Bandido se irrita: 'Mano, tá me
ameaçando?' Conversa integra relatório da PF que investigava compra de fuzis e
pistolas por traficante carioca. No documento obtido pelo g1, policial chega a
ligar para criminoso pedindo ajuda para recuperar carro roubado.
Investigações da Polícia Federal
mostram uma relação próxima entre o traficante de drogas e armas Phillip da
Silva Gregório, o Professor, apontado como um dos
chefes da facção criminosa Comando Vermelho, e diferentes setores da Polícia
Militar do Rio de Janeiro.
Relatório da PF, obtido
pelo g1, mostra que o criminoso
negocia valor da propina com PMs, que reclamam do valor pago semanalmente (veja
a troca de mensagens abaixo).
Os policiais chegam a dizer que o
valor é baixo e ameaçam retomar as operações na comunidade caso o valor não
aumente, o que irrita o traficante. A conversa acontece durante o dia 27 de
fevereiro de 2022.
As conversas fazem parte da investigação Dakovo, que apurou a compra
de armas por facções criminosas no Paraguai. O traficante Professor
é apontado como responsável por adquirir fuzis e pistolas para o Comando
Vermelho.
Os contatos do criminoso são
constantes com vendedores de armas no Paraguai, Bolívia e Colômbia.
PM cobra aumento da propina
- Policial: "Outra parada, você sabe
quanto você manda para a gente lá pelo engenho? A gente nn está acostumado
com esse valor baixo nn mano, vc vende pra caramba, favela grande e só
manda isso aí. 1.200 (R$ 1,2 mil) mano. É melhor ficar indo aí do que
pegar esse valor... Para melhorar essa sintonia, vc tem que começar a
melhorar esse valor"
- Professor: Mano, tá me ameaçando? Tá falando
que vai começar a entra na favela. Aqui é papo de homem. Valor é 1.200 se
quiser aumentar o seu tenho que aumentar todos agora... Vida do crime tô
nessa maior tempão. Vem nessa de melhorar sintonia não. Não quer não pega.
Tem que saber falar comigo. Vc tá falando com Professor, mano. Não é
nenhum bola rasteira não. Trato geral no respeito e geral respeita minha
palavra. Aprende a falar.
Na troca de mensagens entre
Professor e policiais do RJ, durante os anos de 2022 e 2023, é possível ver o
traficante ainda recebendo pedidos para a devolução até de um carro roubado.
Os investigadores suspeitam que o
contato seja feito por um policial. Ao traficante, ele diz que liga à pedido de
"uma coronel da PM". O pedido é a recuperação de um veículo roubado
por integrantes do CV.
De acordo com o telefonema, o
veículo é devolvido. O traficante garante que a chave está no interior do
carro. A ligação acontece em 23 de março de 2023. O policial que faz contato
com Professor é identificado apenas como Hulk.
Traficante Professor com uma
pistola na cintura em festa no interior do Complexo do Alemão — Foto:
Reprodução
Pedido de coronel para
devolver carro
- Policial: "A coronel tá ligada. Ela
pediu para te ligar. Ela falou insistir aí vê se ele ajuda.
- Professor: "Mandei devolver tudo pra
não roubar nada. Tá tudo dentro do carro
- Policial: Pode deixar.
- Professor: Puder ficar o máximo entocado,
melhor. Nós já deu um papo geral. Vai dá uma sumida na hora. Eles mandou
também.
- Policial: Tá maluco. Esse carro é de um
político aí. Nem sei quem é esse pica. Mais (sic) para ela mandar te ligar
essa hora. Já mandou agradecer.
- Professor: Se precisar nós está aí, blz
- Policial: Vai poder largar lá agora. Tmj.
- Professor: Posto desativado Inhaúma, chave
está dentro do carro, blz? já está ok.
Boletim interno da PM
A proximidade do traficante com
integrantes da PM do Rio chamou a atenção de investigadores da PF. O criminoso
chega a ter acesso a um documento interno da polícia.
Em 18 de maio de 2022, o Boletim
Interno da PM, número 88, trouxe as mudanças e as novas lotações de policiais
nas Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs.
A tela com o documento é enviado
ao traficante. No documento constam os nomes e RGs dos PMs na corporação. Ou
seja, policiais e suas identidades expostas a um dos chefes de uma das maiores
facções criminosas do país.
Nesta semana, o g1 mostrou que um PM comunicava ao traficante que estava
mudando de UPP. Essa notícia foi antecipada por O Globo em sua
edição de segunda-feira (28).
O traficante Professor está
foragido desde 2018. Ele foi preso pela Polícia Federal em março de 2015 numa
das poucas vezes em que deixou o Complexo do Alemão. Em 23 de setembro de 2018
recebeu um benefício da Justiça para visitar a família e não retornou mais.
Por Marco Antônio Martins, g1 Rio
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