Homem passa
por barricada de rebeldes na cidade de Masaya,
na Nicarágua, em junho (Foto: Oswaldo
|
Oposição se
manifesta contra repressão do governo a manifestações e pede saída do
presidente.
Uma violenta
incursão de forças policiais e paramilitares a vários povoados no sul da
Nicarágua deixou pelo menos dez mortos e cerca de 20 feridos neste domingo, em
meio à ofensiva do presidente Daniel Ortega contra a onda de protestos que
sacode o país.
Seis dos mortos
são civis, entre eles dois menores, e quatro, policiais do Batalhão de Choque,
segundo o relatório preliminar da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos
(ANPDH).
O ataque aconteceu
na cidade de Masaya, 30 quilômetros ao sul de Manágua, nas comunidades vizinhas
de Niquinohomo, Catarina e no bairro de Monimbó.
"Este é um
informe preliminar. Ainda está em processo de investigação dos nomes e idades
dos mortos", disse à imprensa o presidente da ANPDH, Alvaro Leiva.
De acordo com
Leiva, pediu-se às autoridades que abram uma via para retirar os feridos, o que
não foi autorizado. "Há franco-atiradores localizados em diferentes partes
da cidade. Pedimos à população para se proteger em suas casas", relatou
Leiva.
O carro que
transportava o bispo Abelardo Mata para Masaya foi atacado a tiros por
paramilitares ligados ao governo, mas o religioso está "fora de
perigo", informou a Igreja.
O bispo
Abelardo Mata, um dos cinco líderes católicos que mediam o diálogo entre o
governo e a oposição, "foi interceptado por paramilitares, que atiraram em
seu carro, quebraram os vidros e tentaram queimá-lo", revelou seu
assistente Roberto Petray.
O arcebispo
auxiliar de Manágua, Silvio Báez, disse no Twitter que conversou com Mata e que
"graças a Deus está bem e fora de perigo".
Confrontos
entre partidários e opositores ao governo da Nicarágua deixaram quatro mortos e dezenas de feridos
na sexta-feira (13). Os confrontos ocorreram em meio à greve geral
de 24 horas deflagrada para exigir a saída do presidente Daniel Ortega.
Masaya como
alvo
"Vão
destruir Masaya, está absolutamente cercada", disse à AFP a presidente do
Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez.
A população do
bairro de Monimbó, no sul de Masaya, resiste aos ataques da polícia de choque e
de paramilitares "com pedras e bombas caseiras", afirmou um morador
da região.
"A Polícia
Nacional e parapoliciais encapuzados e armados com AK-47s e metralhadoras estão
atacando nosso bairro indígena de Monimbó. Resistimos com bombas caseiras e
pedras", disse Álvaro Gómez, morador do bairro.
"A
situação é grave e precisamos abrir um corredor para evacuar os feridos",
disse Álvaro Leiva.
Leiva lançou um
pedido de socorro aos bispos da Conferência Episcopal, ao Alto Comissariado da
ONU para os Direitos Humanos e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH).
O secretário da
CIDH, Paulo Abrão, disse no Twitter ter conhecimento da "repressão
violenta à população de Masaya" e que "o Estado parece ignorar o
diálogo" com a oposição.
Organizações da
sociedade civil se dirigem a Masaya a partir de Manágua em uma caravana de
solidariedade, revelou o líder estudantil Lesther Alemán.
O arcebispo
Silvio Baéz disse no Twitter que observadores internacionais "estão indo
para a área das aldeias-alvo e Monimbó para alcançar soluções pacíficas e
proteger a população".
Já o site
governista El 19 Digital informou que "Niquinohomo é território
liberado" de bloqueios, com base na chamada "operação limpeza",
que incluiu Diriá, Diriomo, Catarina e Monimbó.
A incursão
ocorre no meio da ofensiva que o governo empreendeu no início de julho para
"limpar" à força as barricadas que os manifestantes levantaram nas
principais estradas e cidades do país, em meio aos protestos que deixam mais de
280 mortos desde 18 de abril.
O ataque a
Masaya, 30 km ao sul de Manágua, acontece um dia depois de 200
estudantes terem sido libertados com a mediação de bispos católicos, após
passarem 20 horas entrincheirados em uma paróquia diante dos ataques de tropas
governamentais.
Por France Presse
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