No domingo começaram a chegar a Porto Alegre as primeiras caravanas vindas do interior do Rio Grande do Sul e diversos estados do Brasil |
Apesar da
chuva, Porto Alegre começou a mostrar neste domingo os primeiros sinais das
manifestações em função do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva marcado para quarta-feira, 24, no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região
(TRF-4).
A Frente Brasil
Popular, que congrega dezenas de movimentos sociais, sindicais e partidos de
esquerda, começou a montar no início da tarde o acampamento onde os militantes
pró-Lula vão se manifestar desta segunda-feira até o dia do julgamento. O local
designado pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul em acordo
com os movimentos que defendem a absolvição do ex-presidente é um amplo gramado
localizado às margens do rio Guaíba, a cerca de um quilômetro da sede do TRF-4.
Na manhã desta
segunda-feira, 22, cerca de 2,5 mil integrantes da Via Campesina vão se reunir
na BR-116 e seguir em caminhada até o local do acampamento. O percurso é de 7,6
quilômetros, atravessa algumas das principais avenidas da capital gaúcha, e
contará com a presença de João Pedro Stédile, integrante da coordenação
nacional do Movimento dos Sem Terra (MST).
Na tarde deste
domingo, diversos caminhões do 3.º Batalhão de Engenharia do Exército vindos de
Cachoeira do Sul (RS) estavam estacionados no local da concentração. Eles
carregavam tratores e soldados armados com fuzis. As assessorias do Exército e
da Secretaria Estadual de Segurança não foram localizadas mas militares que
estavam no local disseram extra-oficialmente que se trata de uma coincidência e
que a presença das tropas no local não tem relação com as manifestações.
Também no
domingo começaram a chegar a Porto Alegre as primeiras caravanas vindas do
interior do Rio Grande do Sul e diversos estados do Brasil trazendo militantes
que vão se manifestar em defesa de Lula. Muitos deles vão ficar hospedados nas
casas de integrantes de grupos pró-Lula que se dispuseram a abrigar os visitantes.
Outros estão
alojados em sedes de sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores
(CUT). É o caso de um grupo de 120 jovens integrantes da Via Campesina e do
Levante Popular da Juventude que estão acampados na quadra do Sindicato dos
Metalúrgicos do Rio Grande do Sul.
Uma delas é a
argentina Nadya Loscacdo, de 23 anos. Estudante de História da Arte em Buenos
Aires, Nadya integra a organização de esquerda Pátria Grande, que tem vínculos
com o MST, e desde o início de janeiro participa de uma “vivência” no
assentamento sem-terra de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre.
“Para nós na
Argentina é importante defender a democracia no Brasil para barrar o avanço do
neoliberalismo no continente”, disse Nadya.
A estudante
Daniele Cazarotto, 24 anos, filha de assentados do MST nascida em um
acampamento do movimento em Hulha Negra (RS), também estava alojada no local.
“A importância maior dessa manifestação é defender a democracia”, disse ela.
Desde
segunda-feira passada integrantes do Levante têm feito ações em defesa de Lula
na capital gaúcha. Uma delas é o Blocão Cadê as Provas, que percorre bairros da
periferia com uma bateria de escola de samba chamando as pessoas para dialogar
sobre o julgamento de Lula em um tipo de atividade chamado “agitação e
propaganda”.
Na
segunda-feira o grupo fez uma ação no centro de Porto Alegre. Segundo eles, o
ato provocou debates entre pessoas pró e contra o petista, mas sempre de
maneira democrática.
“Houve
interação entre as pessoas com diferentes posições mas sem brigas, como manda a
democracia”, disse Rafael Rodrigues, 27 anos, do Levante.
Durante todo o
domingo sindicalistas ligados à CUT colaram cerca de 5 mil cartazes de apoio ao
ex-presidente nas principais avenidas de Porto Alegre.
Intervencionistas. Na
movimentada esquina das avenidas Mostardeiro e Goethe, no bairro de classe
média alta Moinhos de Vento, dois militantes de um grupo que defende a
intervenção militar se manifestavam embaixo de chuva. A dona de casa Luciana Liska,
47 anos, e um homem que não quis se identificar porque, segundo ele, “a
imprensa toda é do PT”, seguravam bandeiras do Brasil em uma mão e
guarda-chuvas na outra.
Nos 10 minutos
em que a reportagem esteve no local, cinco carros buzinaram em solidariedade à
dupla de manifestantes. Segundo Luciana, a presença deles ali não está
diretamente relacionada ao julgamento de Lula. Eles costumam ir ao mesmo ponto
todos os domingos. Ontem decidiram enfrentar a chuva apesar de a manifestação
ter sido abortada por causa do mau tempo.
“Precisamos dos militares porque quase todos os políticos estão envolvidos em corrupção. A gente não tem mais onde recorrer”, disse a dona de casa.
“Precisamos dos militares porque quase todos os políticos estão envolvidos em corrupção. A gente não tem mais onde recorrer”, disse a dona de casa.
A Secretaria de
Segurança vai anunciar nesta segunda-feira o plano de ação para evitar incidentes
durante o julgamento mas, segundo ela, alguns Centros de Tradições Gaúchas
(CTGs) do interior estão preparando cavalgadas até Porto Alegre e devem se
concentrar no parque da Marinha, a poucas dezenas de metros do acampamento dos
movimentos pró-Lula.
© Ricardo
Galhardo/Estadão A militante pró intervenção militar Luciana Liska segura
uma bandeira do Brasil no bairro de classe média alta Moinhos de Vento, em
Porto Alegra.
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