Na imagem, Palácio dos Bandeirantes, localizado na zona sul de São Paulo. Leonardo Wen / Folhapress |
Dizeres
'Bolsonaro assassino' foram escritos em quatro pontos da zona leste da capital
paulista; suspeito visitou Palácio dos Bandeirantes três vezes
O Ministério
Público e a Polícia Civil de São Paulo começaram uma investigação para apurar
possível relação entre o Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo do Estado,
com os autores de pichações feitas em São Paulo (SP) com os dizeres ‘Bolsonaro
assassino’.
As pichações
foram feitas em quatro pontos da capital paulista: três na avenida Alcântara
Machado, números 60, 73 e 4188 A, e um no número 434 do viaduto Engenheiro
Alberto Badra, todos na zona leste. O boletim de ocorrência, feito no dia 14 de
abril, registra a infração contra um homem chamado Pedro de Campos Pereira.
O inquérito
apura crime ambiental de pichação e associação criminosa. De acordo com o
artigo 65 da Lei 9.605/1998, pichar, grafitar ou por qualquer meio conspurcar
edificação ou monumento urbano está sujeito a pena de detenção de três meses a
um ano, além de multa.
Câmeras de
segurança gravaram a ação e a polícia conseguiu reconhecer o veículo utilizado
por dois dos pichadores - trata-se de um celta vermelho placa DIF 4653. O carro
foi identificado em nome de uma funcionária da Infraero. Procurada, a empresa
informou que a servidora prestou informações à polícia, mas negou envolvimento
com o caso, já que o carro em questão, segundo ela, havia sido vendido.
“A funcionária
já relatou para a Infraero, assim como em depoimento para a Polícia Federal, que
não tem participação com o ato, que o veículo utilizado foi vendido e se
encontra em propriedade de terceiros. Ainda, a mesma funcionária se colocou à
disposição para outros esclarecimentos e colaboração com a Justiça”, diz a
nota. A empresa acrescenta, também, que repudia qualquer tipo de crime e se
prontifica a colaborar com a elucidação dos ilícitos praticados.
A coincidência
começa com o carro usado na pichação, que foi visto três vezes no Palácio dos
Bandeirantes, sede do Governo do Estado, neste ano. As visitas constam em nome
de Pedro de Campos Pereira, investigado pela pichação. Um ofício assinado por
Walter Nyakas Júnior, coronel PM secretário-chefe da Casa Militar do Estado de
São Paulo, confirma os ingressos no palácio paulistano.
A peça, obtida
pela reportagem, informa que constam três entradas no ano de 2020 pelo veículo
mencionado (DIF 4653): 29/03, 31/03 e 08/04. “Havendo registro apenas do nome
do motorista, identificado como Pedro de Campos para as três datas, tendo como
destino a recepção de pedestres”, diz o documento.
Procurada, a
Casa Militar confirmou a veracidade do documento. A reportagem questionou,
então, qual eram as razões de cada visita e quem o motorista havia procurado no
Palácio dos Bandeirantes. O órgão se recusou a responder e sugeriu que o pedido
fosse feito via S.I.C (Serviço de Informação ao Cidadão) – a plataforma é
utilizada para informar dados, dever do Estado, por meio da LAI (Lei de Acesso
à Informação). Com isso, uma resposta demoraria, em média, 20 dias para ser
dada. A reportagem questionou o órgão o motivo de não ter respondido a todas as
questões. Mais uma vez, a informação não foi liberada.
Câmera de segurança flagra ação e identifica carro usado por suspeitos. Reprodução |
Uma foto de uma
tela, tirada do sistema de segurança do Palácio dos Bandeirantes e incluída na
denúncia, informa que a primeira visita feita por Pedro de Campos, em 29/03,
ocorreu às 10h05, com saída às 11h17. A segunda, em 31/03, ele deu entrada às
16h52, com saída às 03h08. A terceira, por sua vez, no dia 08/04, ocorreu às
16h43, com saída às 21h55 do dia 10/04. As pichações foram registradas pela
polícia quatro dias depois, em 14/04.
A possível
relação entre os autores da pichação com o Palácio dos Bandeirantes virou alvo
de investigação por agentes do DECAP (Departamento de Polícia Judiciária da
Capital) do 1º DP (Sé) e pelo Ministério Público.
A reportagem
teve acesso a um e-mail assinado pelo promotor de Justiça Alexandre Sodré
Cipolla, que confirma a abertura da investigação pela Promotoria em 10 de
junho. “O Corpo de Apoio Técnico do Ministério Público do Estado de São Paulo
agradece o contato e informa que recebeu sua manifestação, sendo encaminhada à
Central de Inquéritos Policiais e Processos, para apuração e atendimento”, diz
o promotor.
O pedido de
investigação foi feito pelo deputado estadual major Dimas Mecca (PSL-SP), que
solicita apuração também pela Lei 1.802/53, que define crimes contra o Estado e
a Ordem Política e Social, uma vez que os dizeres da pichação envolvem o
presidente da República.
“Eu analiso
essa investigação como a forma mais baixa e cruel de se fazer política. Eu
protocolei diversos requerimentos, mas não foram respondidos pelo Governo do
Estado. A gente quer trabalhar no sentido de que haja transparência, nas
atitudes e ações, mas não é isso que está acontecendo”, afirmou Mecca. “O
Palácio dos Bandeirantes virou o Palácio do ódio?”, acrescenta.
Outro lado
A reportagem
não conseguiu contato com a defesa de Pedro de Campos Pereira. O espaço está
aberto para manifestação e, assim que houver retorno, será acrescentado à
matéria (poaguiar@sp.r7.com).
Procurada, a
SSP (Secretaria de Segurança Pública) disse que, ao longo da investigação,
foram apreendidos celulares, roupas, tintas, um notebook e outros objetos, que
foram encaminhados para perícia. O órgão garante também que o veículo usado na
ação pertence a um dos investigados, mas estava em nome de uma servidora da
Infraero.
Procurado, o
Palácio dos Bandeirantes também se manifestou. Leia, abaixo, a íntegra:
"-
Pedro Campos esteve no Palácio dos Bandeirantes em datas anteriores aos fatos
apontados pela reportagem. Nas duas primeiras visitas (29/03 e 31/03) buscou
realizar uma entrevista jornalística com o secretário de Desenvolvimento
Regional, Marco Vinholi.
- Por conta
da agenda do secretário, a entrevista só ocorreu no dia 8 de abril e foi
publicada no jornal Hora do Povo um dia depois.
- O horário
de saída do dia 8 apontado pela reportagem do Portal R7 está errado. O veículo
Celta deixou o Palácio dos Bandeirantes às 19h28 conforme registros oficiais. É
errado, portanto, afirmar que o veículo permaneceu dois dias no local.
- O deputado
Major Mecca tenta criar fake news com mais uma ilação irresponsável."
Plínio
Aguiar, do R7
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