Luis García | Wikimedia Commons
O bairro de
Salamanca é uma zona exclusiva da capital espanhola Madri, próximo ao parque
‘El Retiro’. A região se tornou alvo de milionários venezuelanos por cerca de
dez anos. No local, eles adquiriram propriedades em meio a boutiques de grife,
joalherias de luxo e restaurantes exclusivos que abundam na área.
O bairro faz
parte da chamada “Milla de Oro” de Madri, o quadrilátero dourado das compras e
a zona mais cara e exclusiva da capital espanhola. Um metro quadrado não vale
menos que 7.000 euros (cerca de 44.515 reais). Uma casa na área não se encontra
por menos de um milhão de euros (6,3 milhões de reais).
Com esses
valores, os principais compradores de imóveis da região são os
latino-americanos. Os venezuelanos chegaram primeiro e, em seguida, vieram
mexicanos e colombianos, entre outros. Atualmente, a maioria dos compradores
vêm da América Latina, que são responsáveis por quase 60% das novas aquisições
na área, segundo a BBC Mundo.
Os dados são de
Ignacio Calzada, da imobiliária Promora Madrid, especializada em residências de
luxo. Ele diz que os latino-americanos compram casas cujo preço varia de
800.000 euros (5 milhões de reais) a quase 15 milhões euros (95,2 milhões de
reais).
Os primeiros
investidores latino-americanos na “Milla de Oro” foram os venezuelanos. Eles
desembarcaram na capital em busca de um local seguro para seus investimentos. E
Madri foi um destino com vantagens, já que das capitais europeias é a que tem o
menor preço por m².
“É uma cidade
muito competitiva, não só pelo preço do metro quadrado, mas também porque tem
custos de manutenção mais baixos”, disse Mercedes Pulido, gerente de vendas da
Lucas Fox Madrid, outra imobiliária especializada em residências exclusivas.
Camuflagem
de fortunas da corrupção chavista
Essa chegada de
“grandes capitais venezuelanos” a Madri também serviu de camuflagem para muitas
fortunas em decorrência da corrupção chavista.
A Espanha foi
durante anos o destino favorito de vários ex-funcionários do governo socialista
venezuelano transformados em “investidores ricos”. Entre eles, Rafael Ramírez,
Nervis Villalobos e Javier Alvarado, que também teriam comprado propriedades em
Madri.
Uma das
vantagens que a Espanha oferece é o idioma, o que facilita na hora de fazer a
papelada.
O dinheiro
venezuelano veio de grandes grupos que compram edifícios, os reabilitam e
vendem ou alugam apartamentos.
“Houve uma
espécie de efeito cascata, vieram os primeiros investidores venezuelanos, viram
como andava, o que era interessante em Madri, que os preços eram bastante bons
em comparação com Miami, que era a preferência deles”, declarou Pulido.
“Mas há também
o perfil de quem vem a Madri em determinados momentos e a casa fica guardada,
vazia, sem alugar, e depois há os que aqui se instalaram e a têm como cidade de
residência”, continuou.
Certamente
venezuelanos de todas as classes sociais vieram para a Espanha. Segundo dados
do Instituto Nacional de Estatística (INE) da província de Madri, existem
59.074 venezuelanos; 10 anos atrás, havia apenas 8.469.
“O venezuelano
parou por alguns anos”, disse Pulido. “Agora há mais mexicanos do que
venezuelanos, porque também é verdade que os venezuelanos já estão bem
estabelecidos. Agora a tendência é muito mexicana”.
“Golden
Visa” para milionários
Um dos
atrativos para o investidor latino-americano na Espanha é o chamado ‘Golden
Visa’ (Visto Dourado), criado em 2013. É um visto que permite ao estrangeiro
residir na Espanha caso invista em imóveis de valor igual ou superior a 500.000
euros (3,1 milhões de reais).
Essa foi a
estratégia que a ex-enfermeira do ditador venezuelano Hugo Chávez utilizou para
conseguir sua residência na Espanha. Claudia Díaz tem um apartamento em Madri
avaliado em 1,8 milhões de euros (11,4 milhões de reais). O imóvel fica na rua
Monte Esquinza, no também exclusivo bairro de Chamberí, não muito distante de
Salamanca.
Segundo a
Unidade de Crimes Econômicos e Fiscais (UDEF) da Polícia Nacional da Espanha,
esse apartamento foi comprado por Díaz e seu marido, Adrián José Velásquez, com
dinheiro de Raúl Gorrín Belisario, um empresário venezuelano foragido que
atualmente atua como presidente da seguradora Globovisión e La Vitalicia.
Devido ao seu
relacionamento próximo com o governo venezuelano, ele está atualmente sujeito
às sanções dos EUA por causa de um esquema de corrupção que envolve pagamentos
de suborno a ministros do governo da era Chávez. Em novembro de 2019, o
Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) acrescentou Raúl
Gorrín à Lista de Mais Procurados do ICE, acusado de lavagem de dinheiro.
Por Thaís Garcia
Com
informações, BBC Mundo.
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