O julgamento teve início na quarta-feira (30), com oitiva de nove testemunhas ao longo do dia, além do interrogatório de Lessa e Élcio, encerrado às 23h55. Ambos admitiram suas responsabilidades como atirador e motorista, respectivamente, no crime.
O júri, composto por sete homens,
é presidido pela juíza Lúcia Glioche. O Ministério Público do Rio informou que
pedirá a pena máxima para os réus, que enfrentam acusações de duplo homicídio
triplamente qualificado, tentativa de homicídio e receptação do veículo
utilizado no atentado. As penas podem somar até 84 anos de prisão.
Ambos os réus estão presos e
participam do julgamento por videoconferência. Lessa cumpre pena por outro
crime em Tremembé, São Paulo, enquanto Queiroz está detido no Complexo da Papuda,
em Brasília. Detidos desde 2019, os ex-policiais firmaram acordo de delação
premiada. Em depoimento, Lessa confessou ter realizado os disparos que mataram
Marielle e Anderson, enquanto Élcio admitiu ser o motorista do carro utilizado
na emboscada.
A primeira testemunha a ser
ouvida foi Fernanda Chaves, assessora de Marielle, que estava no veículo no
momento do crime, em 14 de março de 2018. Segundo ela, o corpo da vereadora
serviu de escudo e permitiu que sobrevivesse, além de afirmar que não estava
usando cinto de segurança e, ao ouvir os tiros, conseguiu se abaixar.
Em seguida, a mãe de Marielle,
Marinete da Silva, e a companheira da vereadora, Mônica Benício, deram
depoimentos. Ágatha Reis, viúva de Anderson, também foi ouvida.
Durante seu interrogatório, Lessa
confirmou as informações da delação e deu detalhes sobre o crime. Ele explicou
que, se tivesse usado um revólver, Marielle teria sido a única vítima. Segundo
Lessa, o motorista Anderson não era alvo e nem Fernanda, afirmando que acertou
Marielle, ciente do risco de atingir outras pessoas. Lessa disse que Marielle
era “uma pedra no caminho” e mencionou que dois loteamentos, avaliados em R$ 50
milhões cada, estariam envolvidos no motivo do crime, sendo sua parte avaliada
em R$ 25 milhões. Ele afirmou que “ficou cego” diante do potencial lucro.
O ex-policial também pediu
desculpas pelo crime, direcionando o pedido às famílias de Anderson e Marielle,
bem como à sua própria família, a Fernanda e à sociedade, lamentando que não há
como voltar no tempo.
Élcio de Queiroz foi ouvido logo
em seguida, relatando que, até o dia do crime, desconhecia o plano de
assassinato de Marielle e quem ela era. Segundo ele, Lessa o chamou para
ajudá-lo no dia e só então revelou que a vereadora era o alvo. Élcio questionou
se o motivo era financeiro, ao que Lessa respondeu ser uma questão pessoal.
Surpreso ao saber da morte de
Anderson, Élcio afirmou que, por confiar na habilidade de Lessa como atirador,
não imaginava que outras pessoas seriam atingidas. Ele revelou ter torcido para
que algo inesperado impedisse o crime, mas admitiu que, diante do risco, não
tomou nenhuma atitude para evitar o assassinato, a não ser esperar que algo anormal
ocorresse no trajeto.
Além dos réus, prestaram
depoimento: a assessora e sobrevivente Fernanda Gonçalves Chaves, a mãe de
Marielle, Marinete da Silva, a companheira da vereadora, Mônica Tereza Azeredo
Benício, e a viúva de Anderson, Ágatha Reis. Também foram ouvidos o policial civil
Carlos Alberto Paúra Júnior, o policial Luismar Cortelleti Leite, a perita
criminal Carolina Rodrigues Linhares, que teve seu depoimento exibido em vídeo,
o delegado da Polícia Federal Guilherme Catramby e o policial federal Marcelo
Pasqualetti.
Em outro processo, o deputado
federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de
Janeiro Domingos Brazão são julgados como possíveis mandantes do assassinato. A
ação ocorre no Supremo Tribunal Federal (STF) devido ao foro privilegiado de Chiquinho
Brazão. Ambos negam envolvimento na morte da vereadora. Em recente depoimento
ao STF, Domingos Brazão chegou a declarar que “preferia ter morrido no lugar de
Marielle”.
Outros envolvidos respondem pelo
crime, incluindo o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, acusado
de obstruir as investigações, o ex-policial Ronald Paulo de Alves e o
ex-assessor de Domingos, Robson Calixto Fonseca.
Gazeta Brasil
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