Presidente
foi reeleito neste domingo a mais 6 anos no poder, em eleição marcada por
denúncias de fraude, boicote da oposição e alta abstenção.
Nicolás Maduro chegou
ao poder na Venezuela em
março de 2013, como presidente interino, após a morte de seu padrinho político
Hugo Chávez. Em abril daquele ano, foi eleito presidente, por uma pequena
diferença contra o opositor Henrique Capriles, para liderar a "revolução
bolivariana" no país. Hoje, o presidente é visto por opositores como o
protagonista do colapso venezuelano, mas diz ser vítima do imperialismo dos
Estados Unidos e de guerra econômica da direita.
Maduro foi
reeleito para mais 6 anos de mandato após as eleições deste
domingo (20), que tiveram horário ampliado, denúncias de fraude, tentativa de
boicote da oposição, abstenção de 54% e falta de reconhecimento por grande
parte da comunidade internacional.
Nicolás Maduro
é reeleito presidente da Venezuela com quase 68% dos votos
Maduro era
considerava um verdadeiro "revolucionário” por seu mentor Hugo Chávez, a
quem conheceu em 1993. Mas adversários e ex-companheiros o acusavam de
enriquecer empresários amigos e a cúpula militar.
"Foi
subestimado pelos opositores e por muitos chavistas. Mas soube aproveitar os
erros de uns e de outros, conseguindo anular seus adversários dentro e fora do
chavismo", comenta à AFP Andrés Cañizalez, pesquisador em comunicação
política.
"Maduro
passou por uma metamorfose e estas eleições culminam esse processo: poderíamos
estar passando do chavismo ao 'madurismo'. Sem dúvida, está apontando a
consolidar um espaço de poder autônomo", acrescenta Cañizalez.
Trajetória
Ex-motorista de
ônibus, Maduro teve atuação no movimento sindical da categoria. Teve formação
comunista em Cuba nos anos 1980 e viaja com frequência à ilha.
Entre 1999 e
2000 foi membro da Assembleia Constituinte convocada por Chavez e entre 2000 e
2006 foi deputado da Assembleia Nacional.
Foi chanceler
do governo Chávez entre 2006 e 2012, e foi nomeado vice-presidente após a
reeleição de Chávez em outubro de 2012.
Como ministro
de Relações Exteriores, ele foi fiel às ideias diplomáticas do chavismo. Era
considerado, por diplomatas estrangeiros, uma pessoa afável e de trato fácil.
Maduro se
aproximou de Chávez quando o presidente anunciou, em junho de 2001, o câncer
que o acabaria matando.
É casado com a
ex-procuradora Cilia Flores, a quem chama de "primeira combatente" e
com quem dança frequentemente nos comícios. É pai de "Nicolasito",
membro da Assembleia Constituinte de 27 anos, fruto de um casamento anterior.
Imagem e
discurso
Sem o carisma
de Chávez, Maduro tentou imitá-lo em longas aparições diárias na TV, com a fala
popularesca e a retórica anti-imperialista. Mas vem construindo sua própria
imagem.
Autodenomina-se
"presidente operário", dirige sua caminhonete, ri de seu inglês ruim
e de quem o chama de "Ma'burro" por suas mancadas frequentes, dança
salsa, bolero e reggaeton, e é muito ativo nas redes sociais.
Seu discurso
moderado e capacidade negociadora como sindicalista, chanceler e
vice-presidente de Chávez, mudou para os acalorados discursos contra seus
adversários, a quem critica e insulta sem pudores.
Tentando
renovar sua imagem, o mote "Vamos Nico" se impôs em sua campanha,
enquanto diminuíram as referências ao seu mentor.
Em 2013, o
jingle da campanha dizia: "Chávez para sempre, Maduro presidente. Chávez,
eu te juro, meu voto é de Maduro". Hoje, o refrão de um reggaeton
chiclete, diz: "Todos com Maduro, lealdade e futuro. O povo manda com
Maduro".
Segundo as
pesquisas, tem impopularidade de 75%.
Caos
socioeconômico
Durante o
governo Maduro, a Venezuela sofreu ondas de protestos violentos que deixaram
cerca de 200 mortos, uma derrocada socioeconômica e o isolamento internacional
(veja mais abaixo).
Seus
adversários o acusam de empurrar o país para o abismo com medidas econômicas
disparatadas, de submeter o povo à fome e de ser um "ditador",
sustentado por militares.
