Dez anos depois do ataque jihadista que devastou sua redação, a revista satírica francesa Charlie Hebdo lançará nesta segunda-feira (6) um número especial com caricaturas sobre Deus, reafirmando que seu desejo de rir “nunca desaparecerá”.
Com cerca de quarenta ilustrações
de 28 países diferentes, a edição de 32 páginas visa mostrar que o espírito dos
criadores da revista continua “inquebrantável”. Na capa, um leitor está sentado
sobre um rifle de assalto, sorrindo e lendo a publicação. O autor da caricatura
é Riss, atual diretor da revista e um dos sobreviventes do atentado.
Em editorial, Riss destaca: “A
sátira possui uma virtude que nos ajudou a atravessar esses anos trágicos: o
otimismo. Se alguém tem vontade de rir, é porque tem vontade de viver. O riso,
a ironia e a caricatura são manifestações de otimismo. Aconteça o que
acontecer, seja dramático ou feliz, a vontade de rir nunca desaparecerá”.
No dia 7 de janeiro de 2015, doze
pessoas, incluindo oito membros da redação, perderam a vida no ataque ao
semanário, perpetrado pelos irmãos Kouachi, franceses de origem argelina, que
juraram lealdade à Al Qaeda.
Entre as vítimas estavam o
cartunista Charb, além de duas lendas da caricatura na França, Cabu e Wolinski.
Fundada em 1970, a Charlie
Hebdo é uma revista irreverente com um público fiel, porém restrito.
Após a tragédia, a publicação se tornou um dos maiores símbolos mundiais da
liberdade de expressão. Com essa bandeira firmemente defendida, a revista se
transformou em um importante veículo de imprensa, com longos artigos que
discutem a atualidade. “Para que editar um jornal se não for com esse
objetivo?”, questiona Riss no editorial.
Segundo ele, “hoje em dia, os
valores da Charlie Hebdo, como humor, sátira, liberdade de
expressão, ecologia, laicidade e feminismo, entre outros, nunca foram tão
questionados”. E completa: “Talvez porque a própria democracia esteja sendo
ameaçada por forças obscurantistas renovadas.”
Desde 2006, quando publicou
caricaturas do profeta Maomé, a Charlie Hebdo é alvo constante
de ameaças jihadistas. Embora sua sede seja atualmente secreta e seus redatores
estejam sob medidas de segurança extraordinárias, a revista segue publicando
dezenas de milhares de exemplares todas as semanas.
Em novembro passado, os criadores
da Charlie Hebdo anunciaram um concurso internacional com o tema
#rirseDeus, convidando artistas de todo o mundo a “desenhar sua raiva contra o
controle de todas as religiões sobre suas liberdades”. Entre as caricaturas,
uma mostra Jesus Cristo crucificado fazendo um selfie, e outra apresenta homens
com turbantes segurando um cartaz escrito: “A teocracia é legal”.
Um dos cartunistas participantes
afirmou: “Como você pode fazer uma caricatura de algo que não existe? Este
concurso é uma estupidez.”
A revista também publicou os
resultados de uma pesquisa realizada em junho de 2024, que mostra que 76% dos
franceses considera que “a liberdade de expressão é um direito fundamental e
que a liberdade de caricaturizar faz parte disso”. Além disso, 62% dos
entrevistados são a favor do “direito de criticar de forma provocadora uma
crença, um símbolo ou um dogma religioso”. No entanto, 62% acredita que “não se
pode rir de tudo”.
A pesquisa foi realizada por meio
de um questionário voluntário online entre os dias 31 de maio e 1 de junho, com
uma amostra representativa de 1.000 pessoas com mais de 18 anos.
Os atentados de 7 de janeiro de
2015 causaram comoção mundial e originaram o famoso slogan de apoio: “Je suis
Charlie”. Em 11 de janeiro de 2015, cerca de 4 milhões de pessoas se
manifestaram por toda a França, com a presença de vários chefes de Estado e de
governo no desfile de Paris. Dez anos depois, as comemorações organizadas nesta
terça-feira contarão com a presença do presidente Emmanuel Macron e vários
ministros.
Fonte: AFP
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