A principal empresa contratada para o evento, a francesa GL Events, tem mais de R$ 50 milhões a receber dos organizadores |
Segundo MPF,
gastos foram R$ 7 bilhões além do orçamento do evento. Mudas de árvores da
Floresta dos Atletas seguem sem ser plantadas; legado ambiental foi deixado de
lado, diz especialista.
Dois anos
depois, a Olimpíada do Rio ainda tem um legado de dívidas e promessas não
cumpridas. Com gastos R$ 7 bilhões acima do previsto, segundo o Ministério
Público Federal, falta dinheiro para pagar dívidas – ainda nem calculada – e
conseguir cumprir os compromissos assumidos. Promessa dos Jogos, a Floresta dos
Atletas não teve sequer uma muda plantada.
A principal
empresa contratada para o evento, a francesa GL Events, tem mais de R$ 50
milhões a receber dos organizadores, como mostrou o Fantástico no domingo (19).
Sediada na França e com 91 escritórios em todo o mundo, a empresa também atuou
nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
"Encerrados
os jogos, nós ainda temos uma pendência, uma dívida de R$ 52 milhões
aproximadamente. São várias execuções e ações ordinárias cobrando essa
dívida", afirmou Gustavo Gregati, advogado da empresa.
Outra empresa,
a portuguesa Irmafer, teve que reduzir o valor que tinha sido contratado para
conseguir fechar as contas. A empresa construiu o que na época a imprensa do
país chamou de "a maior tenda do mundo", com um refeitório capaz de
receber 7,5 mil atletas. Para ter a chance de receber o dinheiro, teve que que
aceitar a redução.
"O que
estava no acordo de pagamentos, quando começaram os Jogos Olímpicos, não
pagaram mais", relata o dono da Irmafer. "Quando eles diziam que
precisavam de fazer uma negociação para conseguirem pagar, e que nós tínhamos
que ajudar porque eles estavam com muita falta de dinheiro, nós tínhamos que
colaborar, nós fizemos uma redução de milhões de reais para conseguir fechar as
contas", contou Julio, dono da empresa.
A dona da
empresa de alimentação das vilas da mídia internacional lembra que, quando
começou a trabalhar com os organizadores dos Jogos, tudo parecia um sonho.
"Chegar a
um ponto de fazer uma Olimpíada, atender 150 mil pessoas, atender à mídia do
mundo todo, é realmente um sonho, o ponto alto na carreira de qualquer pessoa
que tem uma trajetória como a minha", disse ela. Para conseguir pagar, ela
teve que aceitar uma redução de 20% na dívida.
"Infelizmente
nós atrasamos o pagamento de vários fornecedores, passamos momentos de muito
nervoso. Tive muito pânico de não receber", afirmou ela.
O Comitê
Organizador Rio 2016 diz que até setembro deverá ter os números exatos das
dívidas.
"Estamos
fazendo uma lista de credores, auditando essa lista de credores, esperamos que
até o início de outubro a gente tenha isso tudo pronto. Eu me furtaria a dizer
qual é o valor hoje, em razão de eu estar fazendo esse levantamento", explicou.
"Existem
fornecedores não-pagos, existe dívidas trabalhistas, existem dívidas de
ingressos, existem devoluções de instalações esportivas que a gente ainda tem
que devolver e ajustar algumas coisas. Basicamente esses quatro pontos fazem a
nossa dívida", explicou Ricardo Trade, diretor-executivo do comitê
organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
Leandro
Mitidieri, coordenador do Grupo para os Jogos Olímpicos de 2016 do Ministério
Público Federal (MPF), fez cálculos sobre o gasto acima do orçamento previsto.
