Uma das mensagens é datada de
27 de março. Lourival pede que a filha, Maria Luiza, orientar o advogado sobre
o carro que foi apreendido no ato da prisão. Ele diz: "Fala pro adv sobre
o carro, pra ele ter cuidado pois pode voltar contra mim, sacou?".
Um relatório da Polícia Civil
indica que Lourival Fatica, assassino
confesso da advogada Anic Herdy, trocou mensagens com a filha em dias
diferentes depois de ser preso. Na ocasião, ele estava usando o celular na
Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde estava desde o dia 22
de março.
Uma das mensagens é datada de 27
de março. Lourival pede que a filha, Maria Luiza, orientar o advogado sobre o
carro que foi apreendido no ato da prisão. Ele diz: "Fala pro adv sobre o
carro, pra ele ter cuidado pois pode voltar contra mim, sacou?".
Depois, ele avisa: "Hoje não
chamo mais, amo você, tô na sala dos polícias", indicando que
não conseguiria mais contato com a filha.
Em outra conversa, ele diz que é
para Maria salvar as mensagens e apagar a conversa. Ele dá diversas ordens de
pagamentos a serem feitos, como luz, gás, aluguel, seguros e parcela de
veículos.
Ele diz que é para o namorado de
Maria Luiza "trocar R$ 2 mil toda semana no Rio. Você [Maria] fica na loja
e ele desce. Assim que trocar, deposita na conta dele no Rio, saca em
Teresópolis e dá pra sua mãe".
Reprodução simulada
Lourival
participou da reprodução, no mês passado. Na primeira parte, ele ficou
dentro de um carro semelhante ao que utilizava no dia que a vítima foi vista
viva pela última vez, perto de um shopping em Petrópolis. Uma perita da
Polícia Civil fez o papel de Anic.
A segunda parte da reprodução
aconteceu em um motel no distrito de Itaipava, em Petrópolis. Segundo
Lourival, foi lá que ele teria matado a vítima.
Uma reprodução simulada também
aconteceu na casa de Lourival, em Teresópolis, onde o corpo de Anic foi
encontrado.
A polícia chegou ao local pouco
depois das 15h e tirou a terra da frente da garagem para tentar reproduzir a
dinâmica do momento em que o corpo de Anic foi enterrado e concretado, segundo
a versão de Lourival.
Um homem que teria ajudado
Lourival a cavar o buraco também foi chamado para participar da reprodução.
Segundo a Polícia, ele não é investigado por suspeita de participar do
crime. Uma boneca chegou a ser usada para simular o corpo de Anic.
Relembre o caso
A busca por Anic durou quase 7
meses. Inicialmente, acreditava-se que ela tinha sido sequestrada.
A advogada foi vista pela última
vez em 29 de fevereiro, parando o carro em um shopping na Rua Teresa, em
Petrópolis, e andando a pé pelo polo comercial. Nenhuma câmera flagrou Anic
sendo rendida, mas o carro de Lourival foi visto na região e no mesmo horário.
Ainda no 29 de fevereiro, à noite,
o marido de Anic, Benjamin Cordeiro Herdy, recebeu no celular uma mensagem
enviada do número dela comunicando do sequestro. Mas, nessa hora, Anic
provavelmente já estava morta.
A pessoa que escrevia a Benjamin
exigiu um resgate
de R$ 4,6 milhões e mandou que todas as tratativas até a soltura fossem
conduzidas por Lourival. O homem era um faz-tudo dos Herdy e virou amante
de Anic.
Para os investigadores, o
“sequestrador” era Lourival o tempo todo. Entre transferências, compras de
bitcoins e saques em dólar, Benjamin pagou R$ 4,6 milhões aos “sequestradores”,
na esperança de rever a esposa. A soltura seria no dia 11 de março, mas Anic
não apareceria.
O esquema só foi descoberto
graças à filha de Anic, Lara, que desconfiou da atitude de Benjamin diante de
Lourival, e procurou a polícia em 14 de março.
A defesa de Lourival afirma
que Benjamin foi o mandante do crime. Os advogados que representam
Benjamin negam as acusações.
A família de Anic divulgou o
seguinte texto, assinado pelo advogado João Vitor dos Santos Ramos:
"Em relação à reprodução
simulada realizada no dia 23 de outubro de 2024, quem acompanhou a diligência
teve a oportunidade de testemunhar mais um lamentável episódio de
espetacularização do caso.
Conforme amplamente noticiado,
a diligência tinha como objetivo reproduzir a mais recente versão inventada por
Lourival. Sem entrar no mérito da excentricidade da iniciativa dessa
reprodução, que foi determinada pelo juízo, sem oposição do Ministério Público,
após meses de investigação e a partir do requerimento convenientemente
formulado por Lourival após novamente modificar a sua versão, Lourival apenas
comprovou, na prática, seguir mentindo.
Embora as inconsistências da
última narrativa de Lourival sejam evidentes, o excelente trabalho realizado
pela Polícia Civil do estado do Rio de
Janeiro mais uma vez não teve dificuldade em elucidar, agora no
contexto da reprodução simulada, que o medíocre discurso ensaiado por Lourival
não tem o mínimo indício de veracidade.
Por esse motivo, não é correto
falar em conflito ou guerra de versões entre Lourival e Benjamim,
principalmente porque Benjamim é vítima e os fatos imputados a Lourival,
Rebecca, Maria Luiza e Henrique decorrem de criteriosa apuração realizada pela
Policia Civil e constam de denúncia oferecida pelo Ministério Público, de modo
que, se é possível falar em conflito de versões, esse conflito existe
internamente e tão somente entre as inúmeras versões contadas por Lourival –
pessoa que por anos se apresentou falsamente como policial federal, conforme
atestado por diversas testemunhas.
Nesse contexto de sucessivas
alterações nas versões de Lourival, o resultado da reprodução simulada, que
será externado de maneira técnica pelos peritos, será somado ao vasto acervo
probatório dos autos e corroborará a extorsão mediante sequestro e com
resultado morte, além da grave ocultação de cadáver, perpetrada pela
organização criminosa familiar formada por Lourival, Rebecca, Maria Luiza e
Henrique.
Assim, a família de Anic segue
acreditando no avanço das investigações, sobretudo em relação à localização e à
recuperação dos 950 celulares, cuja aquisição e remessa foi negociada por Maria
Luiza, assim como em relação aos dólares e demais valores ainda não recuperados
e que estavam sendo manejados por Henrique, quando ambos estavam em liberdade -
que na última semana fora restabelecida, em franco prejuízo das iniciativas de
recuperação dos produtos e dos proveitos do crime".
Por Leslie Leitão, g1 Rio
e TV Globo
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