A tudo isso faz
ouvidos moucos. Diz ser um "presidente democrático" e
"vítima" dos Estados Unidos e a "guerra econômica da
direita", à qual culpa pela hiperinflação e falta de comida. Mas reconhece
estar “mais forte do que nunca”.
"Há cinco
anos, eu era um novato. Hoje, sou um Maduro de pé, experiente com a batalha,
que enfrentou a oligarquia e o imperialismo. Aqui estou: mais forte do que
nunca", descreveu-se durante a campanha para a reeleição.
"Sua
autoridade nasce herdada de Chávez (presidente de 1999 até sua morte, em março
de 2013). Mas agora temos um Maduro diferente, que sabe que é forte e é mais
agressivo", disse à agência AFP Félix Seijas, diretor do instituto de
pesquisas Delphos.
Veja os
principais momentos do governo Maduro:
Cronologia
feita pela agência de notícias France Presse.
2013: O
herdeiro
O líder
socialista Hugo Chávez, presidente desde 1999 e fundador da "revolução
bolivariana", morre de câncer em 5 de março de 2013.
Maduro, ungido
por Chávez como seu substituto, vence as eleições presidenciais de 14 de abril
com 50,62% de votos, contra o opositor Henrique Capriles.
2014: O
primeiro desafio
Em 2014,
liderada por Leopoldo López, a oposição realizou manifestações para reivindicar
a saída de Maduro, com saldo de 43 mortos.
Lopez é preso
em fevereiro daquele ano e condenado em 2015 a quase 14 anos de prisão, acusado
de incitar a violência nos protestos. Em agosto de 2017, ele foi colocado em
prisão domiciliar.
Os preços do
petróleo, que geram 96% da renda do país, caíram para menos da metade,
agravando uma grave escassez de alimentos e remédios.
2015: A
maior derrota
Em fevereiro de
2015, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, acusado de conspirar contra o
governo, é preso. Pouco tempo depois ele vai para a prisão domiciliar e em 2017
foge para a Espanha.
Em março,
Washington impõe as primeiras sanções contra autoridades venezuelanas acusadas
de violar os direitos humanos.
Em dezembro, em
meio ao agravamento da crise, a coalizão de oposição Mesa da Unidade
Democrática (MUD) derrota o chavismo, conquistando
a maioria qualificada do Parlamento.
2016: Choque
de poderes
Tão logo a
oposição toma posse em janeiro, o Legislativo é declarado em desacato e suas
decisões nulas pelo Supremo Tribunal de Justiça (TSJ).
Durante a maior
parte de 2016, a oposição tentou revogar o mandato de Maduro - de seis anos -
por meio de um referendo, e organizou manifestações
para exigi-lo.
Mas o poder
eleitoral e a justiça - acusados pela oposição de servir a Maduro - o
detiveram, alegando fraude na coleta de assinaturas.
2017:
Protestos e Constituinte
O TSJ atribui a
si poderes do Parlamento e em 1 de abril têm início protestos que deixaram
cerca de 125 mortos em quatro meses. A procuradora-geral Luisa Ortega denuncia
uma ruptura da ordem constitucional e meses depois deixa o país denunciando
"perseguição".
No dia 30 de
julho, acontece
eleição de uma Assembleia Constituinte com poder absoluto e
totalmente oficialista, que substituiu o Parlamento na prática e não é
reconhecida por vários governos.
Os Estados
Unidos aprovam sanções econômicas contra a Venezuela e a estatal petrolífera
PDVSA, mais tarde declarados em default parcial.
O chavismo
vence as
eleições para governadores de outubro e as municipais
de dezembro. A oposição denuncia fraudes.
2018:
Eleições antecipadas
Diante de uma
oposição dividida, a Assembleia Constituinte decide
em janeiro adiantar as eleições presidenciais e Maduro é
proclamado candidato do partido no poder.
Um diálogo
entre a oposição e o governo sobre as garantias eleitorais fracassa e o poder
eleitoral fixa as eleições para 22 de abril, data que foi posteriormente
alterada para 20 de maio.
A MUD
decide boicotar a votação, argumentando se tratar de uma
"fraude" para perpetuar Maduro no poder e dar-lhe "aparência de
legitimidade".
O opositor
Henri Falcón, dissidente do chavismo, deixa a coalizão de oposição e lança sua
candidatura.
Os Estados
Unidos, vários países da América Latina e da União Europeia, advertem que não
vão reconhecer as eleições porque não serão livres nem justas.
Por G1
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