ENTREATOS -
Lula com militantes sem-terra em Pernambuco,
na semana
passada: maior inclinação para reminiscências
(Cristiano Mariz/O ocaso de Lula:
desprestígio, abandono e suspeitas)
|
Seis anos depois de deixar o
poder, petista convive com o descrédito político, o sumiço dos amigos e os
inquéritos da Lava Jato
Às 7h50 da última quarta-feira, um
segurança do ex-presidente Lula chegou ao Aeroporto Oscar Laranjeira, em
Caruaru, no agreste de Pernambuco. Diligente, comunicou que um Gulfstream G200,
avião executivo de luxo e alta performance, estava a caminho da cidade. Minutos
depois, dois representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) e o vice-prefeito Jorge Gomes (PSB) estacionaram seus carros no local.
Estavam apreensivos, porque não havia militantes para oferecer uma recepção
calorosa a Lula. “Eles vão chegar. Pode ficar tranquilo”, disse um dos líderes
do MST ao segurança, tentando amenizar a tensão. Uma hora mais tarde, só oito
pessoas aguardavam o ex-presidente. “Vamos partir para o plano B. Acho melhor
receber o Lula no hotel. Manda o pessoal para lá”, ordenou o guarda-costas. Em
seguida, ele trancou a porta de entrada do saguão do aeroporto, que é público,
para evitar que alguém fotografasse o deserto que aguardava Lula, aquele que já
foi um dos políticos mais populares do mundo. “O cara”, como disse o presidente
americano Barack Obama, numa ocasião em que se encontraram.
Lula desembarcou às 9h13
acompanhado do senador Humberto Costa (PT-PE). Driblou as poucas pessoas
curiosas que o aguardavam e deixou o aeroporto pelos fundos. “Pensei que ele
fosse ao menos pegar na minha mão e me cumprimentar”, reclamou Augusto Feitosa,
funcionário do aeroporto. Os tempos são outros. A popularidade e o prestígio de
Lula também. Caruaru é testemunha dessa transformação. Em 27 de agosto de 2010,
o então presidente desembarcou no mesmo Oscar Laranjeira ao som de uma
orquestra formada por estudantes de uma escola pública. O saguão estava lotado.
Sorridente, Lula abraçou eleitores e posou para fotos ao lado de autoridades
como Fernando Haddad, então ministro da Educação, hoje prefeito de São Paulo, e
a então primeira-dama do Estado de Pernambuco, Renata Campos. Em seu último
ano de mandato, Lula beneficiava-se do crescimento econômico, que atingiu 7,5%
em 2010. Nem o céu parecia lhe servir de limite. “Se a gente continuar mais dez
anos do jeito que está, daqui a pouco chega a Caruaru e pensa que está em
Paris, em Madri, de tão chique.”
Caruaru continua Caruaru. Figura
entre as doze piores cidades para viver no Brasil. E Lula deixou de ser Lula.
Lidera no quesito rejeição entre os nomes cotados para disputar a Presidência
em 2018. Na quarta-feira passada, Lula discursou em Caruaru num auditório com
capacidade para setenta pessoas. A plateia era formada por militantes do MST e
da CUT, que preferiram tomar o café da manhã do hotel a esperar o petista no
aeroporto. A programação previa uma coletiva de imprensa. Não ocorreu. Só Lula
e áulicos falaram. Mas o ex-presidente mantém um fotógrafo e uma equipe de
documentaristas, sempre a postos para captar as melhores cenas. Enquanto estava
no hotel, um militante rompeu o cerco de seguranças e tirou uma foto com Lula,
mas a equipe do ex-presidente o obrigou a apagá-la. A imagem mostrava uma
garrafa de uísque ao fundo. Não pegaria bem nas redes sociais, foi a
justificativa apresentada.
Depois do evento, Lula saiu pela
garagem, num carro com os vidros fechados, e percorreu um trajeto de apenas 400
metros até o trio elétrico que o esperava para um novo discurso. “Ele parece
estar meio distante do povo, com um olhar desconfiado”, observou a funcionária
pública Conceissão Pessoa. Em cima do trio elétrico Pantera Fashion, Lula
discursou para 2.000 pessoas. Cinco ônibus, com capacidade para cinquenta
passageiros, foram fretados por 1.000 reais cada um, pagos em dinheiro vivo,
para postar a claque diante da estrela petista. A programação da semana
passada, por exemplo, previa uma passagem pela cidade do Crato, no Ceará, onde
ele receberia o título de doutor honoris causa da Universidade
Regional do Cariri. A segurança fora informada de que estava sendo organizado
um protesto de alunos contra a concessão da honraria. A visita foi cancelada.
Em Caruaru, Lula foi ainda a um
assentamento agrário do MST. Uma banda de pífanos, também contratada por cerca
de 1.000 reais, animou a festa. À mesa, famílias convidadas puderam se servir
de macaxeira, jerimum, cuscuz, carne guisada e suco de acerola. Lula bebia
cachaça e água. Estendia o braço direito para o alto, com o punho cerrado, e
discursava contra o “golpe” que derrubou Dilma. No fim da tarde, às 17 horas, o
ex-presidente partiu para o Recife no avião de prefixo PR-WTR, o mesmo que as
empreiteiras Odebrecht e OAS usavam para transportá-lo ao exterior. À noite, na
capital pernambucana, num evento em praça pública, Lula criticou o presidente
interino Michel Temer e o juiz Sergio Moro, que em breve julgará um pedido de
prisão contra ele. Falou à plateia e também à equipe que produz um documentário
sobre o “golpe”. Com a chuva, os militantes começaram a se dispersar, e Lula
teve de encerrar o espetáculo.
Por Thiago Bronzatto, de Caruaru, e Daniel Pereira
Veja.com
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!