A presidente
afastada, Dilma Rousseff, faz sua defesa durante
sessão de julgamento do impeachment no Senado
(Ueslei
Marcelino/Reuters)
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Presidente afastada fez discurso
político e abusou do "dilmês" nas respostas a senadores. Nada que
preocupe o Planalto
Às 23h48 desta segunda-feira o
presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, encerrou a sessão
em que a presidente afastada Dilma Rousseff apresentou sua defesa no processo
de impeachment a que responde por crime de responsabilidade. Foram longas 14
horas de oitiva, em que a petista respondeu a perguntas de senadores e também
da defesa e da acusação. Antes do interrogatório, Dilma discursou por 45
minutos – e reprisou a cantinela petista de ‘golpe’. Sob o olhar de Lula, Dilma
também atacou a gestão Temer e retomou o discurso do medo com que se elegeu em
2014.
Embora tenha discursado com rara
firmeza, Dilma foi Dilma em estado bruto na sequência: enrolou-se na retórica e
se perdeu no próprio raciocínio por diversas vezes. Chegou a se referir ao
presidente americano Barack Obama como “senador” e ao ex-presidente da Câmara
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como presidente da Câmara dos Vereadores. Mal
disfarçava a cara de tédio ao ser questionada pelos parlamentares. Também
culpou o cenário internacional pela grave crise econômica em que sua desastrada
gestão submergiu o país e atacou o que chamou de “uso ideológico” da delação
premiada.
Ao longo das horas em que falou,
Dilma foi dura com o Congresso e chegou até mesmo a responsabilizar os
parlamentares por ter inviabilizado seu governo, com a colocação de
pautas-bomba em votação. Como de praxe, nenhum mea-culpa de fato – nem para
tentar sensibilizar os senadores. Em alguns dos momentos mais tensos da sessão,
Dilma esteve frente a frente com os tucanos Aécio Neves (MG), derrotado por ela
nas eleições de 2014, e José Aníbal (SP), seu companheiro de luta armada e a
quem conhece há 50 anos. Se com Aécio trocou alfinetadas sobre o pleito, a
Aníbal a petista disse estar “estarrecida” com o fato de ele ter antecipado que
votará pelo impeachment.
A tropa de choque de Dilma também
não perdeu a oportunidade de subir à tribuna. Em um dos mais inflamados
discursos, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que a política não veste
saias. “Ela ainda é um ambiente misógino”. E prosseguiu: “O que nos dá o
direito de julgá-la, de apontá-la os dedos, se a crise econômica que assola
esse país teve muito desse Congresso?”. Já Lindbergh Farias (PT-RJ) culpou Temer
e Cunha pelo processo – e se referiu à sessão da Câmara que aceitou a denúncia
como “assembleia de bandidos”.
O presidente em exercício Michel
Temer acompanhou o discurso da petista no Palácio do Jaburu, acompanhado do
ministro da Casa Civil Eliseu Padilha. Interlocutores de Temer classificaram a
fala de Dilma como “fraca politicamente” e avaliam que o discurso não tem o
poder de mudar votos. Ainda cedo, chegaram à residência oficial de Temer os
ministros da Secretaria Geral, Geddel Vieira Lima, o interino do Planejamento,
Dyogo Oliveira, e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo
Cedraz. Assessores palacianos avaliam que Dilma mostrou nas respostas aos
congressistas a sua “crônica incapacidade de verbalizar e construir suas
ideias”. Todos se dizem convencidos de que os votos computados anteriormente
estão “totalmente preservados”.
Como informa a coluna Radar, o
discurso de Dilma deixou claro que ela “jogou a toalha”, na opinião de
senadores. Aliados do presidente interino passaram a dizer nos corredores do
Senado que pouco importa o placar final do impeachment. Em comparação com a
Olimpíada, diziam que, diferentemente dos Jogos, no Senado não se premia com
medalha de prata, nem bronze. Temer pode vencer pelo mínimo de votos necessário
que leva o ouro. Também nos bastidores senadores petistas afirmam que a
participação de Dilma foi importante para o registro histórico, mas
dificilmente mudará o placar da votação final. Dilma precisa de 28 votos para
barrar o impeachment. Na votação que a tornou ré, obteve apenas 21. Aliados do
presidente em exercício calculam que cerca de 60 dos 81 senadores vão votar
pelo afastamento definitivo da petista.
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