras em edifícios e evitar tragédias
semelhantes no futuro”, afirmou Lee em uma entrevista coletiva.
A comissão será presidida por um juiz, acrescentou. Hong
Kong dispõe de um mecanismo legal para criar “comissões de investigação”,
lideradas no passado por juízes para coordenar tarefas complexas de
investigação, uma prática herdada do domínio colonial britânico.
Lee, que usou a expressão “comitê independente”, disse à AFP
que as autoridades identificaram várias falhas e que são necessárias mudanças
nas normas de segurança, supervisão, construção e manutenção.
O órgão anticorrupção e a polícia de Hong Kong iniciaram uma
investigação conjunta e anunciaram a detenção de 14 pessoas, 13 delas por
suposto homicídio culposo relacionado ao incêndio no complexo Wang Fuk Court,
no distrito norte de Tai Po.
“Os culpados tentaram misturar redes de qualidade inferior
com redes certificadas para enganar os órgãos de inspeção e as forças de
segurança”, afirmou Lee. A cidade continua abalada pela tragédia. Milhares de
pessoas depositaram flores e prestaram homenagens durante um período de luto de
três dias. Alguns bilhetes deixados no local pedem que os culpados sejam responsabilizados.
A imprensa local informou que várias pessoas que pediam
explicações sobre a tragédia foram detidas.
“Intenção sediciosa”
Miles Kwan, um estudante de 24 anos, foi supostamente detido
pela polícia por “intenção sediciosa” após distribuir panfletos que exigiam a
responsabilização do governo pela tragédia. Uma petição online que continha as
quatro demandas de Kwan, incluindo o pedido de uma investigação independente,
reuniu mais de 10.000 assinaturas em menos de um dia, antes de ter o conteúdo
apagado.
Um correspondente da AFP observou o momento em que Kwan saiu
de uma delegacia do distrito de Cheung Sha Wan na segunda-feira em um táxi, mas
não conseguiu obter nenhum comentário. Segundo a imprensa local, outras duas
pessoas, incluindo o ex-vereador Kenneth Cheung, também foram detidas.
Cheung informou na segunda-feira no Facebook que havia
“retornado para casa após o pagamento de fiança”. Ao ser questionado sobre as
detenções, Lee respondeu à AFP: “Não vou tolerar nenhum crime, em particular
dos que se aproveitam da tragédia que estamos vivendo”.
“Algumas pessoas com motivações ocultas (tentam) colocar em
perigo a segurança de Hong Kong e a segurança nacional da China“, afirmou. “Portanto,
devemos adotar as medidas adequadas, incluindo medidas policiais”, acrescentou,
sem revelar mais detalhes.
Hong Kong, que em 1997 passou do domínio britânico para o
chinês, viu o controle de Pequim ser reforçado com uma rigorosa lei de
segurança nacional promulgada em 2020 como resposta a manifestações
pró-democracia.
No ano passado, uma lei aumentou para sete anos a pena por
sedição. Desde o início de novembro, as autoridades do centro financeiro
prenderam 348 pessoas por diversos crimes relacionados à segurança nacional e
condenaram 172.
O incêndio que destruiu sete das oito torres de 31 andares
de Wang Fuk Court foi o mais letal em um edifício residencial desde 1980. A
polícia concluiu na segunda-feira as buscas em cinco edifícios afetados e
informou que encontrou corpos de vítimas nos apartamentos, corredores e
escadas.
Algumas famílias retornaram na segunda-feira a Wang Fuk
Court para iniciar os rituais funerários tradicionais.
Com informações
da AFP

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