PT ganhou em uma capital, contra
PSD (5), MDB (5) e PL (4)
A eleição municipal de 2024 trouxe vitórias ao
centro e à direita brasileira. O partido com mais vitórias foi o PSD, de Gilberto Kassab, com 885 prefeituras.
Em seguida vêm MDB (853), PP (746), União Brasil (583) e PL (516).
O PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aparece em 9° lugar no
ranking dos partidos que mais elegeram prefeitos neste ano. E as legendas mais
alinhadas à esquerda saíram enfraquecidas.
Nas capitais, o PT elegeu um prefeito.
O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, emplacou quatro candidatos nas capitais.
O MDB e o PSD também aparecem na
frente nessa disputa, com cinco eleitos cada um.
Para o advogado Admar Gonzaga,
ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), venceram o pleito de 2024 as
pautas da direita, que foram oferecidas pelos partidos de centro.
“Não foram os partidos de centro
que foram vitoriosos nesse segundo turno. Não vejo isso. Os partidos de centro
foram vitoriosos com propostas da direita. Até candidatos do PT começaram a
negar os seus postulados, como ser pró-aborto”, afirma.
As pautas defendidas pela
direita, conforme o ex-ministro, são, entre outras: a proteção à família,
liberdade de expressão, liberdade de imprensa e defesa da pátria.
Segundo Gonzaga, ainda é preciso
observar o avanço do centro e da direita no Nordeste, tradicionalmente reduto
eleitoral de legendas alinhadas à esquerda. As duas capitais que serão
comandadas por mulheres, a partir de 2025, por exemplo, elegeram candidatas do PP
e do PL.
Em Aracaju (SE), o PL elegeu
Emília Corrêa, com cerca de 57% dos votos. Ela é a primeira mulher a conquistar
o posto no município. Já em Campo Grande, Adriane Lopes (PP) foi reeleita com
51,45% dos votos.
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PARTIDO |
PREFEITOS ELEITOS |
PORCENTAGEM |
PSD |
885 |
16,06% |
MDB |
853 |
15,48% |
PP |
746 |
13,53% |
UNIÃO |
583 |
10,58% |
PL |
516 |
9,36% |
REPUBLICANOS |
433 |
7,86% |
PSB |
309 |
5,61% |
PSDB |
273 |
4,95% |
PT |
252 |
4,57% |
PDT |
151 |
2,74% |
AVANTE |
133 |
2,41% |
PODE |
122 |
2,21% |
PRD |
76 |
1,38% |
SOLIDARIEDADE |
62 |
1,12% |
CIDADANIA |
33 |
0,60% |
MOBILIZA |
21 |
0,38% |
PC do B |
19 |
0,34% |
NOVO |
19 |
0,34% |
PV |
14 |
0,25% |
REDE |
4 |
0,07% |
AGIR |
3 |
0,05% |
DC |
2 |
0,04% |
PMB |
2 |
0,04% |
PRTB |
1 |
0,02% |
Luce Costa/Arte R7. quantidade de PREFEITOS ELEITOS por partido.
Fonte: TSE
Apesar de ter perdido em
Fortaleza (CE), o PL chegou ao segundo turno, contra o PT, e ficou com 49,72%
dos votos, contra Evandro Leitão, que obteve 50,38%. Isso, para Gonzaga, é um
“avanço”.
“A candidatura do André Fernandes
(PL-CE) foi um fenômeno”, observou. “O grande cabo eleitoral foi o [ex]
presidente Jair Bolsonaro, que só não ganhou em Curitiba (PR), com a Cristina
Graemel (PTB-PR), porque ele não pode ir lá”, continuou.
Na capital paranaense, o PL está
na chapa de Eduardo Pimentel (PSD), que venceu Cristina. Bolsonaro, contudo,
sinalizava nos bastidores um apoio maior à candidata. Mesmo assim, o partido
vencedor continuou pertencendo ao centro.
