Oposição se articula para
viabilizar as candidaturas avulsas na comissão especial do impeachment; governo
já diz que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal
O governo deve recorrer ao Supremo
Tribunal Federal (STF) para barrar uma possível manobra articulada pela
oposição que tenta, a partir de uma alteração no regimento interno da Câmara,
viabilizar as candidaturas avulsas na comissão especial que analisará o pedido
de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), adiantou que provavelmente entrará com embargos de declaração
no Supremo a fim de ter clareza sobre o alcance da decisão da corte da semana
passada que definiu o rito do processo envolvendo a petista.
Os dois possíveis movimentos são
mais um lance no embate que pode levar, de novo, as regras do processo do
impeachment para o STF. O governo saiu vitorioso ao ter a maioria das suas
teses aceita pelo Supremo na semana passada. A oposição, por outro lado, aposta
em regras mais favoráveis para a votação do impedimento da presidente ou, numa
estratégia alternativa, adiar a apreciação do caso ao máximo a fim de garantir
maior apoio popular para afastar Dilma.
No julgamento sobre o rito, a
maioria do STF entendeu não ser possível a formação da comissão especial a
partir de candidaturas avulsas. Foram elas que permitiram a eleição de uma
chapa de deputados mais favorável ao impedimento da presidente. Segundo o
Supremo, caberia somente aos líderes partidários a decisão de fazer essas
indicações.
Cunha pretende discutir nesta
segunda-feira, na reunião de lideranças partidárias, o projeto do líder do DEM
na Casa, Mendonça Filho (PE), que altera o regimento interno para prever que
serão admitidas tanto as indicações dos líderes partidários "como
candidaturas avulsas oriundas do mesmo bloco ou partido" para eleger membros
da comissão.
Para Mendonça Filho, embora o
atual regimento não preveja as candidaturas avulsas, ele pode ser alterado para
garanti-las. Ele avaliou que as indicações para a comissão feita pelos líderes
- conforme decisão do Supremo - podem ser rejeitadas na votação em plenário.
Essa recusa pode levar a um impasse, uma vez que não teria como fechar todos os
nomes da comissão. "Decisão do Supremo tem que ser respeitada, mas elas
não são eternas", disse.
Para os defensores de Dilma, uma
mudança no regimento interno estaria em desacordo com a posição do STF.
"Se estão querendo forçar a mão para atropelar a decisão do Supremo e
afastar a presidente Dilma sem provas, vai cair no Supremo de novo",
afirmou o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. "A escolha por chapa
avulsa não é possível porque fere a autonomia e a fidelidade partidárias
previstas na Constituição", disse o advogado que representa o PT, Flávio
Caetano.
'Sobrepujar' - Dois
ministros da corte ouvidos pela reportagem disseram que, ao menos para o rito
do impeachment, não é possível fazer nenhuma alteração para viabilizar
candidaturas avulsas. "É tentar sobrepujar um pronunciamento do
Supremo", disse Marco Aurélio Mello. "Para casos futuros pode até
haver mudanças, mas não acho que o tribunal aceitaria para o impeachment",
afirmou outro ministro, reservadamente.
O líder do governo na Câmara, José
Guimarães (PT-CE), descartou a possibilidade de o projeto de Mendonça entrar em
discussão nesta segunda. "O Congresso já está em recesso. Está parado, não
vai ter nada". O último dia de trabalho parlamentar antes do recesso é
nesta terça-feira.
Eduardo Cunha disse ainda não ter
conversado com os advogados da Câmara nem analisou a decisão do Supremo para
tomar uma posição. "Não debati ainda, não vi a ata, só hoje estudarei uma
posição", disse. Ele não quis comentar a possibilidade de o governo
preparar para um "contra-ataque" antecipado.
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