Durante os mais de 15 meses de guerra em Gaza, desencadeada pela ofensiva do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, Netanyahu foi duramente criticado. EFE/EPA/ABIR SULTAN / POOL
Governo israelense ainda não deu
sua aprovação ao acordo anunciado na quarta-feira (15) pelo Catar e pelos
Estados Unidos
Benjamin
Netanyahu vem sendo pressionado há meses por aliados políticos e
pelas famílias dos reféns para acabar com a guerra em Faixa de
Gaza. Agora, com o acordo de trégua, o primeiro-ministro israelense
espera permanecer no poder, dizem os analistas. O governo israelense ainda não
deu sua aprovação ao acordo anunciado na quarta-feira pelo Catar e
pelos Estados
Unidos. Na manhã desta quinta-feira (16), ele o condicionou à resolução
de uma “crise” de última hora provocada pelo Hamas,
que, de acordo com o gabinete de Netanyahu, “recuou em alguns pontos”.
O movimento islamista negou
categoricamente o fato e disse que mantém o acordo anunciado. Durante os mais
de 15 meses de guerra em Gaza, desencadeada pela ofensiva do Hamas contra
Israel em 7 de outubro de 2023, Netanyahu foi duramente criticado em seu país
por não ter conseguido impedir o ataque e por não ter feito o suficiente para
libertar todos os reféns. Ele também foi acusado de prolongar a guerra para permanecer
no poder e escapar de processos por corrupção.
Cerca de 800 pais de soldados que
lutam em Gaza lhe enviaram uma carta no início deste mês dizendo que não podiam
mais “permitir que o senhor continuasse a sacrificar” seus filhos “como bucha
de canhão”. Mais de 400 soldados foram mortos no território palestino desde o
início da guerra. Mas os membros de extrema direita da coalizão de Netanyahu
ameaçaram deixar o governo se um cessar-fogo for assinado e pressionaram por
uma resposta israelense ainda mais dura em Gaza.
Explorando o acordo
Os analistas acreditam que é
improvável que as controvérsias em torno da guerra de Gaza e seu resultado
derrubem um homem que é considerado um mago da política e que é o
primeiro-ministro que está há mais tempo no cargo na história do Estado de
Israel. Muitos concordam que “Bibi”, como o primeiro-ministro é popularmente
conhecido em Israel, provavelmente encontrará uma maneira de capitalizar o
acordo de cessar-fogo e talvez se distanciar da extrema direita.
O acordo poderia até mesmo abrir
caminho para a normalização das relações com a Arábia Saudita, uma meta há
muito tempo buscada e apoiada pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump. “A
questão é o que Netanyahu ganha com o acordo, além da libertação dos reféns e
do cessar-fogo”, disse Anshel Pfeffer, jornalista e autor de uma biografia do
primeiro-ministro. É possível que o acordo de Gaza “seja parte de algo muito
maior”, porque “Trump quer um acordo” entre Israel e a Arábia Saudita, o que
levanta “a questão do legado” que Netanyahu deixará para trás.
“Isso continuará a assombrá-lo”
Depois de praticamente esmagar
seus inimigos, Gayil Talshir, cientista político da Universidade Hebraica de
Jerusalém, disse que Netanyahu talvez não precise mais contar com a extrema
direita. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e o ministro da Segurança,
Itamar Ben Gvir, são ambos membros da extrema direita do gabinete de Netanyahu
e expressaram oposição ao acordo. “É bem possível que Smotrich e Ben Gvir não
façam parte de tal acordo” e que “Netanyahu esteja se preparando para esse
dia”, disse Talshir.
O analista lembrou que várias
figuras da oposição, incluindo seu líder Yair Lapid, já indicaram que
trabalhariam com Netanyahu se ele chegasse a um acordo para libertar os reféns.
Para Aviv Bushinsky, comentarista político e ex-chefe de gabinete de Netanyahu,
a turbulência política em torno do cessar-fogo “não muda a situação”. Mas ele
acredita que o legado de Netanyahu será manchado pelo dia 7 de outubro e pelo
destino dos reféns, alguns dos quais, segundo ele, talvez nunca sejam
encontrados. “Ele vai querer que as pessoas se lembrem dos que ele conseguiu
trazer de volta, e não dos que não conseguiu”, mas “isso continuará a
assombrá-lo”, prevê.
*Com informações da AFP
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