Produtor adota técnicas
agroecológicas e festeja o cultivo de videiras na Baixada Litorânea
Quando se fala em produção de uvas
no Brasil, automaticamente lembramos das paisagens de clima frio no sul do
país, onde o cultivo ficou conhecido, principalmente, em razão da
colonização italiana. Cem anos depois, as videiras ganharam espaço na zona
rural de outros estados, de clima mais quente, como o Rio de Janeiro. E o mais
inusitado: agora as parreiras estão carregadas de cores e aromas a menos de 20
quilômetros das praias fluminenses.
Vários motivos explicam essa
novidade: a escolha da variedade adequada à região, o estudo da qualidade da
água, bem como a fertilidade e conservação do solo. “Geralmente, a vegetação de
cobertura das plantações de uva são baixinhas. Na Região dos Lagos, o
produtor faz apenas a roçada. As plantas espontâneas, habitualmente
descartadas, são reutilizadas, pois vão formar uma camada que protege e nutre a
terra, garantindo mais saúde para as videiras”, explica Cíntia Cruz,
extensionista rural da Emater-Rio e técnica executora do Rio Rural,
programa da Secretaria estadual de Agricultura, que promove a sustentabilidade
nas lavouras fluminenses.
“As pessoas não acreditavam que
seria possível produzir uvas nessa região. Hoje, estão encantadas.
Vem gente de
várias cidades fazer visitação”, comemora o agricultor Márcio Parud, do sítio
Recanto da Uva, na zona rural de Rio das Ostras, Região dos Lagos Fluminense.
Márcio está no terceiro ano de cultivo da uva Niágara Rosada, uma das mais
populares nas prateleiras dos supermercados. Ele produz duas toneladas do fruto
por ano.
Marcio
Parud, da Regiao dos Lagos, esta animado
com o
cultivo de uvas. (Divulgação)
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Combate às pragas
O viticultor se prepara para fazer
em breve a transição agroecológica, processo de passagem da agricultura
tradicional para o cultivo com tecnologias de base ecológica. Uma das
técnicas que ele vem adotando com sucesso é o monitoramento integrado de
controle de pragas e doenças. A ideia é diminuir gradativamente o uso de produtos
químicos na lavoura. Sempre que necessário, soluções alternativas de controle
de pragas são utilizadas. Um exemplo é calda bordalesa, mistura de água, cal
virgem e sulfato de cobre.
“Todo dia observo as folhas para
ver se aparecem fungos. Se for algo pequeno, retiro a folha para não contaminar
as outras. Se tiver potencial de causar prejuízo financeiro, uso fungicida, mas
tenho aumentando mais o intervalo entre as aplicações. Uma coisa é certa: a
calda bordalesa é bem melhor para o meio ambiente”, argumenta o produtor.
O uso de caldas alternativas é uma
das práticas incentivadas pelo Rio Rural que, além de ser ecologicamente
recomendável, reduz os custos de produção. "Uma vez que o agricultor
familiar deixa de fazer as aplicações contínuas de agrotóxicos, ele economiza,
pois diminui a mão de obra e também porque deixa de comprar os defensivos em
grande escala. Além disso, as caldas alternativas não agridem os lençóis
freáticos. O uso sustentável da terra é garantia de mais água para todos",
ressalta o secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo.
Neto de pescadores e agricultores,
Márcio Parud se preocupa com a questão ambiental também em razão do
público consumidor. A ideia dele não é levar mais pessoas ao supermercado para
apenas comprar o produto já colhido, mas trazê-las à propriedade por meio do
turismo rural. “Meu sonho é mostrar às novas gerações que é possível produzir
alimento saudável e de mãos dadas com a natureza”, comenta.
Com o sucesso da produção da uva
de mesa, o agricultor se animou e está produzindo 250 pés da variedade Isabel,
indicada para a produção de vinhos, sucos e geleias, pois essa uva
tem um nível mais elevado de acidez.
A versatilidade da uva
O clima tem forte influência sobre
a videira. Segundo o engenheiro agrônomo e especialista em viticultura, Leandro
Hespanhol, no clima frio ela entra em dormência para suportar as baixas
temperaturas. Na prática, isso aumenta o tempo entre a poda e a colheita. Em
regiões mais quentes, não há dormência, permitindo a realização de duas
colheitas por ano.
Para quem
pretende “surfar” nessa nova onda, Hespanhol orienta que, apesar do
calor parecer um dos maiores entraves à produção de uvas em áreas quentes, como
é o caso das zonas costeiras – já que a temperatura ideal para o cultivo de uva
varia entre 15ºC e 30ºC –, a água e o solo é que merecem maior
atenção.
“Não basta apenas selecionar uma
ótima variedade para clima quente. Perto do mar, é comum a presença de água e
solo com altas concentrações de sal, o que pode inviabilizar o processo
produtivo. Outro fator importante é a adubação orgânica. A técnica permite um
melhor desenvolvimento das raízes e, por consequência, melhor absorção de
nutrientes, além de manter a terra mais úmida”, detalha o especialista.
As chamadas uvas de mesa, consumidas in
natura, como a Niágara Rosada, são mais indicadas para climas quentes
e úmidos em virtude de sua boa adaptação ao clima, além de serem mais
resistentes às pragas e doenças. No Norte e Noroeste Fluminenses, regiões
também conhecidas pelas altas temperaturas o ano inteiro, a viticultura está em
expansão. Destaque para as cidades de Cardoso Moreira e Bom Jesus do
Itabapoana, com maiores safras.
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