O ex-senador
Delcídio do Amaral, um dos delatores da
Operação
Lava Jato (Adriano Machado/Reuters)
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Senador, que é delator da Operação
Lava Jato, depôs nesta quinta-feira ao juiz federal Marcelo Bretas no processo
da Operação Saqueador
O ex-senador Delcídio do
Amaral disse hoje, em depoimento ao juiz da 7ª Vara Federal Criminal
da Justiça Federal no Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, que a Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira sofreu um esvaziamento por
orientação do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. A comissão
foi instalada em abril de 2012 para apurar o envolvimento do contraventor
Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira,
com políticos e agentes públicos. Delcídio foi ouvido no processo da Operação
Saqueador.
“O governo percebeu, nitidamente,
que era uma CPI que poderia trazer problemas e, consequentemente, como todo
governo faz, não é só aquele governo à época, mas outros também o fizeram,
quando há risco, abafa”, acrescentou à imprensa após o depoimento.
Delcídio não citou o nome da então
presidente, mas disse que, por questões políticas, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva incentivou a criação da CPMI. O ex-senador disse que a comissão
foi instalada no “sentido de justiçar”, o que tinha sido feito na CPMI dos
Correios.
“Ele [Lula] foi um dos
incentivadores dessa CPI, porque atingiria líderes de oposição fortes que
estavam em Goiás, porque era uma visão territorial. Uma CPI restrita aos
líderes do estado de Goiás, o que não aconteceu”, disse. “[Incentivou] no
sentido de que se assinasse, para que se tivesse o número de assinaturas
necessárias, que tinha que investigar e assim foi feito. Depois das
consequências todas que vieram, o próprio governo agiu no sentido de tirar o
pé”, completou.
Segundo Delcídio, a CPMI foi
criada para atingir o atual governador de Goiás e ex-senador, Marconi Perillo
(PSDB) e o senador Demóstenes Torres, que pertencia à bancada do DEM-GO e foi
cassado em 2012 após denúncias de que recebia recursos de Cachoeira. “Diz que
chumbo trocado não dói e então o chumbo voltaria. Só que aí, quando perceberam,
o chumbo não estava voltando. O chumbo ia bater em quem estava querendo se
vingar e esvaziaram a CPI”.
Reuniões de bancada
Ainda no depoimento, acompanhado
pelos procuradores da República, Leonardo Freitas, coordenador da Operação Lava
Jato no Rio; e Sérgio Pinel, Delcídio contou que não era membro da CPMI e que
sua participação na comissão foi apenas de acompanhamento dos trabalhos como
senador. Ele acrescentou, no entanto, que em reuniões de bancada da base de
apoio ao governo o assunto era discutido com preocupação de novos
envolvimentos.
“Falavam que, com as quebras de
sigilo, outras empresas apareceram e aí poderiam aparecer contribuições de
campanha ligando essas contribuições de campanha com várias obras em andamento.
Aí acho que foi por este motivo que resolveram esvaziar e a CPI terminou,
melancolicamente, sem resultado nenhum”, revelou, acrescentando, que tinha
orientações de líderes da base do governo.
A Operação Saqueador investiga o
esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro no valor de 370
milhões de reais. Além dos principais acusados, Fernando Cavendish, antigo dono
da Construtora Delta, e Carlinhos Cachoeira, foram denunciadas 21 pessoas,
entre os quais os empresários Adir Assad e Marcelo Abbud.
“Eu ouvi falar nesses nomes todos
à época que estourou a CPI, mas não tinha detalhes. Como disse no meu
depoimento, não dava nem tempo. A gente tem muitas atividades. Quem conhece o
que acontece em uma CPI, normalmente, é quem é titular ou que é suplente”,
disse.
Operação Leviatã
Após o depoimento, Delcídio do
Amaral ainda comentou a Operação Leviatã, deflagrada hoje pela
Polícia Federal para aprofundar as investigações sobre suposto esquema de
desvio de recursos das obras de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte
e pagamento de propina a partidos políticos. Em sua delação premiada, Delcídio
tinha apontado o senador Edison Lobão (PMDB-MA) como um dos envolvidos no
esquema.
“Quando eu fiz esse depoimento,
fiz questão de dizer que era um depoimento político, que seria complementado
por outras colaborações. Acredito que este depoimento foi complementado por
outras colaborações que ratificaram o que eu tinha dito”, disse. “Eu sabia o
que tinha acontecido, tanto é que fiz questão de registrar ao Ministério
Público que com outras colaborações que viessem isso iria se fechar. Acredito
que dentre as colaborações, a da Andrade Gutierrez deu a consistência
necessária para esta operação de hoje”.
(com Agência Brasil)
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