Edmar contou que o grupo comandado por Witzel planejou tirar os R$ 100 milhões estimados do FINANSUS |
Em delação
premiada, o ex-secretário de Saúde do estado do Rio de Janeiro, Edmar Santos,
declarou à Procuradoria Geral da República que o governador afastado, Wilson
Witzel, planejava comprar a rádio Tupi, com propósitos eleitorais.
Para dar
aparente transparência ao negócio e não levantar suspeitas, Edmar contou que o
grupo comandado por Witzel planejou tirar os R$ 100 milhões estimados do
FINANSUS (Financiamento aos Municípios na Área de Saúde), fundo criado para
atender despesas de custeio dos municípios. Segundo o Ministério Púbico
Federal, a quantia seria repassada para o município de Duque de Caxias, também
envolvido na fraude.
Assim conforme
relatou o ex-secretário de saúde do Rio em documento transcrito pela Polícia
Federal, que a CNN teve acesso, Witzel explicou durante uma
reunião que “o valor retornaria para o grupo para a compra da Rádio Tupi, que teria
um enorme potencial político para o grupo para as futuras eleições”.
Segundo
detalhou Edmar, o esquema seria feito da seguinte forma: o Governo do Estado do
Rio de Janeiro faria o repasse ao munícipio, uma empresa envolvida no esquema
seria contratada para a execução de um determinado serviço e esse montante
seria devolvido para o grupo através dessa empresa.
A reunião, que
teve como objetivo planejar a futura compra da rádio, aconteceu no Palácio
Guanabara, em dezembro de 2019, a portas fechadas entre Witzel, Edmar e o
ex-secretário de desenvolvimento econômico, Lucas Tristão, preso na operação
deflagrada na última sexta-feira. Antes, de acordo com a delação de Edmar, o
então governador Witzel pediu para que “todos deixassem seus celulares e relógios
longe do local de conversa”.
No decorrer da
reunião, Edmar relata que Witzel e Tristão explicam que a “compra se daria por
meio de alguma das empresas de Mario Peixoto e que o município de Caxias foi
escolhido em razão da proximidade deste com Washington Reis (prefeito do
município)”.
O empresário Mario Peixoto, citado na delação de Edmar, é acusado pelo MPF de ser um dos três eixos no esquema de corrupção liderado por Witzel. O empresário está preso desde maio, na operação Favorito, e foi através dessa investigação e impulsionada com a delação de Edmar que deu “nomes aos bois”, que o MPF conseguiu detalhar como funcionava o esquema montado no Palácio Guanabara.
O empresário Mario Peixoto, citado na delação de Edmar, é acusado pelo MPF de ser um dos três eixos no esquema de corrupção liderado por Witzel. O empresário está preso desde maio, na operação Favorito, e foi através dessa investigação e impulsionada com a delação de Edmar que deu “nomes aos bois”, que o MPF conseguiu detalhar como funcionava o esquema montado no Palácio Guanabara.
De acordo com
os procuradores, as provas do relato apresentado pelo ex-secretário foram obtidas
meses antes, com a prisão de Mário Peixoto. Durante as buscas nas
empresas envolvidas no esquema de fraudes, os investigadores encontraram
documentos e uma troca de e-mail entre Alessandro Duarte – acusado de ser um
dos operadores de Mário Peixoto – e um representa da rádio.
Na conversa,
Alessandro pede informações, manifesta interesse pela compra da rádio e diz que
irá repassar os dados para o “grupo interessado”. A CNN fez contato com a
rádio Tupi, mas não obteve resposta.
Enquanto isso,
o plano para a compra da rádio seguia. Como relatou o ex-secretário aos
investigadores, apesar de não haver mais recurso na saúde no final de 2019, “os
valores foram repassados no começo de 2020 em algumas parcelas quebradas: R$ 25
milhões, R$ 10 milhões e R$ 15 milhões”.
A delação do ex-secretário de saúde foi homologada pelo Superior Tribunal de Justiça em agosto. O documento, de 33 anexos, detalha um grande esquema de corrupção montado na Secrtaria de Saúde do Estado e também em outras pastas.
A delação do ex-secretário de saúde foi homologada pelo Superior Tribunal de Justiça em agosto. O documento, de 33 anexos, detalha um grande esquema de corrupção montado na Secrtaria de Saúde do Estado e também em outras pastas.
Em nota, a
defesa de Mário Peixoto informou que “o Ministério Público Federal postulou a
prisão preventiva de Mário Peixoto com base em teoria presuntiva e uma delação
premiada pueril, não respaldada por nenhuma prova. Infelizmente, contrariando o
princípio da presunção de inocência, a prisão foi ilegalmente decretada. O caso
será levado ao Supremo Tribunal Federal, que se encarregará do restabelecimento
da legalidade”.
Em nota a
Prefeitura de Duque de Caxias "esclarece que o prefeito Washington Reis
não é réu na ação penal que motivou o afastamento do governador Wilson Witzel,
bem como ressalta que seu nome é citado apenas três vezes em mais de 120
páginas de petição, citações essas de forma reflexa, sem qualquer conexão ou
envolvimento direto ou indireto com os fatos que ensejaram a denúncia ofertada
pelo Ministério Público.
O Prefeito
refuta qualquer interpretação do texto ministerial que possa sugerir ligação
espúria com os denunciados, ressaltando que suas relações com empresários e
políticos são pautadas por intensos republicanismo e transparência, controle
social e público, e que todas as verbas repassadas pelo Estado ao Município
foram empregadas devidamente, não tendo sido apontada qualquer irregularidade
por parte dos órgãos estaduais e federais de controle, o que ressalta a lisura
das políticas públicas de saúde no âmbito do Município de Duque de
Caxias."
Maria Mazzei
e Elis Barreto, da CNN, no Rio de Janeiro
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