Além do PT, partidos mais
alinhados à esquerda, como PDT, Avante, PCdoB e PV não tiveram bom desempenho
neste pleito. Isso, conforme o ex-ministro do TSE, demonstra que o "
discurso de esquerda e de centro esquerda está desconectado da população”.
“As pessoas querem
desenvolvimento, não conflito, que veem nas teorias da esquerda”, opina.
Conforme Gonzaga, o eleitor respondeu nas urnas a avaliação que faz do governo
federal. É como se olhassem o governo Lula e dissessem que não querem isso em
suas cidades. Tal escolha, na avaliação dele, também é um recado para as
eleições de 2026, que está direcionada para um aumento da direita e centro
direita”.
Vitória contra o extremismo
A cientista política Paula
Trindade considera que o bom desempenho do centro demonstra a derrota da
extrema direita.
“No primeiro turno, o
bolsonarismo teve uma força relativa, ainda que os partidos de centro tenham
saído vitoriosos”, explica. “Mas, se olharmos para o segundo turno, o
bolsonarismo não teve força praticamente nenhuma. Foi uma derrota da
extrema-direita”, explica.
Isso, no entanto, não significa
uma vitória do PT ou da esquerda, mas que o eleitor rechaçou “os extremismos”,
que podem ir desde a esquerda à direita. “Se falarmos da eleição em São Paulo,
o [Guilherme] Boulos teve uma votação que ficou um pouco aquém do que o
governo, o PT e os partidos de esquerda pensavam. Foi a campanha que o PT mais
colocou dinheiro”, exemplificou Paula.
Boulos, que estava no segundo
turno eleitoral, obteve 40,65% dos votos, perdendo para os 59,35% do atual
prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Conforme a cientista, o psolista perdeu porque o
eleitor “fez um aceno de volta para o centro”.
Apesar de ter o apoio de
Bolsonaro, Nunes é filiado ao MDB e montou coligação com diversos partidos de
centro para se reeleger. O protagonismo do centro também pode ser visto, até
mesmo, em disputas em que o PT saiu vitorioso, a exemplo da eleição de Evandro
Leitão (PT-CE) em Fortaleza (CE).
“Era um candidato do PT que tinha
uma força de partidos de centro, que estavam apoiando”, pontua Paula. “Foi uma
costura que o PT fez um pouco inesperada. Além disso, o [outro candidato] André
Fernandes (PL) também tentou se distanciar do extremismo. Ele não falava do
Bolsonaro, não quis que ele entrasse na campanha porque os extremismos estavam
sendo rejeitados.”
Na disputa em Cuiabá, a
especialista destaca que o candidato do PT, Lúdio, também tentou se distanciar
de Lula. Com 46,20% dos votos, o petista perdeu para o bolsonarista Abilio
Brunini (PL) que obteve 53,80%.
Esquerda vai ter que se
‘reinventar’
O pleito de 2024 demonstrou, em
linhas gerais, que as “esquerdas vão ter que aprender a se reinventar,
atualizar o discurso porque não está mais colando”, afirma Paula. Além disso,
na avaliação da cientista, as presenças de Lula e Bolsonaro não foram “tão
decisivas”, mas, sim, as dos governadores. “Em Goiás, foi o governador Ronaldo
Caiado (União Brasil) e, em São Paulo, foi o governador Tarcísio de Freitas
(Republicanos)”, avalia.
Apesar de reconhecer que as
pautas da direita saíram vitoriosas nessas eleições, a especialista pontua que
elas não estão relacionadas a pensamentos “reacionários” ou ideológicos, mas ao
pragmatismo, que engloba os problemas reais das pessoas. “Não foi o aborto, ou
algo do tipo, que fez alguém ganhar a eleição nesse segundo turno”, afirma.
Já as pautas da esquerda, para
atrair o eleitor nos próximos pleitos, precisa ser “reinventada” do ponto de
vista social, não ideológico. “As pessoas não confiam mais no Estado que vai
dar assistência social. A esquerda tem que aprender a falar com essa nova geração
de pessoas de baixa renda”, finaliza Paula.
R7
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