"O
orçamento estourou. Chegamos num cálculo a quase R$ 7 bilhões. Então, se for
considerar só as obras ali, estaríamos também num orçamento estourado em cerca
de mais de R$ 3 bilhões",
'Floresta
esquecida'
Na cerimônia de
abertura, o Rio fez a promessa de plantar 13.250 mudas de árvores após a
disputa da competição. Era a aguardada "Floresta dos Atletas", um dos
maiores legados previstos para os Jogos. Dois anos depois, no entanto, nada
aconteceu. O Tribunal de Contas da União cobra o cumprimento das promessas.
Na cerimônia de
abertura dos Jogos, os atletas puseram em tubinhos dentro de um painel sementes
de 207 espécies de plantas nativas da Mata Atlântica. Mais de 40 são de
espécies ameaçadas de extinção. Era o início da Floresta dos Atletas, que seria
plantada em Deodoro, na Zona Oeste.
Até hoje, as
sementes seguem na sede da empresa responsável, à espera do plantio. O contrato
não foi feito para depois da Olimpíada: o orçamento previsto era apenas para a
cerimônia de abertura. Segundo o dono da empresa, enquanto isso, as plantas
seguem crescendo.
"À medida
que a planta vai crescendo eu vou sendo obrigado a mudar ela de embalagem. E
isso só me onera, porque a embalagem é mais cara, o substrato é mais caro, a
mão de obra é mais cara, o transporte vai ser mais caro, tudo vai ser mais
caro", lamenta.
Segundo o TCU,
o plantio tem de ser realizado: "Essa questão na verdade foi apresentada
pelo Brasil na cerimônia de abertura para o mundo inteiro. O TCU está exigindo
o cumprimento desse compromisso firmado pelo país", explicou o secretário
do TCU, Márcio Pacheco.
"Se
isso não for cumprido, isso é um verdadeiro estelionato moral que o país vai tá
fazendo com todos, né? Então isso tem que ser cumprido", diz Pacheco.
Na quarta-feira
(15), houve mais uma reunião no Tribunal para tratar de todas as questões do
legado, inclusive as mudas.
Despoluição
da Baía abandonada
Há problemas
também em outros aspectos do legado ambiental do Rio depois dos Jogos: a
promessa de despoluição de 80% da Baía de Guanabara foi esquecida.
"As
Olimpíadas não deixaram pro Rio de Janeiro um legado ambiental efetivo. A baía
continua poluída, a quantidade de lixo flutuante que a baía recebe ainda é 40
toneladas por dia, a baía ainda recebe 18 mil litros de esgoto por
segundo", lembra o especialista Sérgio Ricardo, do movimento Baía Viva.
Uso das
arenas
Outra cobrança
sobre o legado olímpico era a manutenção e o uso dos espaços dos Jogos no longo
prazo, de modo sustentável. Uma parte desse trabalho ficou com a União, via
Ministério do Esporte, que criou uma autarquia só pra isso: a Autoridade de
Governança do Legado Olímpico (AGLO). Outra parte ficou com a prefeitura do
Rio.
Os espaços
estão ocupados por federações esportivas, competições e eventos e também por
programas sociais.
"No ano de
2017 realizamos 101 eventos, pra mais de 24 mil pessoas. Esse ano, até agosto,
já realizamos 82 eventos pra mais de 24 mil", explicou Patrícia Amorim,
Subsecretária do Legado Olímpico do Município do Rio de Janeiro.
Prefeitura
gasta R$ 4,5 milhões por ano
O plano inicial
do legado previa licitações pra ocupação privada dos espaços. No entanto, dois
anos depois, isso ainda não aconteceu: as licitações fracassaram.
A AGLO afirma
que a previsão de gastos é cerca de R$ 35 milhões por ano nos espaços que
administra; a prefeitura do Rio, cerca de R$ 4,5 milhões.
"A gente
tem que ocupar esse espaço, a população tem que chegar, porque é ela que paga
essa conta, que não para de chegar, então a gente tem que tornar isso aqui
viável do ponto de vista de equilíbrio custo-benefício", disse Patrícia.
Por Eduardo Faustini, TV Globo
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