Antonio Palocci (Sergio Dutti/Estadão
Conteúdo)
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Vantajoso, acordo com grupo dos
irmãos Batista pode incentivar outros suspeitos a delatarem 'antes de serem
acordados pela Polícia Federal ao nascer do sol'
A delação dos executivos do Grupo
J&F deve abrir uma nova temporada de acordos de colaboração premiada na Operação Lava Jato. Investigadores
e advogados esperam um crescimento no número de candidatos a colaboradores, em
especial políticos e assessores, que podem ampliar denúncias contra o
presidente Michel Temer (PMDB),
o PT e os
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva e Dilma Rousseff (PT).
São cerca de quinze negociações em
andamento apenas em Curitiba, origem da força-tarefa que apura esquema de
corrupção na Petrobras. A expectativa é que os ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega possam delatar aos
procuradores da Lava Jato repasses ilícitos à campanha pela reeleição em 2014,
implicando PT e PMDB, que encabeçaram a chapa. “A delação da JBS, pela
amplitude política de suas revelações, deve gerar uma avalanche de procura por
acordos”, avalia o procurador Carlos Fernando do Santos Lima, integrante da
força-tarefa da Lava Jato no Paraná.
Com 158 acordos de delação e dez
de leniência – equivalente a delação para pessoas jurídicas – fechados em pouco
mais de três anos de investigações da Lava Jato, o recado implícito no acordo
dos irmãos Wesley e Joesley
Batista, segundo os delatores, foi claro: quem procura o Ministério
Público Federal (MPF) primeiro,
obtém mais benefícios.
Procuradores da força-tarefa da
Lava Jato em Curitiba e Brasília, ouvidos pela reportagem, avaliam que as
negociações de novas delações sofrerão um “efeito Odebrecht-J&F”. O acordo
assinado com os irmãos Batista, criticado pelos benefícios concedidos, rende
até 2 mil anos de perdão das penas.
“Imagine quantos corruptos não
devem estar pensando ou conversando com seus advogados sobre as vantagens de se
adiantar e procurar o MPF para contar o que sabem, antes de serem delatados por
comparsas, ou de serem acordados pela Polícia Federal ao nascer do sol. O
recado é que a água está limpa para quem chega primeiro”, afirmou o procurador
da República Helio Telho Corrêa Filho, do Núcleo de Combate à Corrupção no MPF,
em Goiás.
A fila
Na fila dos candidatos a delatores da Lava Jato em
Curitiba, estão, além de Palocci e Mantega, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o
ex-presidente da OAS José
Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Leo Pinheiro, e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Desses,
só Mantega não está preso – ele chegou a ser detido em 22 de setembro, na 34ª
fase da força-tarefa, mas foi solto um dia depois.
Apontados por executivos e
ex-executivos da Odebrecht e J&F como responsáveis pelas “contas” de propinas
destinadas aos governos Lula e Dilma, que chegaram a ter saldo de mais de 500
milhões de reais segundo relatos de delatores, Palocci e Mantega são
considerados dois “homens-bomba” da República, que podem duelar indiretamente
para ver qual deles fecha antes um acordo. Os recursos, segundo os
colaboradores, eram destinados para políticos, partidos e campanhas, entre 2004
e 2014.
A delação da J&F, homologada
no mês passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi
decisiva para que os petistas passassem a ser vistos como “delatores
concorrentes”. Para a Lava Jato, não há espaço para Palocci e Mantega fazerem
acordos de colaboração simultâneos. Conseguirá obter o benefício aquele que
revelar mais fatos e apresentar o maior número de provas de corroboração.
Negócios
De acordo com a força-tarefa,
Palocci e Mantega seriam também peças importantes para aprofundar investigações
sobre o envolvimento de bancos no esquema de corrupção descoberto, além de
fornecer a lista de empresas e negócios abarcados nos crimes. Palocci – preso
em 26 de setembro, na 35ª fase – tem proposta em consolidação, após contratar
dois advogados de Curitiba, especialistas em delações premiadas, Adriano Bretas
e Tracy Reinaldet. A defesa de Palocci não foi localizada para comentar o
assunto.
O criminalista Fábio Tofic,
defensor de Mantega, negou que seu cliente negocie um acordo. “Se alguém me
provar que algum advogado esteve no Ministério Público em nome de Guido Mantega
para negociar delação premiada, eu abandono o caso”, afirmou o advogado.
O MPF informou que não comenta
acordos e investigações em andamento. Os ex-presidentes Lula e Dilma, por meio
de seus advogados, têm negado envolvimento em crimes e recebimento de propina.
O presidente Michel Temer afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que
nunca recebeu qualquer dinheiro ilícito.
(Com Estadão Conteúdo)
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